RENATO N. PEREIRA - BARLAVENTO
Já tem algumas semanas a notícia de ter a Palestina sido admitida na UNESCO. Mas vale a pena voltar ao assunto.
As autoridades comunitárias pediram aos estados europeus para votarem todos no mesmo sentido, pela abstenção. Portugal anuiu. O Ministro dos Negócios Estrangeiros explicou e muito bem que a Europa devia votar a uma só voz. Mas a Europa mostrou-se desunida e houve votos para todos os gostos. Os EUA amuaram e decidiram suspender a entrega do montante que lhe cabe no orçamento da UNESCO e que pesa 22% nas receitas desta organização. De uma só vez, o Mundo Ocidental mostra a fosso em que se está a afundar.
Perante a ascensão da China e de outras potências emergentes, que votaram, em grande parte a favor da Palestina, a Europa apresenta-se fragmentada. Os EUA isolam-se. Vai ser fácil aos BRIC fazerem um brilharete e assumirem uma parte importante do que os EUA dizem deixar de pagar.
A Europa e o seu peso demográfico, económico e político, está-se a ver, não existe. No dia em que for preciso falar a sério com a China, como vai ser? A Europa imperou no Mundo, durante séculos e muitas vezes mal. E está-se a por a jeito para ser dominada pelos BRIC. Pior, o Ocidente está dividido. Perante a China, não chega uma Europa unida. É essencial que a União Europeia, os EUA e o Canadá, no mínimo, se articulem e negoceiem com a China com uma posição única. O assunto deveria ser o de integrar o euro com o dólar e não a sobrevivência do euro.
O Ocidente está desunido. A China poderá assim escolher: se for suficiente aos seus intentos, vai manobrando entre desavenças do Ocidente e levando as suas posições avante. Mas, se tiver dificuldades, pode sempre ter uma posição imperialista, sem se sentir desautorizada para tal, já que pode desculpar-se com o que sofreu no passado às mãos da Europa. E pode sempre arranjar uns quantos Estados ocidentais que lhe sejam favoráveis.
A humanidade atingiu um grau de civilização, quer na sua capacidade destrutiva, quer na reflexão sobre as vantagens em o evitar, que decerto levará as novas potências a evitar os erros do passado, a começar pelo imperialismo. Mas o Ocidente não deve contar com tal demonstração de civilização e descurar a sua capacidade negocial com as novas potências.
Perante a crise económica que será demorada, é assim que o Ocidente se apresenta ao Mundo?
Como quer o Ocidente (Europa e EUA) negociar com a China a valorização da moeda chinesa, favorecendo simultaneamente as exportações europeias e norte-americanas e a diminuição das nossas importações? Como queremos (Europa e EUA) negociar na OMC as questões de dumping social e ambiental da indústria chinesa?
A questão da adesão da Palestina à UNESCO não é um assunto menor, mas é, apesar de tudo, apenas um aspeto. Os desafios económicos entre blocos são muito mais do que uma questão. É tão só a sobrevivência da Europa e do Ocidente o que está em causa. E se, na UNESCO a Europa se mostra tão desunida, não sendo sequer exequível pensar em se articular com os EUA. Como espera em questões essenciais ter capacidade para negociar com os BRIC?
Está visto que Portugal tem de por um olho na UE e outro na CPLP, incluindo Timor e Macau, para estabelecer, por si, uma estratégia de sobrevivência internacional na eventualidade de falência do projecto da União Europeia. Esta foi a estratégia seguida desde os anos 90, embora com uma evolução relativamente lenta, de valorizar Portugal no Mundo por estar na UE e ganhar peso na UE por nos apresentarmos como portadores de uma língua e cultura com presença em todo o planeta.
*Economista no CHBA, docente da Faculdade de Economia da UAlg, membro www.vialgarve.org, renato.pereira@criarvalor.com
Perante a ascensão da China e de outras potências emergentes, que votaram, em grande parte a favor da Palestina, a Europa apresenta-se fragmentada. Os EUA isolam-se. Vai ser fácil aos BRIC fazerem um brilharete e assumirem uma parte importante do que os EUA dizem deixar de pagar.
A Europa e o seu peso demográfico, económico e político, está-se a ver, não existe. No dia em que for preciso falar a sério com a China, como vai ser? A Europa imperou no Mundo, durante séculos e muitas vezes mal. E está-se a por a jeito para ser dominada pelos BRIC. Pior, o Ocidente está dividido. Perante a China, não chega uma Europa unida. É essencial que a União Europeia, os EUA e o Canadá, no mínimo, se articulem e negoceiem com a China com uma posição única. O assunto deveria ser o de integrar o euro com o dólar e não a sobrevivência do euro.
O Ocidente está desunido. A China poderá assim escolher: se for suficiente aos seus intentos, vai manobrando entre desavenças do Ocidente e levando as suas posições avante. Mas, se tiver dificuldades, pode sempre ter uma posição imperialista, sem se sentir desautorizada para tal, já que pode desculpar-se com o que sofreu no passado às mãos da Europa. E pode sempre arranjar uns quantos Estados ocidentais que lhe sejam favoráveis.
A humanidade atingiu um grau de civilização, quer na sua capacidade destrutiva, quer na reflexão sobre as vantagens em o evitar, que decerto levará as novas potências a evitar os erros do passado, a começar pelo imperialismo. Mas o Ocidente não deve contar com tal demonstração de civilização e descurar a sua capacidade negocial com as novas potências.
Perante a crise económica que será demorada, é assim que o Ocidente se apresenta ao Mundo?
Como quer o Ocidente (Europa e EUA) negociar com a China a valorização da moeda chinesa, favorecendo simultaneamente as exportações europeias e norte-americanas e a diminuição das nossas importações? Como queremos (Europa e EUA) negociar na OMC as questões de dumping social e ambiental da indústria chinesa?
A questão da adesão da Palestina à UNESCO não é um assunto menor, mas é, apesar de tudo, apenas um aspeto. Os desafios económicos entre blocos são muito mais do que uma questão. É tão só a sobrevivência da Europa e do Ocidente o que está em causa. E se, na UNESCO a Europa se mostra tão desunida, não sendo sequer exequível pensar em se articular com os EUA. Como espera em questões essenciais ter capacidade para negociar com os BRIC?
Está visto que Portugal tem de por um olho na UE e outro na CPLP, incluindo Timor e Macau, para estabelecer, por si, uma estratégia de sobrevivência internacional na eventualidade de falência do projecto da União Europeia. Esta foi a estratégia seguida desde os anos 90, embora com uma evolução relativamente lenta, de valorizar Portugal no Mundo por estar na UE e ganhar peso na UE por nos apresentarmos como portadores de uma língua e cultura com presença em todo o planeta.
*Economista no CHBA, docente da Faculdade de Economia da UAlg, membro www.vialgarve.org, renato.pereira@criarvalor.com
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