A maioria dos alunos do curso de Interpretação/Tradução de Chinês para Português do Instituto Politécnico de Macau (IPM) é do interior da China. Quem o diz é Leonel Alves, que aponta ser necessário perceber porque é que os alunos de Macau não despertam interesse pela aprendizagem da Língua Portuguesa.
Num debate que ficou marcado pelas questões relacionadas com a educação, na sexta-feira, na Assembleia Legislativa (AL), os deputados aproveitaram a presença de Cheong U para falar sobre a segunda língua oficial da RAEM.
O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura ouviu do hemiciclo diversas opiniões e perguntas, ainda que estas tenham, mais uma vez, ficado sem resposta. “Porque é que não há cursos ou debates em português?”, interrogou Mak Soi Kun.
O deputado falava da questão de Macau como plataforma para os países lusfónos e da falta de competitividade no sector educativo no que à aprendizagem de línguas diz respeito.
Também Gabriel Tong se pôs do lado do idioma luso, apontando a Cheong U falhas graves no ensino do português. “As universidades em Macau têm cursos excelentes em Língua Portuguesa, mas só que depois vemos que as escolas do ensino primário e secundário não ensinam a língua”.
O deputado pediu mais apoios ao Executivo não só para a Escola Portuguesa de Macau como também para as outras instituições luso-chinesas. Para Gabriel Tong é preciso introduzir o ensino do português em mais escolas do ensino não superior, de forma a dar continuidade à aprendizagem da língua. “Será que o Português se vai tornar numa língua do ensino e será dado mais apoio às escolas para que consigam introduzir este idioma?”, interrogou. A questão ficou no ar.
Leonel Alves não pediu só mais apoios, até porque, diz, existem mais dez estabelecimentos de ensino que leccionam o português. A questão, considera o deputado, prende-se com perceber o “grau de eficiência do ensino luso-chinês” e ver se este “está a ser bem recebido” pelos alunos. “Convém perceber o porquê do desinteresse das pessoas de Macau e porque é que o grau de desistência [dos que estão a aprender a língua] é tão elevado”, frisou.
Ensino em série
A pressão da família nos estudos foi duramente criticada pelos deputados, que consideram que os encarregados de educação querem apenas que os filhos tenham um certificado que lhes permita arranjar um bom emprego e ganhar o máximo de dinheiro possível. Também o método de ensino, dizem, não permite aos estudantes aprenderem a raciocinar.
Fong Chi Keong, por exemplo, relembrou que a responsabilidade do ensino não pode ser descartada apenas para o Executivo, mas deve partir também dos pais. “Investimento financeiro não é a única solução para a educação dos jovens”, notou.
Fong Chi Keong comparou o funcionamento das escolas ao de um mercado, onde alunos e instituições são constantemente comparados, como produtos. “Temos que educar todos os que querem aprender, não é só aproveitar os génios”.
Também Lee Chong Cheng considera necessária a implementação de critérios de avaliação às escolas que, diz, “devem saber os defeitos que têm para resolver os problemas”. O deputado criticou a forma actual de ensino, à base do decorar de matéria. “As escolas só pensam em dar matéria para os alunos decorarem. Isso impede a capacidade de racícinio. Os professores limitam-se a avaliar os exames e nada mais. Se o aluno não decorar, reprova”, acusou.
“Os pais só querem que os filhos sejam dirigentes, tenham eles ética e qualidade ou não. Estamos a meter à força o conhecimento na cabeça deles e assim não funciona”, acusou Fong Chi Keong.
José Pereira Coutinho aproveitou a presença do director do Instituto Politécnico de Macau (IPM) para acusar a instituição de não providenciar cursos realmente técnicos. “O IPM quer passar a universidade, mas como politécnico, não dá aos alunos a oportunidade de aprenderem especialidades na área de electricista ou canalizador, por exemplo”, acusou.
Cheong U comprometeu-se a tentar arranjar mais docentes para o ensino técnico-profissional para que esta via seja “integrada nas escolas privadas”.
Cheong U ouviu, mas não avançou com medidas concretas. O secretário prometeu apenas marcar encontros com os deputados para trocar informações e com os profissionais do sector educativo infantil e primário para estudar formas de dinamizar a aprendizagem e tornar mais lúdico o ensino. “Não podemos exigir a crianças do ensino infantil que mantenham uma postura perfeita e que saibam escrever, temos de optar também pela metodologia do lúdico e falar com os pais acerca da pressão que exercem sobre as crianças a nível escolar”.
Leonel Alves sugeriu ainda a implementação do ensino da história de Macau, não só devido à falta de conhecimento geral, mas também para garantir que a ideologia de “Macau governado pelas suas gentes” não seja posto em causa.
Leong Lai, directora dos Serviços de Educação e Juventude, esteve também no hemiciclo, mas limitou-se a falar sobre a proposta do Quadro Geral do Pessoal Docente do Ensino Não Superior, em análise na especialidade, apontando os benefícios do novo diploma.
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