quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Jornalista que filmou massacre continua em Díli para que sacrifícios tenham resultados




MSE - LUSA

Díli, 10 nov (Lusa) - Max Stahl, o jornalista que filmou e divulgou ao mundo o massacre de Santa Cruz, continua em Timor-Leste a contribuir com o que pode para que o sacrifício feito pelos timorenses durante anos tenha um "resultado positivo".

Habituado aos complicados palcos - começou a vida como ator - de crises na América Latina, Médio Oriente e da antiga União Soviética, Max Stahl diz à agência Lusa que "Timor-Leste foi mais que os outros".

"Para mim, Timor-Leste foi mais do que outros, porque tive um momento aqui muito importante na minha vida e na vida da nação", afirma, lembrando o massacre de Santa Cruz, há 20 anos em Díli.

A 12 de novembro de 1991 mais de duas mil pessoas reuniram-se numa marcha até ao cemitério de Santa Cruz, em Díli, para prestarem homenagem ao jovem Sebastião Gomes, morto em outubro do mesmo ano por elementos ligados aos invasores indonésios.

Quando os protestantes se reuniram no cemitério, militares indonésios abrigaram fogo sobre a multidão, provocando centenas de feridos e de mortos.

"A maioria dos jornalistas não tem muita oportunidade na vida para influir, para ter algum impacto e o impacto não é necessariamente positivo, mas isso é um privilégio e uma responsabilidade", diz o também realizador.

Segundo números do Comité 12 de Novembro, 2261 pessoas participaram na manifestação, 74 foram identificadas como tendo morrido no local e 127 morreram nos dias seguintes no hospital militar ou em resultado da perseguição das forças ocupantes.

Vinte anos depois do massacre que testemunhou, Max Stahl dirige em Díli um centro de audiovisual, onde procura arquivar as imagens da independência e do crescimento da nação que referendou o seu estatuto político em 1999 e restaurou a independência em 20 de maio de 2002.

"Sinto que tenho a responsabilidade de dar aos timorenses o que posso dar e contribuir com o que posso contribuir para que o sacrifício que eu testemunhei e o sacrifício que tantos timorenses fizeram possa ter algum resultado positivo para o futuro, por isso estou aqui", justifica à Lusa. Vinte anos depois "ninguém fora de Timor tinha imaginado que isso era possível".

"Os desafios de fazer as instituições que são precisas para fazer um Estado no contexto moderno são múltiplas e não começam com um curso qualquer de uma semana ou de um mês", lembra Max Stahl.

"Historicamente isto ainda é uma gota de água. É muito fácil para os das Nações Unidas que chegam aqui com bons salários dos seus próprios países e que não têm responsabilidades sobre as consequências das suas próprias atuações e projetos", declara.

Segundo Max Stahl, os profissionais internacionais "tratam de fazer qualquer coisa, uma contribuição positiva, mas é mínima no contexto da história de Timor-Leste".

No final, o jornalista lembra que a "história de Timor-Leste vai continuar depois da saída das Nações Unidas (prevista para o final de 2012) e mesmo depois do final das nossas vidas".

"Aí se conhecerá o sacrifício feito pela independência".

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