DANIEL OLIVEIRA – EXPRESSO, opinião, em Blogues
Há uma enorme indignação com a greve dos maquinistas da CP. No caso, fizeram uma greve total para impedir os processos disciplinares contra alguns dos que aderiram à greve anterior. A CP não pode ficar refém dos maquinistas, diz-se. E os maquinistas podem ficar reféns do autoritarismo da administração da CP?
Confesso que não me deixo de espantar com a esquizofrenia argumentativa que se instalou no nosso País. Quando se fala de leis laborais, abandona-se o discurso moral e ético. As coisas são como são e nós temos de ser competitivos. Quando se fala da dívida também só há pragmatismo. Devemos a quem devemos e eles têm a faca e o queijo na mão. Quando se fala da Europa é a lei do mais forte que conta: eles mandam e nós obedecemos. Quando se fala dos mercados não vale a pena tentar negar a realidade. Quando se fala dos trabalhadores o discurso moral aparece como por milagre. E já interessa saber não apenas o que é mas o que devia ser.
Vou usar a mesma lógica que parece ser aceite como indiscutível: sem maquinistas os comboios não andam. Como é uma profissão que exige especialização, não podem ser substituídos de um dia para o outro por um qualquer avençado a recibos verdes. Tudo isto dá-lhes força. E eles usam esse poder em seu favor. Não é assim que as coisas funcionam?
Claro que sou dos que acham que os sindicatos não devem representar corporações profissionais dentro de uma empresa. Independentemente da razão que assiste aos maquinistas, defendo um sindicalismo de classe. Ou seja, em que a solidariedade faz com que os trabalhadores, com mais ou com menos peso negocial, lutem juntos por todos os grupos profissionais de uma mesma empresa ou sector. Até porque as lutas isoladas de trabalhadores com mais peso negocial tendem a criar injustiças e desigualdades dentro de cada empresa. Mas eu tenho autoridade para o escrever. Quem defende a inevitabilidade da lei do mais forte só tem de aguentar. Não gostam da luta dos maquinistas? Aprendam a conduzir comboios.
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