DEUTSCHE WELLE
Presidentes do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai reúnem-se em Montevidéu para traçar estratégias que evitem a contaminação das economias do bloco. Ingresso da Venezuela também está na pauta.
A crise econômica europeia será o principal item da pauta a ser examinada em Montevidéu nesta terça-feira (20/12), durante a Cúpula dos Presidentes do Mercosul. A presidente Dilma Rousseff, juntamente com os presidentes do Paraguai, Fernando Lugo, do Uruguai, José Mujica, e da Argentina, Cristina Kirchner, deverão definir medidas que assegurem o fortalecimento das economias do bloco e protejam seus mercados consumidores.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o governo brasileiro aposta num fortalecimento do Mercosul diante da crise europeia. O comércio entre os países do bloco deve registrar em 2011 uma expansão de 20% em relação ao ano passado, quando as trocas comerciais movimentaram 44,5 bilhões de dólares. Deste total, quase 90% envolveram negócios com o Brasil.
Um dia antes da cúpula, nesta segunda-feira, o chamado Conselho do Mercado Comum – formado pelos ministros das Relações Exteriores e da Economia dos Estados membros – reúne-se para iniciar os debates econômicos. Durante o encontro será assinado um Acordo de Livre Comércio entre o Mercosul e a Palestina. O objetivo é reduzir barreiras com o novo parceiro comercial, que ainda busca reconhecimento junto à Organização das Nações Unidas. Há três meses, Dilma defendeu o pedido palestino durante uma Assembleia da ONU.
A expectativa é que o Mecanismo de Integração Produtiva (MIP), assinado no início do mês entre Brasil e Argentina, seja estendido ao Paraguai e ao Uruguai. O mecanismo visa ampliar as relações comerciais no bloco a fim de proteger os países da crise e, com isso, reduzir a dependência de capitais de fora.
Protecionismo
Para o pesquisador alemão Thomas Fritz, do Centro de Pesquisa e Documentação Chile-América Latina, em Berlim, o anúncio de recessão em alguns Estados da União Europeia já vem afetando países da América do Sul. "Os produtos de exportação do Brasil e da Argentina terão preço menor no mercado. Isso atinge não só produtos agrários, mas também industrializados", avalia Fritz. "Já é perceptível uma queda no preço das commodities."
Com a queda nos ganhos, continua o observador alemão, investidores terão mais objeções em investir nos países emergentes, o que deve pressionar a desvalorização das moedas nacionais.
O professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Amado Cervo, acredita que os líderes sul-americanos discutirão medidas protecionistas para evitar a pressão dos excedentes de produção, sobretudo industrial, dos Estados Unidos e da Europa em seus mercados. "O bloco dá uma legitimidade maior a mecanismos de proteção de cada país. É mais difícil outros países reagirem a medidas acordadas dentro de um bloco."
Por isso, afirma Cervo, o fortalecimento do Mercosul é importante especialmente para o Brasil. Cerca de 80% dos produtos manufaturados brasileiros são escoados para os vizinhos do sul. "O Mercosul é base para o Brasil negociar interesses, estabelecer linhas de ação e estratégias externas em escala global", explica.
A preponderância brasileira dentro do bloco – tanto em termos geográficos quanto econômicos – seria um dos motivos para o Mercosul não ter avançado significativamente, passados 20 anos de sua criação. O professor de relações internacionais do Centro de Integração do Mercosul da Universidade de Pelotas, Bruno Sadeck, ressalta que Brasil e Argentina apresentam condições estruturais e industriais muito distintas de Uruguai e Paraguai. "É preciso propor políticas comums no sentido de proporcionar uma redução dessas assimetrias", defende.
Ingresso polêmico
Outro tema que deve esquentar as discussões em Montevidéu é a entrada da Venezuela no Mercosul, que já recebeu aprovação dos parlamentos brasileiro, uruguaio e argentino. A expectativa é de que os líderes do bloco tentem contornar a barreira no senado paraguaio – de maioria opositora ao governo de Lugo – e viabilizem o ingresso do país liderado por Hugo Chávez. Uma das possibilidades seria a alteração das regras que estabelecem critérios de ingresso no bloco.
Levantada por Mujica, essa possibilidade de alterações no tratado do Mercosul vem gerando polêmica. Recentemente, parlamentares paraguaios lançaram manifestos afirmando que a eventual medida "passaria por cima da vontade soberana" do Paraguai.
Cervo lembra que o ingresso venezuelano também levantou acaloradas discussões no Senado brasileiro antes de ser aprovado, no ano passado.
"Todo mundo estava de acordo com a adesão da Venezuela, que é a terceira maior economia da América do Sul. Sua entrada daria um pilar a mais ao bloco. Mas o temor era que Chávez quisesse impor sua filosofia geopolítica ao Mercosul. Seu governo é tido como ideológico, antiamericano, e isso não agrada o Mercosul, que tem visão global de interdependência, de cooperação", avalia o historiador.
"Esse temor ainda existe", afirma Cervo, apostando que este pode ser o principal empecilho para que a Venezuela, que tenta fazer parte do Mercosul desde 2004, continue de fora do bloco.
Já Sadeck avalia que um assento permanente para a Venezuela de Chavez não traria problemas políticos ao bloco. "A questão não é ter Chávez, mas sim o Estado Venezuela como membro", diz Sadeck, ressaltando que o potencial quinto integrante poderia "revigorar" o bloco, hoje composto apenas por países do sul do continente.
Autora: Mariana Santos - Revisão: Alexandre Schossler
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