domingo, 4 de dezembro de 2011

Rússia: ELEIÇÕES DA “TRETA” DÃO VITÓRIA A PUTIN COM O “RÚSSIA UNIDA”




Ciberataque cala críticos do Kremlin em dia de eleições na Rússia

Romana Borja-Santos – Público

Sites denunciavam irregularidades

O dia das eleições legislativas na Rússia começou com um ciberataque a vários sites que estavam a denunciar algumas ilegalidades relacionadas com o escrutínio.

Os hackers conseguiram bloquear o acesso às edições online dos jornais Kommersant e Slon, da revista New Times e de vários sites de órgãos pertencentes à emissora Ekho Moskvy. O mesmo ataque afectou também o site Golos, a organização de observadores independentes que tem estado a acompanhar as eleições russas.

Alexeï Venediktov, director da Ekho Moskvy, denunciou o incidente na sua conta na rede social Twitter, onde disse mesmo que o carácter massivo dos ataques coloca em causa a legitimidade do processo eleitoral. Também Maxim Kashulinsky, director do Slon denunciou, à Reuters, que “existe um sentimento de que a Comissão Eleitoral Central da Rússia e os hackers estão a agir juntos”.

Segundo contou à AFP Dmitri Merechko, porta-voz da Golos (que em russo significa votos ou voz), a organização recebeu cerca de 50.000 tentativas de visita por segundo, o que bloqueou o site. Na semana que precedeu as eleições os colaboradores da organização já tinham visto os seus emails bloqueados. O ciberataque tentou também atingir a plataforma Live Journal – uma das eleitas pelos bloguistas russos – e que é regularmente vítima de tentativa de ataques.

A Golos criou uma página online que agregava as denúncias de todas as irregularidades relacionada com a campanha e com o dia das eleições propriamente dito e onde surgiram exemplos de 4000 casos concretos, 3000 dos quais relacionados com o partido Rússia Unida. A polémica criada por esta acção foi de tal forma grande, que a directora desta organização não governamental foi detida quando regressava ao país.

O método utilizado pelos hackers para bloquear os sites foi o DDOS, que é o tipo de ataque mais comum. O DDOS, um ataque distribuído de negação de serviço, bombardeia o site alvo com um grande volume de pedidos de acesso, fazendo com que este se torne mais lento e, eventualmente, fique inacessível.

No entanto, o Presidente Dmitri Medvedev recusou-se a comentar as alegadas situações que fraude que têm ensombrado estas legislativas. A comissão eleitoral também não quis fazer comentários.

As urnas arrancaram às 08h00 locais (mais quatro horas que em Lisboa) e vão estar abertas nas próximas 12 horas, mas o país é de tal forma grande e tem tantos fusos horários que há um grande desfasamento entre as várias assembleias de voto. Ao meio-dia a Comissão Eleitoral Central da Rússia mostrou-se satisfeita com o nível de participação.

Nas eleições de hoje, onde são chamados a votar 110 milhões de eleitores, de todas as formas o Rússia Unida não deverá ter grandes dificuldades em confirmar uma vitória, mas o descontentamento e apatia crescentes das novas gerações deverão cortar-lhe o domínio absoluto. O factor que os analistas descrevem como "mais excitante" nas legislativas de hoje na Rússia é a eventual perda na Duma da maioria constitucional do Rússia Unida (no poder e liderado por Vladimir Putin) – como expressão de uma "tendência clara" de quebra de popularidade e erosão da estabilidade, no cenário político do país que se perpetua há mais de uma década.

A última sondagem a ser permitida antes do sufrágio atribuía ao Rússia Unida 253 assentos parlamentares: uma baixa considerável dos actuais 315 (no total de 450 deputados), mas nem por isso reduzindo as capacidades de manobra do regime, com a esmagadora maioria dos eleitores a não encontrarem alternativas credíveis na oposição a Putin, agora primeiro-ministro, e a Dmitri Medvedev, o actual Presidente, a cumprir os últimos meses de mandato e que encabeça a lista do Rússia Unida nestas legislativas. No dia 4 de Março os russos irão novamente às urnas para escolher um novo Presidente, sendo Vladimir Putin, que já cumpriu dois mandatos como chefe de Estado (o actual é Dmitri Medvedev) o candidato com mais intenções de voto.

Relacionadas em Público:

Polícia detém manifestantes em Moscovo e São Petersburgo

RTP

A polícia fez numerosas detenções de militantes da oposição que tentaram manifestar-se na capital russa e em São Petersburgo contra as eleições parlamentares.

Em Moscovo, a Praça Triunfalnaia foi cercada por dezenas de polícias e soldados do Ministério do Interior da Rússia para evitar a reunião de manifestantes.

Roman Dobrokhotov, dirigente da organização da oposição Nós, contou à Lusa, por telefone, que foi detido não obstante ter mostrado à polícia a credencial de jornalista.

"Eu mostrei-lhes a credencial de jornalista, mas de nada adiantou. Fui detido e trazido para um carro celular, onde me encontro com mais seis pessoas. Não sei o que vai acontecer depois", acrescentou ele.

Ao início da tarde, a polícia deteve pelo menos 12 militantes da Frente de Esquerda que se tentaram manifestar no centro de Moscovo.

Os agentes de segurança detiveram também um número ainda não determinado de pessoas em São Petersburgo. Os opositores consideram que "o escrutínio não passa de uma farsa".

Os partidos que participam nas eleições queixam-se de violações em massa no escrutínio. O Partido Comunista queixa-se dos "carrosséis" organizados pelo Partido Rússia Unida, dirigido pelo primeiro-ministro e Presidente do país, Vladimir Putin e Dmitri Medvedev. Isto consiste em que as mesmas pessoas, a troco de dinheiro, votam em numerosas mesas de voto, sendo transportados por autocarros colocados à disposição pelo partido que detém o poder na Rússia.

O Partido Rússia Justa e o Partido Liberal Democrático acusam as comissões eleitorais de não permitirem o acesso às mesas de voto.

O Partido Rússia Unida contra-ataca, acusando a oposição de "propaganda eleitoral ilegal", como distribuição de panfletos e jornais junto das secções de voto.

A Comissão Eleitoral Central da Rússia anunciou ter recebido mais de 60 queixas, que irá analisar.


*Título da postagem de PG

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