quinta-feira, 24 de novembro de 2011

UMA GREVE E SEIS HIPÓTESES




FERNANDO SANTOS - JORNALDE NOTÍCIAS, opinião

O país vive hoje sob o signo de uma greve geral e o leitor deste texto está enquadrado numa de seis hipóteses.

As duas primeiras são óbvias, são quase uma lapaliçada: ou está em greve, exercendo um direito inalienável consagrado na Constituição, ou, pura e simplesmente, estando ou não de acordo com os argumentos defendidos pelas centrais sindicais para a paralisação, não se limitou a dirigir-se ao posto de trabalho - trabalha mesmo.

O terceiro e o quarto enquadramento são também lineares: se está no desemprego ou já integra o estatuto de reformado, a greve geral pode não lhe passar ao lado da consciência mas não é susceptível de produzir efeitos muito para lá de ajudar ao cacharolete das imagens televisivas do dia, à porta de um Centro de Emprego fechado ou de uma unidade de saúde entupida e cuja paralisação é capaz de lhe atirar para as calendas gregas a consulta por que já aguarda há vários meses.

Sobram, então, outro dois tipos de postura perante a greve geral. Há os que queriam muito ir trabalhar mas estão impossibilitados de o fazer por falta de meios de locomoção e, descontando obviamente os doentes, a casta estratégica de uma certa espécie de humanos-moluscos, constituída por quem à falta de coragem para assumir posições, pró ou contra, marcou estrategicamente uns diazitos de férias ou aparentados a coincidir com a data.

Toda esta mescla de posicionamentos está condenada a resultar, obviamente, numa dificuldade: a da contabilização ao final do dia dos números de adesão à greve. Os sindicatos e os governos estão normalmente habituados ao triste espectáculo de anunciarem números de adesão completamente distorcidos, ao ponto de já ser famosa a ideia de que o melhor mesmo é dar um desconto entre o 80 e o 8 para se ficar com uma noção mais aproximada do resultado - aposta-se singelo contra dobrado quanto ao maior sucesso na adesão dos funcionários do Estado do que dos privados.

A greve geral não pode, em quaisquer circunstâncias, ser minimizada. É consequência de movimentações sociais de protesto legítimo num tempo de dificuldades à escala nacional e europeia. E deve conter a virtude de ser reflectida pelos políticos e os detentores dos interesses económicos a que estão subjugados.

O essencial é que o dia de greve geral fique pautado por autêntico princípio de liberdade e democraticidade - o que pressupõe um rotundo não à violência, ao invés do que sucede na Grécia, por exemplo - e, já agora, pela consciência geral de que a rua é adequado lugar para protesto mas jamais pode substituir a legitimidade do poder democraticamente eleito.


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