sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Timor-Leste - Sta. Cruz: "A primeira reação foi telefonar à Agência Lusa" - Ramos-Horta




MSE - LUSA

Díli, 11 nov (Lusa) - O Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, afirmou que há 20 anos, quando recebeu a informação que decorria um massacre em Santa Cruz, em Díli, se sentiu "impotente" e que a primeira reação foi telefonar à Agência Lusa.

José Ramos-Horta recorda-se que, no dia 12 de novembro de 1991, estava em Lisboa e preparava-se para ir a Paris a convite de Danielle Mitterrand, mulher do então Presidente francês, François Mitterrand.

"Preparava-me para seguir para Paris quando recebi um telefonema de madrugada em Lisboa, vindo de alguém em Díli, que estavam a massacrar, que decorria um massacre em Santa Cruz", contou à Agência Lusa.

José Ramos-Horta disse também que eram cerca das duas da manhã em Lisboa e se sentiu "completamente impotente para fazer seja o que for".

"'A quem vou telefonar? Ao Presidente americano? Não tenho o telefone dele, nem do Presidente português'. A primeira reação foi telefonar à Lusa em Lisboa e a partir daí alertaram-se todos os média internacionais. Multiplicámo-nos em atividades e o Governo português tomou a questão de Timor como questão número um da política externa", afirmou.

Segundo José Ramos-Horta, nesse dia reuniu-se com o antigo chefe da diplomacia portuguesa, João de Deus Pinheiro, "que disse perentoriamente 'esta vai ser a questão prioritária portuguesa" e foi assim até 1999/2000".

O chefe de Estado timorense disse também que quem sacudiu a consciência mundial foram os jornalistas internacionais que estavam no cemitério de Santa Cruz, nomeadamente o britânico Max Stahl.

"Lembro-me de dizer ao Adelino Gomes numa entrevista ao Público em 1991: 'Não permitirei que o mundo volte a dormir'. Foram as minhas palavras e foi o que aconteceu. Em 1999 deu-se o referendo e Timor-Leste hoje é livre", concluiu.

A 12 de novembro de 1991 mais de duas mil pessoas reuniram-se numa marcha até ao cemitério de Santa Cruz, em Díli, para prestarem homenagem ao jovem Sebastião Gomes, morto em outubro desse ano por elementos ligados às forças indonésias.

No cemitério, militares indonésias abriram fogo sobre a multidão. Segundo números do Comité 12 de Novembro, 2261 pessoas participaram na manifestação, 74 foram identificadas como tendo morrido no local e 127 morreram nos dias seguintes no hospital militar ou em resultado da perseguição das forças ocupantes.

A maior parte dos corpos continua em parte incerta.

Sem comentários:

Mais lidas da semana