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Macau, China, 17 nov (Lusa) - A difusão da língua e cultura portuguesas tem sido alvo de um "desinvestimento continuado", considerou hoje o presidente do Conselho Permanente das Comunidades Portuguesas, Fernando Gomes, em declarações à Agência Lusa em Macau.
"É óbvio, praticamente desde finais de setembro" que não tem havido "notícias minimamente agradáveis em prol das comunidades", afirmou Fernando Gomes, ao criticar que "tudo o que vem é esta política economicista".
Em reação à proposta do Governo de promover a fusão do Instituto Camões (IC) e do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD) num novo Camões - Instituto da Cooperação e da Língua -, o conselheiro começou por lamentar o facto de não ter sido informado, mostrando relutância relativamente aos frutos que a iniciativa poderá gerar.
"Só tenho a lamentar, mais uma vez, a postura pouca digna do Ministério dos Negócios Estrangeiros ou do secretário de Estado que nos tutela, de não ter previamente falado connosco", argumentou Fernando Gomes, ao realçar que, "à partida", a fusão "aparenta ser mais uma posição puramente economicista" por parte do Governo.
"Se advirá algum fruto dessa política, tenho sérias dúvidas porque me parece que, de uma forma quase continuada e abusiva, tem tido uma posição de costureira, praticamente surda e cega", apontou Fernando Gomes.
Para o conselheiro, os cortes que têm vindo a ser implementados "são feitos de forma pouco delineada sem consultar a comunidade", sendo que, em matéria de educação, "é exasperante a continuada debandada dos professores a nível de vários centros escolares em França, Bélgica e Alemanha".
"Um outro número que tenho é que são cerca de 2.000 os alunos que, de uma forma repentina, ficaram sem aulas de português", afirmou, numa referência aos dados avançados, nomeadamente por sindicatos de professores de português do estrangeiro, sublinhando ainda que esta atitude "foge de toda a política emanada aquando da tomada de posse" do secretário de Estado das Comunidades, José Cesário.
"Parece que é uma machadada para um afastamento que temo ser eterno entre o secretário de Estado e as comunidades (...) estamos todos revoltados, indignados com esta situação de falta de respeito", disse, prometendo "expressar-se" sobre o tema na próxima semana quando estiver em Lisboa para participar numa reunião do Conselho Permanente.
Após a reunião, o Conselho das Comunidades Portuguesas terá, "naturalmente", de assumir uma posição porque a lei obriga "a uma corresponsabilidade na situação", disse.
"É mais fácil destruir, do que construir. Demorou-se anos para criar uma estrutura minimamente funcional ao nível do ensino, dos consulados e também ao nível da difusão da língua e agora, de uma forma repentina, as coisas estão a ser completamente devassadas", apontou, considerando esta situação "lamentável" até porque "muitas vezes são migalhas que se tentam poupar".
Por outro lado, Fernando Gomes defendeu que existe atualmente uma "política descoordenada entre o Governo, ou entre ministérios e até o Presidente da República. "Há dias houve a posição pública do Chefe de Estado de atrair, cativar e de haver um chamamento quase de amor à pátria para se investir no país", mas "o Governo parece que foge desta política oficial (...) que está a remar em sentido contrário".
"Não se tomam atitudes do tipo posso, quero e mando' e depois, ao mesmo tempo, pede-se apoio de aproximação, investimento e de compreensão das políticas do Governo. Não pode ser", argumentou.
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