As últimas investigações do caso “Lancha Voadora” que resultaram na prisão preventiva do ex-presidente da Bolsa de Valores (BVC) em Dezembro apontam Veríssimo Pinto novamente como um “próximo” de Paulo Pereira, desta vez numa operação no BAICV.
As informações a que a Inforpress teve acesso constam de um relatório do Banco Africano de Investimentos Cabo Verde SA (BAICV) datado da primeira semana de Janeiro em resposta a uma notificação da Procuradoria-Geral da República (PGR) “sobre operações realizadas por clientes arguidos em processo crime a decorrer”.
O documento reporta o depoimento de um funcionário do BAI - que não é da área comercial mas fez esta operação uma “única vez” porque estava a substituir a directora comercial ausente - perante uma equipa de cinco dirigentes nomeada pela Comissão Executiva do Banco para o apuramento das informações solicitadas pela PGR.
Nele, o bancário faz saber que, a 7 de Setembro de 2010, foi contactado pelo presidente da Bolsa de Valores, “à data Dr. Veríssimo Pinto, informando-lhe que havia um cliente interessado em subscrever obrigações”.
Comunicou o presidente da Comissão Executiva do BAICV, David Jesse, sobre o assunto, tendo-se depois dirigido às instalações da BVC onde lhe foi entregue “um envelope contendo 140 mil euros, estando o cliente Paulo Pereira presente na sala, não tendo este feito qualquer pronunciamento”.
Aquando da entrega do envelope com tal montante, prossegue o relatório com base no referido depoimento, o ex-presidente da Bolsa solicitou que o mesmo fosse depositado na conta de Paulo Pereira, dizendo que se destinava “à subscrição de obrigações do BAICV”.
Como de um “valor elevado” se tratasse, o bancário afirma ter informado (via telefone) a David Jesse sobre o ocorrido e que este o “instruiu” a depositar “apenas 40 mil euros” e que “o remanescente seria guardado na tesouraria central”.
O funcionário da BAICV admitiu ter tido alguns contactos com Veríssimo Pinto, mas diz que não tem conhecimento se este depósito “foi comunicado ao Banco de Cabo Verde” como manda a lei.
Instado porque não pediu documentos justificativos do valor em causa, respondeu que o fez sim, mas a resposta foi que “o cliente era emigrante, confirmado pelos documentos que constam do processo de abertura das contas”.
Segundo o documento que a Inforpress tem em mãos, a questão reside nos 100 mil euros (11.026.500$00) que, como realça o depoimento do funcionário, foi entregue ao presidente da Comissão Executiva do BAICV que os depositou no BAI Europa, ao abrigo de uma autorização solicitada ao banco central com a data de 20 de Setembro de 2010 e numa conta do BAICV que pertencia a Paulo Pereira.
As consequências deste relatório ainda não podem ser avaliadas, mas fontes do BAICV confirmaram que o presidente David Jesse e alguns outros dirigentes da instituição foram suspensos das suas funções.
A Inforpress apurou junto de fontes judiciais que o Banco de Cabo Verde mandou fazer uma auditoria ao BAICV, tendo já produzido recomendações que já foram enviadas à Procuradoria-Geral da República. Contudo, junto do Banco de Cabo Verde só foi possível confirmar que este tem estado a fazer as auditorias normalmente enquanto instituição supervisora da banca.
Para a melhor compreensão deste assunto, a Inforpress conversou com um magistrado judicial, para quem o procedimento do BAICV seria absolutamente normal caso tivesse feito o depósito de todo o montante na conta de Paulo Pereira, em Cabo Verde, informando a Unidade de Informação Financeira (UIF) e, posteriormente, solicitando autorização para fazer o envio de divisas estrangeiras para o BAI Europa.
Ao invés disso, apontou o magistrado, o que os documentos dizem é que esses 100.000 euros juntamente com outras divisas que saíram do país foram posteriormente depositados pelo presidente da Comissão Executiva no BAI Europa para depois serem transferidos para a conta de Paulo Pereira no BAI Cabo Verde.
No seu entender, só depois dessa transacção é que o BAI Cabo Verde dá ordem de subscrição do cliente Paulo Pereira das suas obrigações que estavam em OPV (Oferta Pública de Venda) na Bolsa de Valores.
Caso se se confirmarem as informações apresentadas sobre Veríssimo Pinto, admitiu o magistrado, pode não pender sobre ele apenas a suspeita de lavagem de capitais, mas também de associação criminosa com Paulo Pereira.
Assim como Veríssimo Pinto, Paulo Pereia está em prisão preventiva e é tido como o dono das mais de 1,5 toneladas de cocaína apreendidas pela Polícia Judiciária, em Outubro de 2011, para além de armas, milhares de euros e outras moedas, viaturas topo de gama, jipes, "pick-up", moto de mar e “moto-quatro”.
Entretanto, o antigo presidente da BVC, que se encontra na cadeia de São Martinho (Praia) desde 22 de Dezembro, diz-se inocente e vítima de uma das “maiores injustiças” na história de Cabo Verde.
Em entrevista ao jornal “A Nação”, Veríssimo Pinto questionou a atitude da Polícia Judiciária e de outros agentes da Justiça porque estão a “passar informações falsas a um jornal da praça, com o objectivo de confundir a opinião pública” e afirma-se ansioso para o seu julgamento porque “quem não deve não teme”.
Veríssimo Pinto foi detido a 21 de Dezembro, no âmbito da Operação “Lancha Voadora” com mais seis pessoas e depois de buscas que a Polícia Judiciária fez a suas empresas e residências onde foram encontrados «documentos comprometedores», que estabelecem ligações dos suspeitos à rede de tráfico de drogas e lavagem de capitais.
Fonte: Inforpress
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