terça-feira, 27 de dezembro de 2011

UMA CARTA DE TIMOR-LESTE




JORGE MESTRE DE TIMOR-LESTE 2011


Jorge escribe una carta de su misión, Timor Leste: A vida no Colégio corre dentro da normalidade, as meninas continuam lindas como sempre, estudam para que um dia transformem a realidade timorense. Essa é pelo menos, a esperança que tenho para o futuro de Timor. Que seja um país que traduza aquilo que o povo deseja para si mesmo. Aqui, é incutido às jovens o valor de viverem de acordo com as suas possibilidades, o de viverem com a noção de que comandam os seus sonhos e que a ambição de tornarem Timor diferente depende delas.

Querida Irmã Lucia,

Creio que devo fazer um pedido de desculpa pelo atraso no envio de novidades. Por aqui, o ritmo é rápido e nem sempre se consegue ter tempo/disponibilidade para escrever.

A vida no Colégio corre dentro da normalidade, as meninas continuam lindas como sempre, estudam para que um dia transformem a realidade timorense. Essa é pelo menos, a esperança que tenho para o futuro de Timor. Que seja um país que traduza aquilo que o povo deseja para si mesmo. Aqui, é incutido às jovens o valor de viverem de acordo com as suas possibilidades, o de viverem com a noção de que comandam os seus sonhos e que a ambição de tornarem Timor diferente depende delas.

Por isso estudam, por isso aprendem aquilo que certamente não teriam possibilidade de estudar e aprender em suas casas.

Tenho dito que a realidade timorense não é aquilo que acontece aqui em casa. Lá fora, sente-se uma espécie de inércia no povo. Uma espécie de espera contínua e despreocupada por algo. Sente-se pouca vontade de lutar por algo, se calhar porque já esgotaram todas as forças na luta pela sua independência, ou se calhar porque aprenderam a viver da caridade, não sei.

O que sei é que à semelhança do que acontece em muitos outros países, sente-se também a injustiça, que aloca a riqueza a alguns em detrimento de a dividir por aqueles que mais necessitam.

Essa é outra das coisas que as crianças e jovens aprendem aqui, que são uma família, e que a família não se mede pelo número de membros que a compõe, são um todo, por isso partilham o que têm entre si, mas também entre aqueles a quem é possível ajudar no exterior.

Este é, na minha opinião, o maior atributo de alguém que faça parte da Família Cristã, o saber partilhar e ter noção de que o que temos não nos pertence só a nós, mas a todos aqueles com quem fazemos Comunidade.

As actividades aqui no Colégio não param, o ritmo é acelerado e a imprevisibilidade uma constante. Nunca sabemos o que o dia seguinte nos reserva.

Sabemos sim, que poderemos aprender algo com aquilo que vamos vivenciando e experimentando ao longo dos dias.

Nem tudo corre como planeamos ou como idealizamos, por vezes, o que desejamos não se realiza, e nisto, refiro-me ao desejo que tinha em poder trabalhar com jovens que vivem do lado de lá dos muros do Colégio.

Agora aprendo que a Missão é “aqui e agora”, e que se calhar seria egoísmo meu permanecer com esta vontade.

Ainda bem que passei por isso, é provavelmente uma lição para a vida.

Aprendemos mais em Missão e com as experiências de missão, do que aquilo que julgamos vir ensinar ou transmitir.

Fiquei muito contente por saber da possibilidade de vir outro Voluntário. Um voluntário não é um herói ou alguém com poderes especiais que seja diferente dos demais, mas acredito que é uma janela de abertura a um mundo desconhecido para as crianças e jovens, isso estimula a curiosidade, a possibilidade de imaginarem um mundo que não conhecem, uma realidade de sonho que desejam para as suas vidas e o seu Futuro.

Desejo que o número de voluntários aumente aqui em casa. Isso traria muita alegria às meninas e certamente pintaria este espaço de mais cor e diversidade.

É com cor e diversidade que se criam vontades novas, sonhos imaginados e metas a atingir. Há dias, fartámo-nos de rir, quando pedi às meninas que fechassem os olhos e tentassem imaginar algo que não viam. Começámos por um grande prato de “Ice Cream”. Perguntei de seguida se todas viam esse prato grande à sua frente.

Todas responderam afirmativamente, exceptuando uma das meninas mais pequenas que abrindo os olhos e com ar sério me respondeu que: “…não Irmão, eu não consigo ver nada…” =)

Não há problema, pois acredito que um dia verá, e quando isso acontecer, será capaz de idealizar metas a atingir. Aprendemos com isto que somos capazes de poder controlar os nossos sonhos e desejos.

O desejar algo, reflecte uma vontade nossa. O segredo reside em querer desejar algo que seja comum àqueles que nos rodeiam.

Há um outro aspecto da vida aqui no Colégio, que certamente será diferente para uma grande maioria de voluntários enviados em Missão. Aqui, os voluntários vivem literalmente em Comunidade, partilhando o mesmo espaço com as Irmãs.

Isso implica uma vida (quase) comum. Viver em comunidade é uma experiência mais profunda que viver em família. Quando partilhamos a nossa casa com a nossa família, não nos vemos com a frequência com que acontece numa vida em Comunidade, ou porque estudamos, ou porque trabalhamos…

Aqui não…somos convidados a permanecer em família 24h por dia. Como em família, há dias bons, e dias menos bons, mas há também a certeza de que o que nos une é um mesmo ideal e foi com base nesse ideal, que todos nós fomos conduzidos para este mesmo local.

Esta comunidade é um exemplo de paz e reconciliação, pois só desta forma o impossível se torna possível...e não imaginam a quantidade de milagres que temos sorte de presenciar neste espaço.

Agora despeço-me com um abraço de Timor,

Jorge

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