sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Atentado à soberania nacional no Príncipe e a Teotónio Torres em São Tomé




JOSÉ MARIA CARDOSO – TÉLA NÓN, opinião

Os acontecimentos do início do mês no Príncipe, por um lado e, em São Tomé noutro ângulo que, com a carga negativa correram rapidamente além-fronteiras, não deixaram de mexer com os sentimentos de uma sociedade onde a paz e a concórdia social parecem contemplar o leve-leve dos são-tomenses. Ponto a ponto.

I – Príncipe – Populares queimam a Bandeira Nacional

A ideia com que o cidadão comum fica num primeiro contacto com esta notícia vinda de Santo António, da noite de 5ª feira, dia 7 do mês em curso, é a de, os monkôs insatisfeitos com as políticas de São Tomé, entenderam manifestar e revoltosamente, queimaram a Bandeira Nacional demonstrando quanto se sentem injustiçados pelo poder central das ilhas.

Entretanto, os panfletos associaram a revolta pedindo a independência total e completa daquele 142 Km2 de terra cercada pelo mar e de pouco menos de cinco mil habitantes para serem eles próprios, os nascidos ou, talvez, com herança genética da ilha, chamados de naturais do Príncipe, a gerir aquele pedaço de Natureza magnificamente paradisíaca e geograficamente pertença do Estado de São Tomé e Príncipe.

Para quem vasculha os acontecimentos do país, a reclamação dos naturais do Príncipe exigindo a sua independência não é algo novo, já que remonta ao nascimento da própria Nação, sustentada pela culpa da dupla insularidade, ou seja, a descontinuidade territorial e a comprovada desumanidade dos que até então vêm dirigindo os destinos da República.

Dos testemunhos ouvidos a volta deste acontecimento, inicialmente, a razão da rebeldia na cidade de Santo António, tinha o cerne nas promessas eleitorais rubricadas pelo líder do partido no poder com a população do Príncipe. Patrice Trovoada, não confiante nos compromissos verbais dos períodos eleitorais, preferiu ir mais longe, celebrando em 2010, por escrito, um contrato com representantes da população da ilha do Príncipe comprometendo-se, em caso de vitória legislativa afectar ao Príncipe 30% das verbas do investimento público, deixando para São Tomé, território seis vezes maior, os restantes 70%. Brincadeiras de loucos!

Até em qualquer gestão familiar, uma palaiê duvidaria ao saber que cerca de 3% da população iria beneficiar de 30% do bolo, enquanto a grande maioria lá ajeitava-se com a outra parte.

O partido de Acção Democrática Independente, cujo Presidente e fundador recusou no tempo de Mudanças, dar o seu voto no Referendo Popular de 1990 que abriu o país ao multipartidarismo e a liberdade de pensamento, parece ter a arte de trazer a política são-tomense algo de inédito. Depois do banho, agora é a vez de ADI assinar com o eleitorado documentos falsos ou no mínimo sem devida responsabilização governativa.

Ninguém deve ao priori duvidar da legitimidade desse documento porque seria por em causa todos os órgãos eleitos em STP a excepção do actual Presidente da República, este sim, independente aquando do teste eleitoral. Porquê? Os partidos através das suas convenções ou coisas parecidas atestam as suas estruturas e aos seus representantes a celebrar contrato e tudo do mais para o funcionamento da organização política e do próprio país. Daí que, em momentos eleitorais os líderes partidários com o mandato dos seus militantes assinam acordos até com os diabos, comprometendo-se a distribuir os cargos executivos em caso de vitória. Será que esses documentos também são promessas sem cumprimento pós eleitoral? Não.

O líder de ADI ao chegar ao poder governativo das ilhas que, da qual muito bem conhecia os dossiers, porque em tempo recente já tinha ocupado o cargo de Primeiro-Ministro e, o petróleo continua sem jorrar, devia no mínimo dar explicação ao eleitorado com quem a subida ao poder é vinculada a um documento de namoro eleitoral.

A dupla insularidade a que estão submetidos os que sobrevivem nessa parcela do território nacional não é apenas da culpa do actual executivo, mas sim de políticas erradas que o país vem conhecendo de tempos a esta parte. Mas mentir com prova documental para obter resultado eleitoral pode trazer consequências jamais esperadas como foi a actuação menos pensada dos actores da queima do símbolo nacional, atitude que encontrou prontidão repúdio do Governo Regional que, ao que garante a população, com a renovada autonomia, portanto, o novo Estatuto Político e Administrativo da ilha, muito tem feito para mudar o rumo da história daqueles que se encontram mais vizinhos do continente.

