sábado, 3 de dezembro de 2011

Não há alternativas às negociações climáticas, diz ministro alemão do Meio Ambiente



DEUTSCHE WELLE

"Como queremos obter crescimento e como queremos viver? Não às custas da próxima geração", diz Norbert Röttgen, ministro alemão do Meio Ambiente, em entrevista à Deutsche Welle.

DW-WORLD.DE: As emissões de CO2 subiram mais do que nunca este ano. A viagem a Durban valerá a pena assim mesmo?

Norbert Röttgen: Seria inaceitável não participar. Conhecemos os resultados positivos, mas não o nível dos negativos, enquanto, na verdade, o contrário é que procede. Ou seja, torna-se cada vez maior o abismo entre o que é feito para diminuir as emissões de CO2 pelos países e as próprias emissões de CO2. Logo, é indispensável tentarmos dar uma resposta global a um desafio global, a um problema da humanidade. Isso demanda um grande esforço, mas não há alternativa.

Muita gente que acompanha há anos a política climática mundial diz que em Durban, muito provavelmente, nada de muito concreto será decidido. O senhor está indo para a África do Sul com metas bem modestas?

É preciso dizer que a comunidade internacional não achou ainda uma resposta adequada às mudanças climáticas, mas dizer que nada está sendo feito é uma afirmação errada. Na Conferência de Cancún, definimos pela primeira vez metas compulsórias, visando a limitar o aquecimento global a 2ºC.

Foram também iniciadas diversas medidas nacionais, tanto na Europa, na Alemanha, como também, por exemplo, na China, nos países africanos, em outros continentes. Isso significa que há algo em movimento. Determinamos também medidas de financiamento das medidas de proteção ambiental. Há o financiamento Fast Start até 2012, programas de proteção das florestas, tecnologias. Criamos métodos capazes de avaliar as medidas, em prol da transparência do processo. Tudo isso está acontecendo.

Mesmo assim, a impressão é que se trata de uma corrida contra o tempo, que o setor político não poderá ganhar.

Isso não está ainda decidido. Em algum momento, daqui a alguns anos, no mais tardar em uma década, terá sido ultrapassado o ponto em que ainda podemos tomar medidas preventivas. É o chamado peak point, a partir do qual o aquecimento global estará fora de controle. Agora ainda é possível, mas é uma corrida contra o tempo. As emissões aumentam e a capacidade de ação da política internacional tende a se estagnar.

Países como os EUA, a China e a Índia são, por razões diversas, contra acordos concretos. Há, de fato, alguma chance de vencer, pelo menos em parte, a resistência desses países?

No que diz respeito a acordos internacionais, a curto prazo, não. Mas o que pretendemos nesta conferência em Durban é que os dois países [China e EUA], responsáveis por quase 50% das emissões globais, aceitem uma agenda, a partir da qual eles caminhem rumo a regras obrigatórias, em um nível condizente com o problema. Isso é o que eles, na nossa opinião, deveriam aceitar. Acredito que o cerne da negociação para definir essa agenda seja agora. Trabalhamos de maneira decisiva neste sentido.

Os chineses podem, se quiserem, definir, de cima para baixo, mudanças no país. Já a política interna norte-americana parece estar completamente paralisada. O senhor acredita ser possível mudar alguma coisa em Washington?

Não se trata, na minha opinião, muito da administração norte-americana, que tem outra visão do problema do que o governo alemão ou a Comissão Europeia. A administração norte-americana não tem um mandato de política interna.

Em outras palavras, não se pode ganhar eleições com isso, mas talvez perder. Entre os republicanos, o assunto não é bem-vindo, mas nas fileiras dos democratas também não aparece em larga escala. De qualquer forma, não é dada importância ao tema. Isso reflete, por outro lado, o grau de consciência de grande parte da população.

Isso é responsável pela falta de capacidade de ação da política norte-americana neste setor. Isso é um problema para o mundo, mas também para os EUA especificamente, já que se trata, sem dúvida alguma, de um importante campo de ação da política internacional, da política econômica, mas também das relações com os países em desenvolvimento e com os emergentes. Corre-se o risco de que a erosão da capacidade de ação internacional dos EUA se torne visível e se perpetue – algo que ninguém no Ocidente gostaria de presenciar.

