Joana Freitas – Hoje Macau – 29 setembro 2011
Não passou de uma intenção a proposta de abolição da Língua Portuguesa do ensino básico de Timor-Leste. A notícia foi confirmada ontem ao Hoje Macau por uma fonte próxima da Presidência da República daquele país
Em Setembro, o Hoje Macau divulgou a intenção proposta por Xanana e Kirsty Gusmão, primeiro-ministro de Timor-Leste e esposa, em terminar com o ensino do português nas escolas básicas, numa notícia primeiramente avançada pela imprensa timorense.
Na altura, o Conselho de Ministros estaria já em vias de preparação do diploma legal que aprovaria a decisão de abolir aquela que, desde 2002, é língua oficial em Timor-Leste.
Mas ao que tudo indica, o projecto “fracassou por completo”, disse fonte próxima da Presidência do país ao Hoje Macau. A justificação é simples: “era uma iniciativa australiana que esbarrou no argumento de que o povo [australiano] que marginalizou por completo mais de 200 línguas aborígenes e obrigou os seus indígenas à formação em inglês não estaria em condições para dar lições aos timorenses”.
Recorde-se que muitos foram os críticos que apontaram o dedo a Kirsty Gusmão como detentora da responsabilidade da eliminação do ensino do português no básico de Timor-Leste. A mulher do primeiro-ministro é natural da Austrália e Embaixadora da Boa Vontade para a Educação.
Xanana Gusmão e a mulher, os principais promotores da ideia, justificavam esta eliminação do português como uma forma de combate à iliteracia.
“Estou convicto de que a língua portuguesa não foi o factor responsável pelo insucesso de aprendizagem, até porque com base nos dados estatísticos sobre o ensino durante o mandato do I Governo Constitucional recuso-me determinantemente a aceitar esse pressuposto”, frisou ao Hoje Macau António Mota, presidente da Associação de Amizade Macau-Timor.
Mas o timorense, que reside no território, avança com dados que explicam a sua opinião: em 2004-2005 as escolas primárias de Timor-Leste aumentaram de 835 para 862, as pré-secundárias aumentaram de 120 para 129 e as secundárias de 55 para 76. Também o número de professores subiu de 6667 para 7792. Estiveram matriculados 246 mil estudantes, o equivalente a mais de 1/5 do total da população. Isto “demonstra que os Timorenses tiveram um governo (o I Governo Constitucional – entre 2002 e 2006) que procurou garantir a universalidade do acesso à educação”, frisou António Mota.
Denote-se que também Portugal se mostrou preocupado com a preservação do ensino em português em território timorense, com o envio constante de professores para leccionar no país.
Mas a que se deve então o insucesso escolar de que se utilizou Xanana Gusmão para justificar a abolição do ensino básico em português? O presidente da Associação de Amizade Macau-Timor também analisa a questão: “no meu entender, foram três os factores [que levaram ao insucesso escolar]: carências alimentares, deficiências de infra-estrutras escolares e orçamentos inadequados para os sectores da saúde e da educação. Isto fez com as crianças abandonassem a escola logo nos primeiros anos, e não o ensino da língua portuguesa”, ressalva António Mota.
Seriam “outros os interesses alheios a Timor-Leste e ao seu povo atrás da decisão de abolir o ensino do português nas escolas básicas”, frisa o presidente da associação. A grande defensora desses interesses, diz ainda, “é Kirsty Gusmão”.
Com a anexação à Indonésia, o uso do português foi proibido, sendo a língua indonésia o principal idioma, até então desconhecido no território. Durante 24 anos, toda uma geração de timorenses cresceu e foi educada nesta língua. O português sobreviveu, no entanto, como língua de resistência, usada pela Fretilin e pelas outras organizações da resistência internamente no contacto com o exterior.
O português é, inclusive, ferramenta suficiente para que os timorenses possam adoptar um passaporte para as mais prestigiadas universidades do mundo, explicou fonte próxima da presidência.
Hoje, cerca de 25% dos timorenses falam português e, ao que o Hoje Macau apurou, muitos mais continuarão a falar.
2 comentários:
Um dos factores do insucesso poderá estar também na postura do Ministério da Educação que se recusa a dar/ceder material didáctico às inúmeras escolas primárias tuteladas pela Igreja.
Um caso concreto passou-se com o meu irmão em que o director de uma dessas escolas pediu se ele conseguia arranjar mapas escolares, o meu irmão foi três vezes ao Ministério da Educação e eles recusaram entregar os mapas por a escola ser da Igreja.
Entretanto regressado a Portugal jáenviou os Mapas solicitados pela Escola.
Aqui a Lucrécia acha estranha essa postura do Ministério da Educação, a Igreja gere um grande numero de escolas, porque o Ministério não tem capacidade. Mas os salários dos professores são pagos pelo Ministério da Educação. Não vemos problema em entregar esses mapas às escolas da Igreja.
Beijinhos da Querida Lucrécia
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