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Lisboa, 28 dez (Lusa) - O secretário-executivo da comunidade lusófona defendeu hoje que a "perturbação da ordem" dos últimos dias na Guiné-Bissau confirma as dificuldades do processo de estabilização do país, considerando "compreensível" a existência de alguns recuos.
"Confirma-se o que já sabíamos, que [a estabilização] não seria nunca um processo fácil. Estamos a falar de reformas que mexem com a vida das pessoas e, portanto, é compreensível que haja alguns recuos", disse o guineense Domingos Simões Pereira.
O secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) falava à agência Lusa, por telefone, a partir de Bissau, onde se encontrava de férias quando no início da semana um conflito entre militares resultou na detenção, entre outros, do Chefe do Estado-Maior da Armada, contra-almirante Bubo Na Tchuto, e em duas mortes.
Na Tchuto é acusado de envolvimento nesta ação, que o chefe das Forças Armadas, António Indjai, qualificou de "tentativa de subversão à ordem constitucional", mas que o governo nega encarar como uma tentativa de golpe de Estado.
A agitação trouxe à memória os acontecimentos de abril de 2010, quando Bubo Na Tchuto esteve envolvido numa operação que resultaria no afastamento de Zamora Induta da chefia das Forças Armadas e na sua substituição por António Indjai, e fez soar o alarme da instabilidade no país.
Domingos Simões Pereira recusa que estes acontecimentos adensem as preocupações da organização lusófona em relação à Guiné-Bissau, sublinhando "a mobilização da sociedade e a preocupação das instituições da República".
"O que isto nos dá é uma maior capacidade de enfrentarmos os desafios que estão à nossa frente, sabendo à partida que não podem ser simples porque o nível de rutura interna também não é pequeno", disse.
Questionado sobre se teme que o conflito possa ter novos desenvolvimentos nos próximos dias, Domingos Simões Pereira afirmou dispor de "informação oficial" de que "as forças armadas e de segurança controlam totalmente a situação".
"E assim parece ser", adiantou.
Mas, para Domingos Simões Pereira, o fundamental é chegar às causas da situação.
"Se não conseguirmos chegar ao fundo da questão, às causas da situação, estaremos sempre a elaborar com meias informações, o que não convém", disse, fazendo votos que a comissão de inquérito aos conflitos militares, anunciada pelo Governo, tenha condições para trabalhar.
"É importante que (...) a comissão de inquérito possa de facto, desta vez, fazer o seu trabalho até ao fim e assegurar que aqueles que contam, que são parte deste processo de reforma, continuem mobilizados e a merecer a confiança da comunidade internacional", sublinhou.
Domingos Simões Pereira disse à Lusa que vai permanecer na Guiné-Bissau por tempo indeterminado para fazer contactos e recolher informações que possam beneficiar a continuidade da estratégia de relacionamento da CPLP com a Guiné-Bissau.
Para já, Domingos Simões Pereira afirma dispor apenas da versão oficial sobre os acontecimentos.
"Com os contactos informais que vou mantendo, tenho a ambição de perceber as razões e os desequilíbrios que eventualmente tenham motivado mais esta perturbação da ordem", disse.
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