sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Pedro Pinto viveu clandestino desde o massacre até à independência de Timor-Leste




MSE - LUSA

Díli, 11 nov (Lusa) - Pedro Pinto, 40 anos, participou há duas décadas no protesto que antecedeu o massacre no cemitério de Santa Cruz, e hoje está desempregado, porque viveu quase sempre na clandestinidade sem oportunidade de estudar.

Do dia 11 de novembro de 1991, não foi ferido, mas esteve envolvido nos primeiros distúrbios entre os manifestantes e os militares indonésios perto do atual edifício do Sporting, em Díli. "Não fui ferido, mas fui espancado", recorda.

Depois continuou até ao cemitério e, quando os militares indonésios abriram fogo e a situação ficou fora de controlo, Pedro Pinto conseguiu fugir e esteve refugiado três dias em Audian, um bairro da capital.

A partir da data do massacre de Santa Cruz, Pedro Pinto viveu sempre em fuga até à restauração da independência de Timor-Leste, em 20 de maio de 2002.

No "tempo de Portugal", disse, estudou até à segunda classe, mas quando a Indonésia invadiu o país os pais fugiram para a montanha, deixou de estudar e o seu percurso constante de foragido deixou-o para trás nas oportunidades de trabalho.

Não tenho trabalho porque não tenho diploma", afirmou Pedro Pinto à agência Lusa. Gostava de ser pedreiro, carpinteiro, soldador, mas precisa de ter formação.

Pedro Pinto tem dois filhos. A primeira mulher morreu, a segunda separou-se dele porque não tem trabalho.

A agência Lusa falou com Pedro Pinto no Comité 12 de Novembro, uma organização coordenada por Gregório Saldanha, que organizou a marcha de protesto há 20 anos.

O Comité 12 de Novembro foi criado pelos sobreviventes do massacre do cemitério de Santa Cruz para apoiar os familiares das vítimas, registar e verificar vítimas e sobreviventes e localizar, exumar e identificar pessoas desaparecidas.

A associação pretende igualmente apoiar as pessoas que não têm condições para sobreviver.

Segundo dados do Comité 12 de Novembro, mais de 60 por cento das pessoas que participaram no massacre de Santa Cruz está desempregado e vive com menos de dois dólares por dia.

A 12 de novembro de 1991 mais de duas mil pessoas reuniram-se numa marcha até ao cemitério de Santa Cruz, em Díli, para prestarem homenagem ao jovem Sebastião Gomes, morto em outubro desse ano por elementos ligados às forças indonésias.

No cemitério, militares indonésias abriram fogo sobre a multidão. Segundo números do Comité 12 de Novembro, 2261 pessoas participaram na manifestação, 74 foram identificadas como tendo morrido no local e 127 morreram nos dias seguintes no hospital militar ou em resultado da perseguição das forças ocupantes.

A maior parte dos corpos continua em parte incerta.

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