BAPTISTA BASTOS – DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião
Uma televisão esteve a fazer perguntas a jovens portugueses. Os jovens portugueses foram unânimes: estão fartos de ver os seus sonhos e ambições espezinhados, não se resignam a esta desordem política que lhes interdita o acesso ao bem-estar e à felicidade, e que eliminou do horizonte humano qualquer expressão de justiça. Uma rapariga, por sinal muito bonita e de frase curtida em leituras e decisões, preparava-se para abandonar o País e viajar até onde as suas faculdades fossem reconhecidas e estimadas. "Mas vai voltar, um dia?", perguntou-lhe, afobada, o jornalista, "Nunca mais! Aqui, não tenho futuro!" A luz, na televisão, era mais clara, e o rosto da rapariga atingiu uma inesperada dureza. Talvez o desprendimento de quem tem a sensação de não ser desejada.
Foi esse alheamento que me impressionou. De repente, na afirmação, "Aqui não tenho futuro!", deixara de residir a ternura e a intimidade, e passara a descoberto a factura de uma nova sabedoria, que me era estranha e, até, um pouco incómoda.
Na mesma reportagem, a informação, crua e grave, de que centenas de médicos e enfermeiros, por igual jovens, competentes e de confuso destino português, estavam de malas aviadas para se fixar no estrangeiro. Uma dessas, agora de abalada, demonstrou o seu desgosto com uma pequena frase: "Que havemos de fazer?"
Estes rapazes e raparigas são disputados em toda a Europa, e o interesse por eles, pela qualidade do seu trabalho, da sua devoção e da sua humanidade chegam à Austrália e à Nova Zelândia. Parece que o velho problema do mal na História renasce com a razão do Estado e a sua falta de ética da responsabilidade. O Estado, de certa forma corporizado no Governo, utiliza como meio específico a força da exclusão, da indiferença e do abandono, por detrás da qual se perfila a violência. As coisas complicam-se ainda mais se, noutra perspectiva, substituirmos a bondade pela grosseria. E recordo aquele membro do Governo (cujo nome desejo colocar à margem deste texto, desejadamente asseado) que incentivou os jovens portugueses a abandonar o País, violando, descaradamente, a palavra dada de respeito pela Constituição e pelos outros.
Perdemos a nossa gente nova porque estamos a ser friamente enganados por uma clique amoral, incompetente e inchada de soberba. Há qualquer coisa de infame numa política que não coincide com a justiça e com a procura do bem-estar das populações. A ilustração desta indignidade vemo-la todos os dias e atinge proporções insanas quando a juventude é assim dizimada por um Governo que a despreza ao ponto de a expulsar. "Pátria madrasta, país padrasto", concluiu João de Barros, o das Décadas, numa frase tão lacónica como excruciante.
"Aqui não tenho futuro!" A frase possui a amplitude de um desígnio e o ferrete de uma insuportável anargura.
1 comentário:
UM BECO QUE SÓ TEM UMA SAÍDA.
Não há soluções em Portugal para o povo português.
As únicas soluções em curso, respondem a outras capitais e a finanças que nem portuguesas são, impondo sua própria ditadura aos portugueses.
O homem não é tido nem achado e os mais vulneráveis acabam por satisfazer os egos dos outros, com as caridadezinhas de má memória.
Para cúmulo da desgraça, o governo eleito cumpre cada vez mais com o "diktat" que lhe é imposto de fora e não busca alternativas, atraiçando seu próprio eleitorado.
A cultura que vem do berço, a tradição judaico-cristã e o peso dos media controlados pelos mesmos que impõem o "diktat", anestesiam a capacidade de raciocínio e a vontade do eleitorado e do povo português.
Razões consumistas transformam também as pessoas em mercenários, que buscam de forma egoista e nada solidária, encontrar soluções para os seus problemas, como se vivessem fora duma sociedade que de há muito está enferma.
Portugal está de facto num beco sem saída e sua "integração" na Europa e na NATO faz o resto!
Martinho Júnior.
Luanda.
Enviar um comentário