João Ramos de Almeida, Graça Barbosa Ribeiro - Público
A fuga de profissionais qualificados não é nova, mas é cada vez mais difícil, pela falta de alternativas na Europa – a crise é generalizada.
A sugestão do primeiro-ministro de que os professores deviam olhar para os países de língua portuguesa como uma alternativa ao desemprego em Portugal, voltou a chamar a atenção para o fenómeno da emigração. Mas, segundo João Peixoto, investigador do Instituto Superior de Economia e Gestão, "a atenção política e mediática em relação a este fenómeno é o único dado novo". "Para tomar a decisão de emigrar não basta estarmos mal aqui, é preciso que tenhamos para onde ir", comenta o professor, que acredita que a saída de profissionais qualificados do país, em 2011, não foi "muito superior" à que se tem verificado anualmente, ao longo da última década.
A abertura das fronteiras, na Europa, não permite trabalhar com dados rigorosos sobre a entrada e saída de cidadãos nos diversos países. Uma ressalva feita por João Peixoto que, no entanto, considera que se sabe o suficiente para adivinhar que "não estará em curso uma emigração em massa". "Os fenómenos migratórios verificam-se quando há uma oferta evidente de emprego num determinado país. Assim se explica que anos 80 tenha havido um surto para a Suíça, na década de 90 para a Alemanha e entre 2000 e 2008 para Espanha. Mas... e agora? As pessoas emigram para onde? Não é fácil encontrar para onde mudar – o problema é generalizado", comenta.
João Peixoto considera que a sensibilidade aos primeiros sinais da crise por parte de profissionais qualificados não é de agora, e os representantes de várias ordens profissionais contactados pelo PÚBLICO, confirmam-no. Enfermeiros, farmacêuticos e médicos-dentistas, por exemplo, têm tido na Europa o destino privilegiado. Engenheiros civis e arquitectos, já ocuparam países europeus, e só agora, com a especial pressão do desemprego no sector da construção civil, se começam a virar para destinos mais distantes, mas onde a oferta de emprego é uma realidade: Brasil e Angola.
"A decisão de sair do nosso país não é fácil - é pesada, dolorosa. Não é por um político afirmar que as pessoas devem fazê-lo que a emigração acontece", disse João Peixoto, que se escusou a fazer mais comentários às declarações de Passos Coelho, que classificou como "nada frequentes, num governante". Na sua perspectiva, mais do que a indicação "seja de quem for", pesa naquela decisão o aumento da taxa de desemprego. O que, tudo indica, é o que vai acontecer.
A fazer fé nos dados dos centros de emprego do IEFP, são os serviços e a construção que estão a marcar o ritmo da subida do desemprego. Depois de um leve abrandamento, o número de desempregados vindos do sector dos serviços estava, em Novembro passado, a crescer 9,4% face a 2010, contra uma ligeira subida de 0,5% na indústria e mesmo uma quebra de 5,2% na agricultura. O número dos desempregados vindos da construção estava, nessa altura, a subir já a um ritmo de 11,3%. Ou seja, mais 70 mil novos desempregados face a Novembro de 2010. Uma evolução que contagiou um conjunto de actividades ligadas à construção. As actividades imobiliárias e de consultoria do sector contribuíram com mais 83 mil novos desempregados, um crescimento de 20% face ao mesmo período de 2010.
Finalmente, o Estado. Desde Junho de 2009 que os serviços públicos têm contribuído para a subida do desempregado. O ritmo da subida de desempregados vindos dos serviços públicos atenuou-se desde Outubro de 2010 até Junho deste ano (de 26,3 para 2,3% de variação homóloga), mas voltou desde então a acelerar fortemente. Em Novembro passado, a variação estava de novo em 18,9 % face ao mesmo período de 2010. Ou seja, mais 46 mil novos desempregados quando comparados com os do mesmo período de 2010.
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