CARVALHO DA SILVA – JORNAL DE NOTÍCIAS, opinião
É preciso analisar os graves problemas económicos e sociais com que se depara a Região Norte. Entretanto, há que construir, com os cidadãos que residem nessa região e com as suas organizações e instituições, respostas concretas à crescente fragilização da sua estrutura económica e às carências sociais.
Essa análise e desafio devem ser feitos no quadro do debate sobre o modelo de desenvolvimento do país no seu todo.
Dar norte ao Norte significa, pois, dar futuro a Portugal.
Quando se analisa a situação do Porto e do Norte do país, como de resto as condições de outras regiões, surge uma certa focalização das causas dos seus problemas na "macrocefalia de Lisboa". Reconheço alguma verdade naquela constatação, mas não em todos os tempos, nem em todas as áreas da intervenção.
A macrocefalia de Lisboa tem sido, muitas vezes, construída em favor de estratégias e interesses de alguns portugueses que tanto se instalam em Lisboa, no Norte ou no Sul.
Em certas fases, um forte poder económico tem estado situado na Região Norte e, historicamente, também não se pode falar do Norte como um espaço geográfico e uma população com absoluta coesão territorial ou cultural (há microculturas). O Porto, naturalmente, foi e é, em certos contextos, pólo de centralidade em relação ao todo da região. E os fenómenos de desertificação, ou de concentração de actividades e populações em centro maiores, também existem, em escalas diferentes, dentro da região.
O problema mais profundo situa-se no modelo de desenvolvimento do país. Precisamos de estrutura e actividade económica sustentadas e modernas, de equilíbrio entre as dimensões sociais, económicas, culturais e políticas para uma sociedade de progresso e de desenvolvimento humano, onde a coesão da sociedade seja seriamente trabalhada.
No Norte estavam instaladas indústrias que entraram em declínio. Algumas por efeito de mudanças de contextos de concorrência no plano europeu e mundial, outras porque os seus proprietários se encostaram à sombra de apoios do Estado, ou não utilizaram os lucros para reinvestimento.
A política nacional de desindustrialização, de desvalorização de profissões e actividades essenciais - em nome de um modernismo bacoco -, de incremento exagerado do consumo, de promoção do individualismo, ajudaram a empurrar essa região - industrial e laboriosa - para comportamentos de desatenção e falta de responsabilização pelo seu desenvolvimento. Mas há ainda muito a defender e valorizar.
Uns anos atrás, participei num debate, em Moreira de Cónegos, a convite de uma Associação Empresarial, sobre os problemas do desenvolvimento da região, as dificuldades das empresas, a quebra do investimento público, as contradições das políticas de emprego e a já elevada taxa de desemprego em vários concelhos.
Uma das pessoas presentes, filho de um empresário da região, apresentou uma situação típica da actuação da Banca. Ele havia tentado obter um empréstimo para criar uma pequena empresa, tinha o aval o pai, foi várias vezes ao banco e este não lhe concedia o empréstimo. Mas para comprar um carro de gama média/alta o banco já lhe concedia empréstimo de valor igual àquele.
Há que inverter políticas e comportamentos e tratar a sério dos problemas sociais mais gritantes.
O Norte precisa de reforço de investimento público e privado, mas que este seja voltado para actividades que respondam às necessidades dos portugueses e ao aumento da produtividade média da região que era, em 2009, apenas 84% da nacional. Urge a criação de emprego! A região tem 42% do desemprego do país e uma taxa superior à média nacional.
A distribuição da riqueza tem de ser melhor e isso implica uma melhoria dos salários, no contexto da promoção de actividades mais produtivas. Aumentar a cobertura de protecção no desemprego e o combate à elevada taxa de pobreza são outros objectivos imediatos a assumir.
A valorização e responsabilização das pessoas a partir do trabalho digno e a defesa do Estado Social - objectivos interligados - são, no Norte como no país, combates prioritários.
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