RTP
O ex-Presidente de Cabo Verde Pedro Pires duvidou hoje da existência de regimes ditatoriais em África, sustentando que esta é uma ideia "perigosa" importada do exterior e que pode minar a estabilidade de um país.
"É preciso cuidado, é preciso evitar taxar este ou aquele como ditador, ou como ditador perigoso, ou como ditador que não aceita mudanças. Acho que é preciso cuidado porque, além da ditadura, há um elemento importante que é a estabilidade e mais o Estado. Precisamos de estabilidade para, na estabilidade, construirmos então as instituições do Estado de Direito", afirmou Pedro Pires, que recebeu este ano o Prémio Mo Ibrahim por boa governação em África.
Falando à margem da 3.ª Conferência Regional sobre a Paz na África Ocidental, que começou hoje na Cidade da Praia e se prolonga até quarta-feira, Pedro Pires considerou que as "soluções externas" para África constituem uma "má teoria".
"Essa vossa teoria [dos países desenvolvidos] de regimes ditatoriais que devem ser mudados pela força, e se necessário, pela força exterior, é uma má teoria e é péssima. As soluções são internas. Quando nós obrigamos a uma solução externa, isso é uma espécie de enxertia que pode ter rejeições, como na Física e Biologia", defendeu.
Questionado pela Agência Lusa sobre se o diálogo deve prevalecer nos regimes ditatoriais, Pedro Pires insurgiu-se: "Quais? Se me disser quais, eu daria resposta. Quais os regimes ditatoriais a que se refere?".
Perante os exemplos assumidos por organizações internacionais, que citam os casos da Guiné Equatorial, Zimbabué e Sudão, Pedro Pires respondeu: "Eu não sei se são tão ditatoriais como vocês dizem. As organizações internacionais também têm as suas orientações e eu não vou nessa. Eu analiso caso a caso. Espero e conto com a sabedoria das populações que, a partir daí, encontrarão as soluções", indicou.
O ex-chefe de Estado cabo-verdiano, que recebeu em novembro o Prémio Mo Ibrahim, pela boa governação em África, salientou, por outro lado, que o continente em geral e a África Ocidental, em particular, vão enfrentar dificuldades devido à crise financeira internacional.
"A crise económica e financeira internacional terá reflexos em todos os países, em todos os continentes. O que vai variar é a intensidade dos reflexos, menor ou maior, neste ou naquele país. Se há uma crise financeira, se há uma redução da produção e se há uma redução da procura, está claro que tem impacto em qualquer sítio, mesmo numa economia tão pujante como a da China", afirmou.
Lembrando que essa mesma crise vai trazer problemas sociais, como menos emprego e menos recursos, Pedro Pires alertou para a necessidade de os governos terem de, nos respetivos países, antecipar medidas para a combater
Sobre se a atribuição do Mo Ibrahim lhe trará mais responsabilidades em África, o ex-Presidente cabo-verdiano (2001/11) admitiu que sim, mas não de forma especial.
"O prémio é africano atribuído a um africano. Certamente que dá um bocadinho mais de responsabilidade, mas não dá responsabilidade especial. Eu não vou assumir nenhuma responsabilidade especial. Vou continuar a fazer o que tenho feito", concluiu.
Na foto: Eduardo dos Santos, 32 anos no poder sem nunca ter sido eleito… Para Pedro Pires isso é democrático, nem lhe passa pela cabeça que o PR angolano é um ditador e suporte de um regime em parceria com o MPLA e as redes de corrupção e de altos interesses que espoliam os bens que pertencem a todos os angolanos, à República de Angola. Como se não bastasse no título a seguir tem outro exemplo de ditador africano na Guiné Equatorial. Que se passa na mente de Pedro Pires? Porque não se trata? (PG-ALM)
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