É preciso muita ma fé alguém tomar partido ao favor de um grupo de cidadãos que atenta contra a soberania nacional, queimando o símbolo maior da independência do país. “Queimar a bandeira nacional foi um acto muito mau, em que o Governo regional de prontidão já tomou medidas. Accionou todas as forças de investigação policial e militar no sentido de rapidamente encontrar o infractor,” declarou Nestor Umbelina, Secretário do Governo Regional para as Infra-estruturas.

Com as palavras a endireitarem-se em prol dos reivindicadores que recebem diariamente através de redes sociais e outras formas de comunicação, solidariedade incendiária da diáspora da ilha, a primeira acusação contra Patrice Trovoada despista-se das mentes e as queixas da população d’Yê transformam-se na contestação contra a assinatura contratual da empresa Sundy, simultaneamente cedida pelo Governo Central ao empresariado belga e pelo Governo Regional ao empresariado sul-africano.

A revolução d’Yê se é que pode ser assim apelidada, aproveitando os movimentos que correm o ano no mundo árabe, para aos mais atentos e desprovidos de qualquer sentimento, conta com uma retaguarda de peso de que ninguém ousou até então trazer a ribalta.

Não é necessário encomendar algum especialista estrangeiro para ser reconhecido que os manifestantes que já saíram a rua na última sexta-feira e que elegeram de forma organizada as várias reivindicações da ilha, têm mãos metidas do Governo Regional ou seja do partido regional, União para a Mudança e Progresso do Príncipe, a UMPP de Tozé Cassandra que já viu renovado o seu mandato no Governo da ilha. Ainda bem!

Os poderes são eleitos para defenderem os interesses das populações e não o contrário como vem sendo a democracia das ilhas do Equador.

A solidariedade prestigiada do Governo Regional que há muito reivindica a preservação do ecossistema e do habitat do Príncipe combinada com mãos as obras empreendidas para o turismo ecológico, obrigou a opção sul-africana contrariando a escolha anterior do Governo Central.

No dia 29 de Maio o Governo Regional cedeu a roça Sundy ao grupo empresarial de Mark Shuttleworth, denominado de HBD – Boa Vida. A data escolhida pelo Governo autónomo para registar o acto de concessão e que provocou o barulho com o Governo Central, associa-se a Teoria de Relatividade comprovada na roça Sundy nos idos anos de 1919, proximamente a assinalar 100 anos, eventualmente com Príncipe, nessa altura, vestido de fato e gravata do desenvolvimento para os são-tomenses, independentemente de Caué, Água Grande, Lembá, Lobata, Cantagalo ou Mé-Zóchi festejarem e baterem a palmas a opção regional.

O investimento em vista de valência turística e social a ser uma realidade, não prescindirá do recrutamento de mão-de-obra de São Tomé para, ao final de contas, de mãos dadas os são-tomenses erguerem a Nação no caminho de desenvolvimento económico.

O alargamento do aeroporto do Príncipe para a categoria internacional, uma das facetas do investimento do “homem da lua” que, eventualmente, até teve encontro com Deus que lhe encarregou a salvar a ilha dos pecados dos governantes, só por si, deve orgulhar qualquer são-tomense e que o Governo Central não deve desperdiçar uma oportunidade que, pelos próprios meios jamais garante a Nação. Não é de acreditar que, ao que se sabe através dos meios de órgãos de informação, o Primeiro-Ministro salvaguardando os interesses nacionais, não encontre até 21 de Dezembro, coincidentemente dia maior de crença religiosa das ilhas, São Tomé Poderoso, a saída mais airosa ao acordo eleito pelo Governo Regional.

A tornar hábito o Estado são-tomense que já há muito, através do seu aparelho administrativo, procede a afectação de lotes de terra para serem reclamadas por mais de um beneficiário ou até fazer registos de mais de um comprador para loteamentos privados como foi o caso recente entre o cidadão António Santos e o grupo Pestana com o cidadão Fradique de Menezes pelo meio, não abona em nada a seriedade que se exige dos governantes.

Os vários governos sempre reclamaram o investimento privado estrangeiro como forma do país vestir roupa de gala, ao contrário dos farrapos com que se apresenta ao mundo. Entretanto, os envelopes que em qualquer parte do mundo acompanham as assinaturas dos grandes contratos, têm apagado a mente dos decisores políticos das ilhas, ao ponto do bem natural estar a ser posto em causa com prejuízos a gerações vindouras, num desrespeito a população da ilha do Príncipe e ataque brutal àquela que devia ser mimada, a beleza natural da ilha.

