Eduardo Febbro - Direto de Atenas – Carta Maior
A extrema-direita grega entrou na coalizão do governo do economista Lukas Papademos. Pela primeira vez desde a queda da ditadura militar em 1974, a extrema-direita, representada pelo partido Laos, chega ao poder. O mandato do tecnocrata Papademos começou com más notícias. O instituto grego de estatísticas revelou que a taxa de desemprego chegou a 18,4% em agosto. O desemprego afeta 43,5% dos jovens. O artigo é de Eduardo Febbro.
A extrema-direita grega entrou na coalizão de governo formada no dia seguinte à indicação do economista Lukas Papademos como novo chefe do Executivo. Pela primeira vez desde a queda da ditadura militar em 1974, a extrema-direita, representada pelo partido Laos, criado em 2000, põe um pé triunfante nas escadarias do poder. Laos conseguiu o Ministério de Infraestrutura e Transportes, o Secretariado de Estado para o Desenvolvimento e a marinha mercante, além de dois vice-ministros.
Como o resto dos partidos de extrema-direita do Velho Continente, Laos se converteu em um ator de peso no jogo político graças a uma estratégia similar à aplicada na França pela Frente Nacional: colocou gravata e limpou seu discurso, afastando pouco a pouco de seu vocabulário os acentos mais xenófobos de seu programa.
Lukas Papademos assumiu com uma imponente cerimônia de coração na qual participaram hierarcas da Igreja Ortodoxa que abençoaram o novo primeiro ministro e seu governo. O Executivo, dominado por membros do partido socialista Pasok e pelo conservador Nova Democracia, tem em princípio cem dias para negociar as condições pelas quais a Grécia se afastará da bancarrota. “Se o povo se mantiver unido, teremos êxito”, disse Papademos.
Sua frase não pode ser mais paradigmática: a união dos partidos, Pasok, Nova Democracia e Laos, resultou na formação de um governo dirigido por um tecnocrata colocado no cargo pelos tecnocratas de Bruxelas, sem ter sido eleito por nenhum grego. Como presente, os pactos políticos internos abriram as portas para a extrema direita que ganhou com a crise um espaço de legitimidade impensável há alguns meses.
O governo é composto por 50 políticos e em seu interior há figuras que já estavam no governo anterior. Papdemos conservou Evangelos Venizelos à frente da pasta de Finanças e, como vice-primeiro-ministro, manteve vários socialistas em postos importantes, entre eles, Anna Diamanotopulu, Andreas Loverdos e Michalis Chrysochoidis, nas pastas da Educação, Saúde e Desenvolvimento, respectivamente. A direita da Nova Democracia ganhou dois ministérios: Stavros Dimas, ex-comissário europeu de Meio Ambiente, e Dimitris Avramolpulos, dirigirão o Ministério de Relações Exteriores e o da Defesa.
Este Gabinete tem pela frente três desafios com um alto custo social: primeiro, desbloquear a sexta parcela de 8 bilhões de euros correspondentes ao primeiro resgate financeiro europeu; segundo, obter a aprovação de um novo resgate financeiro por parte da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional, no valor de 130 bilhões de euros até 2014; terceiro, negociar um perdão de 50% da dívida que o Estado grego contraiu com os bancos. O quarto ponto é o tributo que o Executivo passará à sociedade para obter fundos: a cura liberal implica um tsunami de ajustes sociais e destruição de benefícios.
O Parlamento grego deve aprovar um voto de confiança ao novo governo sem mistério algum. Os três partidos que compõem o governo agora, Pasok, Nova Democracia e Laos, totalizam 254 dos 300 votos necessários. Os únicos que não votarão a favor são o Partido Comunista e a Syriza, a coalizão da Esquerda Radical.
Esta estranha montagem política, teleguiada pelo FMI, pelo Banco Central Europeu e a Comissão de Bruxelas, inaugura um novo período político que vai mais além das negociações econômicas sobre a crise. Os gregos votaram em uma maioria socialista, a do Pasok, mas a renúncia do primeiro ministro Yorgos Papandreu os deixou com um governo de unidade nacional onde a extrema direita aparece comandando o ministério de Infraestrutura e Transporte, cujo titular é Mavrudís Voridis.
O histórico de Voridis é fiel ao da extrema direita europeia: nas décadas de 80 e 90 militou em vários grupos paramilitares. Quanto ao partido Laos, sua ideologia é uma mescla de liberalismo, nacionalismo e xenofobia explícita. Foi fundado em 2000 por um ex-deputado da Nova Democracia, Yorgos Karatzaferis. Em 2004, o partido participou pela primeira vez de uma consulta eleitoral, alcançando apenas 2,7% dos votos. No mesmo ano, se apresentou para as eleições europeias, conseguindo 4,1%, índice que lhe valeu um assento no parlamento europeu, ocupado por seu fundador.
Durante esse mandato, Yorgos Karatzaferis se notabilizou pelos escândalos provocados por suas declarações de corte racista e anti-semita. Mais tarde, nas eleições gerais de 2007, Laos aumentou sua votação, atingindo 3,8%. Com esse percentual, ingressou pela primeira vez no Parlamento grego, onde ocupou dez cadeiras. Seu peso eleitoral aumentou em 2009 quando obteve 5,5% dos votos e 15 cadeiras. Isso permitiu ao partido agora negociar seu apoio á coalizão e assumir um ministério importante e outros cargos.
O mandato do tecnocrata Papademos começou com más notícias. O instituto grego de estatísticas revelou que a taxa de desemprego chegou a 18,4% em agosto, ou seja, seis pontos acima do índice registrado em 2010. Em termos de desemprego, a Grécia ficou em segundo lugar, atrás da Espanha (22,6%). O panorama grego é particularmente severo com a juventude. O desemprego afeta 43,5% dos jovens.
