João José Cardoso - Aventar
Entrámos na vertigem da caridadezinha agora chamada de voluntariado, registo que será o do ano de 2012. Não vou agora discutir a mais hipócrita das formas de perpetuar a miséria, é natal e estou contagiado pelo espírito de paz, amor e peúgas. Mas há um limite de decência para a propaganda travestida de jornalismo: os pobres também têm direito ao anonimato e ao sossego, senhores, mesmo que não tenham capacidade de se defenderem da vossa falta de vergonha.
Porque não vão entrevistar o Américo Amorim e acompanham a sua triste consoada? porque não tem Ricardo Espírito Santo direito a uma perguntinha sobre o bacalhau e se estava bem servido? porque não se questiona Belmiro de Azevedo sobre o frio de dezembro e se confirma se teve agasalhos que o abrigassem na noite da consoada?
É mais fácil ir para a rua e para as cozinhas económicas deste mundo entrevistar voluntários muito cristãos (excepto na soberba, no ódio ao franciscano e no esquecimento do velho princípio de que a caridade não se exibe) e sobretudo os desgraçados que além da indigência ainda levam com a devassa da sua privacidade, e essa é a miséria do jornalismo desta quadra. Mas será só por ser mais fácil?
Eu sei que quando um pobre escorrega cai logo em cima de um monte de merda mas um pouco de decência nas televisões ficava bem, ao menos no natal.
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