Económico com Lusa
Ex-Presidente admite que Portugal nunca viveu "uma crise tão grave" e alerta que a democracia "pode vir a ser posta em causa".
Este aviso é deixado no livro 'Um político assume-se', uma "espécie de autobiografia política e ideológica", e não memórias, como faz questão de assinalar no prefácio o fundador do PS e presidente da República durante dez anos (1986-1996).
"Estou extremamente preocupado quanto ao futuro do meu País, onde desejo morrer", escreve Mário Soares, 86 anos, no último dos 15 capítulos que compõem o livro, intitulado 'E Agora?'.
Nunca como antes, escreve, o país viveu "uma crise tão grave", nem estiveram tão em causa as "conquistas sociais" da Revolução dos Cravos: "O Serviço Nacional de Saúde, as pensões sociais, a dignidade do trabalho, a tendencial gratuitidade do ensino".
"Tudo isto pode estar em jogo de perder-se, mas também é a própria democracia que pode vir a ser posta em causa, dadas as exigências dos mercados especulativos e desregulados e a dependência que deles tem a comunicação social", alerta.
Mário Soares, um dos fundadores do regime democrático no pós-25 de Abril de 1974, questiona a fraqueza dos líderes europeus perante a crise económica e financeira, para a qual, lembra, veio a avisar nos últimos anos e que já levou três países a pediram ajuda externa: Grécia, Irlanda e Portugal.
"Europeísta convicto", Soares admite que Portugal, desde a adesão à então CEE, "habituou-se a viver acima dos seus recursos".
Portugal está a ser "a terceira vítima da ganância dos mercados especulativos e da audácia criminosa das agências de rating".
A crise, escreve ainda Soares, "só pode agravar-se" quando se chega "a uma situação tão estranha", em que "os mercados comandam os Estados ditos soberanos - em vez de ser o contrário".
Mário Soares vai lançar o livro "Um político assume-se - Ensaio político e ideológico", editado pela Temas&Debates, do Círculo de Leitores, no próximo dia 30, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
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