ANTÓNIO ALTE PINHO – LIBERAL, opinião
Já se percebeu que não há crise nenhuma. Os cafés continuam cheios e, ao almoço, as irritantes filas dos restaurantes não nos dão sossego. Os comerciantes, esses, de tanto ganharem até já fecham mais cedo e, quando se trata dos mais afortunados, até encerram definitivamente. Nunca se ganhou tanto dinheiro e a Economia nunca esteve tão activa, que o digam os empresários que, por algum fenómeno inexplicável, já estão podres de ricos, e os empregados sem saber o que fazer com tanto salário a sobrar no final do mês…
As más-línguas vêm sempre falar no desemprego crescente. Mas qual desemprego?! Não há desemprego nenhum, há gente que não quer trabalhar, uns madraços armados em extravagantes que preferem viver em casas a cair aos bocados – por vício e bizarrice – do que habitar os apartamentos do “Casa para Todos”. São opções de vida…
Crise?! Isso, meus caros, só no terceiro mundo: na Europa, nos EUA e por aí fora. Em Cabo Verde – queiram ou não os mais cépticos – estamos blindados. Sim, imunes a qualquer desgraça, a qualquer tsunami financeiro. Porque, como é sabido, aquela sumidade das Finanças e o seu chefe já tinham previsto tudo. Sim, porque aquilo é que são inteligências, quais prémios Nobel da Economia, qual quê?! Aquelas duas criaturas é que a sabem toda.
Pronto, está bem, há por aí uns gananciosos que ainda querem mais, por isso é que pediram ao chefe que cortasse aos luxos dos empregados, às mordomias, aos salários obscenos de tão elevados… Mas algum deles - desses senhores respeitáveis - disse ao chefe que ele estava enganado, que andava para aí a endrominar os otários? Qual quê?! Limitaram-se a reconhecer que, afinal, não há crise nenhuma. Algum deles teve a coragem de dizer qualquer coisa como isto: “ouça lá, você está a gozar com a malta?” Não!
Porque, como se sabe, a crise, a haver alguma – e já começo a ter dúvidas -, é “internacional”. Melhor dizendo: há uma crise no geral, mas não há crise em particular… Perceberam? E quem disser o contrário, está visto também, só pode estar a soldo de uma qualquer conspiração contra o chefe. Porque, minhas senhoras e meus senhores, quem está contra o Governo não é patriota, quem ousar criticar o chefe e a sumidade das Finanças, ou não tem um pingo de cabo-verdianidade nas veias ou é estrangeiro. Sim, como essa gente dos sindicatos, já se vê, uns invejosos que só querem é desestabilizar, uns vende pátrias a soldo do terrorismo internacional, da subversão demoníaca, da anarquia inter-continental.
Em Cabo Verde nunca se viveu tão bem. Aliás, se assim não fosse, por qual razão as pessoas haveriam de sorrir? E, como se sabe, os cabo-verdianos sorriem muito, o que, como também é bom de se ver, não deixa de ser uma prova da inexistência de crise. E a própria morabeza é, aliás, a negação da própria crise, cuja inexistência já foi admitida “por todos os analistas” – só para parafrasear, com a devida vénia, essa outra sapiente figura de bigodinho aparado, cujo nome não me recordo.
ANTÓNIO ALTE PINHO - jornalista - privado.apinho@gmail.com
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