O experimento grego prefigura os desastres futuros da democracia. Os bancos e seu credo de ajustes e reformas atropelaram a vontade popular e a opinião dos cidadãos, princípio supremo da democracia. Já não importa uma eleição, mas sim que haja um soldado obediente que assuma os trabalhos duros sem passar antes pela consulta eleitoral.
Tradução: Katarina Peixoto
Como o resto dos partidos de extrema-direita do Velho Continente, Laos se converteu em um ator de peso no jogo político graças a uma estratégia similar à aplicada na França pela Frente Nacional: colocou gravata e limpou seu discurso, afastando pouco a pouco de seu vocabulário os acentos mais xenófobos de seu programa.
Lukas Papademos assumiu com uma imponente cerimônia de coração na qual participaram hierarcas da Igreja Ortodoxa que abençoaram o novo primeiro ministro e seu governo. O Executivo, dominado por membros do partido socialista Pasok e pelo conservador Nova Democracia, tem em princípio cem dias para negociar as condições pelas quais a Grécia se afastará da bancarrota. “Se o povo se mantiver unido, teremos êxito”, disse Papademos.
Sua frase não pode ser mais paradigmática: a união dos partidos, Pasok, Nova Democracia e Laos, resultou na formação de um governo dirigido por um tecnocrata colocado no cargo pelos tecnocratas de Bruxelas, sem ter sido eleito por nenhum grego. Como presente, os pactos políticos internos abriram as portas para a extrema direita que ganhou com a crise um espaço de legitimidade impensável há alguns meses.
O governo é composto por 50 políticos e em seu interior há figuras que já estavam no governo anterior. Papdemos conservou Evangelos Venizelos à frente da pasta de Finanças e, como vice-primeiro-ministro, manteve vários socialistas em postos importantes, entre eles, Anna Diamanotopulu, Andreas Loverdos e Michalis Chrysochoidis, nas pastas da Educação, Saúde e Desenvolvimento, respectivamente. A direita da Nova Democracia ganhou dois ministérios: Stavros Dimas, ex-comissário europeu de Meio Ambiente, e Dimitris Avramolpulos, dirigirão o Ministério de Relações Exteriores e o da Defesa.
Este Gabinete tem pela frente três desafios com um alto custo social: primeiro, desbloquear a sexta parcela de 8 bilhões de euros correspondentes ao primeiro resgate financeiro europeu; segundo, obter a aprovação de um novo resgate financeiro por parte da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional, no valor de 130 bilhões de euros até 2014; terceiro, negociar um perdão de 50% da dívida que o Estado grego contraiu com os bancos. O quarto ponto é o tributo que o Executivo passará à sociedade para obter fundos: a cura liberal implica um tsunami de ajustes sociais e destruição de benefícios.
O Parlamento grego deve aprovar um voto de confiança ao novo governo sem mistério algum. Os três partidos que compõem o governo agora, Pasok, Nova Democracia e Laos, totalizam 254 dos 300 votos necessários. Os únicos que não votarão a favor são o Partido Comunista e a Syriza, a coalizão da Esquerda Radical.
Esta estranha montagem política, teleguiada pelo FMI, pelo Banco Central Europeu e a Comissão de Bruxelas, inaugura um novo período político que vai mais além das negociações econômicas sobre a crise. Os gregos votaram em uma maioria socialista, a do Pasok, mas a renúncia do primeiro ministro Yorgos Papandreu os deixou com um governo de unidade nacional onde a extrema direita aparece comandando o ministério de Infraestrutura e Transporte, cujo titular é Mavrudís Voridis.
O histórico de Voridis é fiel ao da extrema direita europeia: nas décadas de 80 e 90 militou em vários grupos paramilitares. Quanto ao partido Laos, sua ideologia é uma mescla de liberalismo, nacionalismo e xenofobia explícita. Foi fundado em 2000 por um ex-deputado da Nova Democracia, Yorgos Karatzaferis. Em 2004, o partido participou pela primeira vez de uma consulta eleitoral, alcançando apenas 2,7% dos votos. No mesmo ano, se apresentou para as eleições europeias, conseguindo 4,1%, índice que lhe valeu um assento no parlamento europeu, ocupado por seu fundador.
Durante esse mandato, Yorgos Karatzaferis se notabilizou pelos escândalos provocados por suas declarações de corte racista e anti-semita. Mais tarde, nas eleições gerais de 2007, Laos aumentou sua votação, atingindo 3,8%. Com esse percentual, ingressou pela primeira vez no Parlamento grego, onde ocupou dez cadeiras. Seu peso eleitoral aumentou em 2009 quando obteve 5,5% dos votos e 15 cadeiras. Isso permitiu ao partido agora negociar seu apoio á coalizão e assumir um ministério importante e outros cargos.
O mandato do tecnocrata Papademos começou com más notícias. O instituto grego de estatísticas revelou que a taxa de desemprego chegou a 18,4% em agosto, ou seja, seis pontos acima do índice registrado em 2010. Em termos de desemprego, a Grécia ficou em segundo lugar, atrás da Espanha (22,6%). O panorama grego é particularmente severo com a juventude. O desemprego afeta 43,5% dos jovens.
O experimento grego prefigura os desastres futuros da democracia. Os bancos e seu credo de ajustes e reformas atropelaram a vontade popular e a opinião dos cidadãos, princípio supremo da democracia. Já não importa uma eleição, mas sim que haja um soldado obediente que assuma os trabalhos duros sem passar antes pela consulta eleitoral.
Tradução: Katarina Peixoto
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