domingo, 27 de novembro de 2011

Holodomor: MUITAS PROVAS E NENHUM DESMENTIDO



Olexander Paliy, historiador

Entre 1926 e 1939 o número dos ucranianos baixou de 31.195 milhões para 28.111, ou seja diminuiu em 11%. No mesmo período, o número de russos aumentou de 77.791 para 99,591 milhões, ou seja, cresceu em 28%. A população da URSS aumentou no mesmo período em 16%, passando de 147.028 para 170.557 milhões. Todos os dados pertencem ao censo populacional soviético de 1939...

Se as tendências na Ucrânia acompanhassem as tendências soviéticas gerais, os ucranianos deveriam em 1939 perfazer cerca de 36.186 milhões, ou seja 8.075 milhões a mais do que foram registados no mesmo censo. Isso tendo em conta do que no início do século XX, Ucrânia era comparada com China em questão do crescimento populacional.

O carácter genocidário do Holodomor é provado pelo facto do que o número dos ucranianos que morreram durante a II G.M., é menor do que o número dos ucranianos mortos durante Holodomor. E na II G.M., Ucrânia perdeu cerca de 6,5 milhões de cidadãos.

Em 1932-33, as cidades, as províncias e as fronteiras administrativas da Ucrânia Soviética eram guarnecidas pelo exército e pelos pelotões de NKVD, com a tarefa de não deixar a população de escapar da fome. Vários ucranianos que tentaram sair da Ucrânia foram assassinados por essas mesmas forças militares.

O único lugar em toda a URSS, além da Ucrânia, onde o poder soviético usava as forças militares para barrar o caminho dos refugiados, após a requisição forçada dos alimentos às populações, era Kuban, o território fora da Ucrânia onde predominava a população etnicamente ucraniana.

Em todo o território da Ucrânia, desde Zhytomyr à Luhansk, as aldeias ucranianas morriam de fome, mas à distância de apenas alguns quilómetros, as populações da Rússia e da Belarus não recordam as vítimas do Holodomor.

Apenas contra a população da Ucrânia foi estabelecida a resolução que previa a requisição de não apenas trigo em grãos, mas de todo o stock alimentar.

No meio do genocídio, em 22 de Janeiro de 1933, Kremlin emite a directiva especial que ordena a não permissão aos camponeses da Ucrânia e de Kuban de sair fora das suas zonas de residência. Aqueles que “conseguissem sair” deveriam ser imediatamente detidos, detectados entre eles “os elementos contra-revolucionários” e deportados às suas residências anteriores.

No meio do genocídio, em 17 de Março de 1933, foi emitida a directiva que autorizava os camponeses a sair do kolkhoze apenas com a permissão da sua administração, na base do recrutamento colectivo da mão-de-obra.
Os novos colonos e os membros do exército vermelho que eram assentados nos lugares dos camponeses ucranianos mortos recebiam os alimentos fornecidos pelo estado soviético, mas os camponeses ucranianos locais – não.

Holodomor decorria em paralelo com o reinício das repressões em massa contra a elite cultural da Ucrânia e com o fim compulsivo da política de ucrainização na Ucrânia e em Kuban.

Na URSS sempre foi permitido escrever livremente sobre a fome nas regiões de Volga em 1921-22, mas qualquer menção do Holodomor ucraniano de 1932-33 poderia ser punida com a pena de prisão até os anos 1980. No meio do Holodomor, a URSS classificava as informações sobre o genocídio de “calúnias infames” e continuava faze-lo durante décadas.

Durante os anos do Holodomor de 1932-33, a URSS exportou milhões de toneladas de trigo e uma quantidade considerável dos outros alimentos para o estrangeiro, o que pode ser comprovado pelas estatísticas públicas das bolsas de valores ocidentais.

A morte dos milhões de ucranianos prejudicou sobremaneira a economia da URSS. As crianças foram primeiras vítimas da fome, eles iriam se tornar a população economicamente activa. A URSS optou pelo extermínio dos camponeses ucranianos que eram educados na tradição e em língua ucranianas. Salva-las da morte pela fome custaria infinitamente menos do que eles iriam produzir para a economia soviética. Mas a liderança da URSS não os salvou.

Será que no país onde as pessoas muitas das vezes tinham medo de sussurrar debaixo dos cobertores, milhões de pessoas poderiam morrer durante quase dois anos sem que isso seja conhecido e aprovado pelo Moscovo?

Os diplomatas estrangeiros informavam sobre as declarações privadas dos líderes soviéticos do que na Ucrânia em resultado da fome “será mudado o material etnográfico”.

As testemunhas da conversa entre Stalin, Postyshev e Kosior afirmam que Stalin os elogiou por causa dos seus relatórios sobre o número dos mortos da fome na Ucrânia e disse ao Postyshev: “Tu, Pavel, foste designado para lá por nós na qualidade do ‘comandante da fome’, e com essa arma farás mais que Budionni com os exércitos da cavalaria. Stanislav (Kosior) perdeu-se um pouco, mas você tem a mão e a vontade de ferro”.

O secretário-geral do PCUS, Nikita Khrushev, disse no Congresso do partido em 1956 que Stalin só não deportou todos os ucranianos da Ucrânia, por serem demasiadamente numerosos e não haveria nem o lugar para onde os deportar, nem URSS acharia a quantidade suficiente dos vagões de gado para faze-lo. Existe a informação sobre a ordem do Comissário popular do interior da URSS, Beria e do Vice – comissário popular da defesa da URSS, marechal Zhukov datado de 22 Junho de 1944 sobre a deportação de todos os ucranianos para a Sibéria. O Secretário do estado norte-americano, Edward Stettinius afirmou nas suas memórias do que na Conferência da paz em 1945 em Yalta, Stalin se queixava sobre a situação “incerta” na Ucrânia e se arrependia por não aprovar a ideia da deportação dos ucranianos para Sibéria.

Hoje temos que entender que a sociedade ucraniana não está dividida entre Leste e Ocidente, mas entre aqueles que se solidarizam com as vítimas do genocídio de 1932-33 e os que alinham com os seus organizadores e executores. Eles são a minoria, mas estão bem posicionados.

Está mais que claro que o carácter pós – genocidário da Ucrânia enfraquece o país, permite fazer aquilo que o poder actual está a fazê-lo hoje. Talvez exactamente por isso o poder não quer pensar e dizer a verdade sobre Holodomor...

*Publicado em Ucrânia em África

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