Na necessidade de cumprir com o acordo assinado desde 2009 com o grupo belga SOCFINCO, coincidentemente rubricado pela parte são-tomense pelo actual Ministro das Finanças e Cooperação Internacional, Américo Ramos, de ADI no Governo do MLSTP/PCD, Movimento de Libertação e Partido de Convergência, enquanto director do Tesouro, não deve ser impossível conseguir das terras abandonadas em São Tomé, roças adaptáveis ao palmeiral para o bem do nome de São Tomé e Príncipe, sucessivamente destruído pelos governantes.

Continuar a adiar os problemas da ilha do Príncipe com assinaturas de dokunus (documentos falsos que destroem as espectativas eleitorais), a própria democracia devia prever modalidades institucionais de sancionar personalidades vinculadas a esta forma de enganar documentalmente aos eleitores.

II – Teotónio Torres – Tentativa de assalto versus calar a boca

Cidadão idóneo, 85 anos de idade, activista cívico, antigo governante e mais que tudo isso, o mais velho de cabelos brancos, Teotónio Torres, ao que se presume foi alvo de tentativa de agressão no seu convento por um grupo de malfeitores a ordem, eventualmente, do desconhecido, deduzindo ao testemunho pessoal, «A minha mulher tinha saído. Mas senti que havia pessoas em casa. De repente um dos homens agarrou-me pelas costas e tapou-me a boca. Resisti e gritei “socorro … acudam-me!” Então a minha empregada, vinha da parte traseira da casa, gritando “o que foi doutor? … o que foi doutor?” Os dois homens ao ouvirem a voz dela que vinha ao meu socorro fugiram.

(…) Não levaram nada. Como vê aqui na sala tem televisor, computador, impressora, rádio, etc. Não levaram nada. Vieram apenas com o propósito de fazer qualquer coisa contra mim.»

Perante esta declaração e porque no domingo anterior, o cidadão Teotónio Torres, já tinha sido abordado na sua residência por dois jovens que recusou abrir-lhes o portão para uma entrevista suspeita, até ser comprovado a autenticidade policial do acto, todas as especulações são aceites para fabricar a opinião pública, mas o que não devia ser minimamente comungado, é ver pessoas como que encomendadas e escondidas no anonimato a andar por aí e categoricamente, a duvidar da veracidade dos testemunhos de quem reclama ter vivido um momento de ataque a sua integridade física.

O mais velho vem de algum tempo a esta parte a exigir dos responsáveis políticos e de todos quantos têm em mãos a gestão do país, uma maior transparência no tratamento da coisa pública para o bem dos seus concidadãos. Que isso lhe tem trazido inimigos, não tem nada de outro mundo. Num país democrático e com instituições que cumprem parâmetros da justiça social, os cidadãos lesados pela trombeta de Dr. Teotónio Torres, devem simplesmente exigir-lhe no sítio certo a responsabilização das suas palavras e não amedrontarem os seus familiares ou atentarem contra a sua vida.

Em vários cantos do mundo e, tristemente não em África, já ficou demonstrado que o petróleo tem muito bom paladar e os dividendos da sua exploração chegam a mesa de todos quando não há jogos sujos orquestrados por grupo de interesses que sobrepõe aos desígnios de uma Nação.

Seria bem para a auto-estima dos são-tomenses que as conclusões de perícia criminal venham a publicar resultados de que tudo não passou de dois assaltantes que supostamente não tiveram tempo de consumar a condenada doutrina da arte de apoderar de coisa alheia, para que o Governo e todos quantos se sentem alistados e atingidos nas declarações cívicas de Teotónio Torres, possam estar livres de suspeitas com mãos sujas na encomenda do suposto crime.

É repugnante e condenatório qualquer que venha a ser os resultados intencionais dos intrusos que no dia 5 de Dezembro, violaram a privacidade e o sossego do mais velho, Teotónio Torres, dando assim um mau sinal a acalmia das ilhas, recentemente assaltada por comportamentos dantes previstos a acontecer longe do leve-leve tropical e daí só vistos nos écrans.

«A Matemática pura é, a sua maneira, a poesia das ideias lógicas.» Albert Einstein, Cientista Alemão, Prémio Nobel da Física, Arma Nuclear, Física Nuclear e Ciências e, pai da Teoria da Relatividade, 1879 – 1955.

Artigos Relacionados:

Sem comentários:

Mais lidas da semana