A Alemanha se coloca, provavelmente com razão, como precursora da tecnologia verde, mas também como representante de uma consciência ambiental ecológica generalizada. Em uma conferência como essa, ouve-se a Alemanha com especial atenção?

Olha-se com atenção para nós. E acredito também que temos uma boa reputação. A palavra alemã tem peso, pois somos confiáveis e agimos em território nacional de maneira mais veemente do que as exigências internacionais que apresentamos, pois dispomos de potencial econômico e know how tecnológico para tal. E porque a esfera política na Alemanha, ou seja, a inovação tecnológica e a consciência ecológica, que você descreveu, estão ancoradas no centro da sociedade. Isso faz parte da política alemã, independentemente das mudanças de governo. E é o que faz a força política, ou seja, a continuidade.

A Alemanha está abandonando a energia nuclear, como primeira grande nação entre as potências industriais. Isso vai, na realidade, piorar ou melhorar o nível de emissões da Alemanha?

É obviamente uma chance de melhorar, porque o abandono da energia nuclear está atrelado à adesão à eficiência energética e às energias renováveis, que, em 2050, deverão perfazer 80% do fornecimento de energia. Temos, de qualquer forma, um limite europeu de emissões de CO2 para o setor energético a partir de 2013. Trata-se de um limite que não poderá ser ultrapassado. Este nível, que aos poucos será reduzido, é uma concessão ao setor energético. Por isso não há influência sobre o nível europeu.

Mas o abandono da energia nuclear tem também a função de pressionar para que sejam feitos investimentos em energias renováveis. A clareza para os investidores, hoje já existente, vai aumentar. E o setor político vai continuar fazendo pressão a fim de incentivar as energias renováveis e de disponibilizar a infraestrutura, de forma que, com o passar do tempo, tudo fique cada vez mais visível e mensurável: é a política de redução de CO2 e proteção ambiental que caracteriza essa mudança energética.

Em Copenhague, em uma cúpula do clima que começou cheia de esperanças e acabou fracassada, foi destinado um fundo anual de 100 bilhões de dólares para os países em desenvolvimento até 2020. Essa é uma opção realista, se a crise financeira abala todo o mundo?

Acho que sim, porque a crise financeira é um sinal de alarme sobre o mesmo problema: uma sustentabilidade deficiente, pensamentos de curto prazo, miopia social, excesso de lucros. É uma vida, uma forma econômica, uma política, que age como se não houvesse amanhã. Isso vale para os mercados financeiros, mas também para as condições ecológicas de crescimento.

Não teremos um crescimento econômico contínuo se não protegermos os recursos naturais e se não desenvolvermos processos industriais e econômicos que respeitem o clima. E as duas coisas são compatíveis. Não é nenhum paradoxo, mas um sinal de alarme, o fato de estarmos vendo que, nos mercados financeiros e no endividamento dos Estados, a vida excessiva leva ao colapso, em todos os setores. Essa é talvez a reviravolta cultural que está por trás da reviravolta econômica e energética: é preciso parar de viver às custas da próxima geração e de seus recursos.

Isso significa que, não importam os resultados em Durban, que o senhor irá defender individualmente, de fato, uma política industrial sustentável totalmente distinta?

Sim. É por isso que o assunto é abordado de maneira mais ampla! Não precisamos renunciar ao crescimento nem ao desejo de crescimento, ao sucesso econômico, industrial. Trata-se de desenvolver uma forma de vida, uma forma econômica que propicie o progresso, o crescimento, mas ao mesmo tempo não esgote ou destrua os recursos e o capital da próxima geração.

Chamo isso de paradoxo da Modernidade: o fato de o êxito econômico, como o obtido hoje, ser ao mesmo tempo a razão de que, no futuro, não iremos mais alcançá-lo, porque roubamos dele os fundamentos. Por isso precisamos de um novo paradigma para o desenvolvimento econômico e o crescimento.

A ideia é a de crescimento sustentável, que não destrua o futuro, mas o preserve. Acredito ser esta a única chance para o desenvolvimento dos países industrializados, mas também dos emergentes e dos em desenvolvimento. Acho que a grande questão do nosso tempo é: "Como queremos obter crescimento, como queremos viver? Não às custas da próxima geração".

Entrevista: Alexander Kudascheff (sv) - Revisão: Roselaine Wandscheer

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