Carlos Morais José – Hoje Macau
Não é meu hábito recorrente escrever sobre o que se passa em Portugal e o modo como é dirigido, bem como as idiossincrasias dos nossos governantes. Mas, no caso vertente, trata-se do Presidente da República. E, por isso mesmo, entendo que, na medida em que ele é, antes de mais, um símbolo do país, mesmo alguém que vive no estrangeiro deve pronunciar-se sobre o assunto.
Ora Cavaco mentiu. E mentiu com todas as migalhas de bolo-rei que lhe restavam na boca. Quem não tem a memória curta como o pavio de um panchão, provavelmente lembrar-se-á das consequências de uma mentira presidencial. Refiro-me ao caso Bill Clinton/Monica Lewisky. Mas o melhor presidente dos Estados Unidos desde Roosevelt mentiu sobre um caso sexual, o que no meu entender até será admissível, na medida em que está em questão a honra e o bom nome de uma mulher e, confessemos, os factos ocorridos são de índole estritamente privada.
Contudo, a justiça americana moveu-lhe uma intensa perseguição. Isto porque se entende que o presidente não pode mentir. E não pode mentir porque, em primeiro lugar, se trata de um péssimo exemplo. E também não pode mentir, como Cavaco o fez, porque na mesa estava a questão dos seus rendimentos, ainda por cima de dinheiro que o presidente recebe mensalmente da bolsa depauperada do Estado.
Como confiar neste tipo de homem? Como mostrar o mais alto magistrado da Nação, que tem de ser um exemplo de integridade, aos nossos filhos? Como encarar o estrangeiro, como defender o país, quando o presidente é um aldrabão quando toca às suas finanças?
Para agravar tudo isto, para além da mentira em si mesma, trata-se aqui da sua qualidade específica num momento determinado. O país atravessa uma crise gravíssima, a maioria dos portugueses sofre com o aumento de impostos, os cortes de salários, o desemprego galopante. E é precisamente neste contexto que Cavaco Silva resolve queixar-se de só auferir 1300 euros por mês, o que nas suas palavras não chega.
Pois não chega, senhor Presidente. Que o digam aqueles que tendo trabalhado realmente muito mais que o senhor se limitam a receber pensões de 300, 500 ou mesmo 800 euros por mês. Mas o doutor Cavaco, provavelmente um dos mais incompetentes políticos/economistas que se sentou na cadeira de primeiro-ministro, não faz ideia de nada disto.
Durante o seu consulado, Cavaco se não roubou deixou roubar. E Portugal esbanjou todo o dinheiro que, nessa época, entrava às carradas da União Europeia. E agora, se não é ladrão ou cúmplice de ladrões, é mentiroso. Apanhado de mentira na boca, dificilmente as migalhas da peta serão esquecidas, o que significa que Cavaco não tem neste momento sequer dignidade para ocupar o cargo.
Resta-lhe a porta de saída e aos portugueses o bom senso de, para a próxima, escolherem um homem digno e impoluto para o cargo de Presidente da República. Por mim, tenho pressa. É que, enquanto português que vive no estrangeiro, gosto de andar de cabeça bem levantada.
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- As assinaturas na Petição Pública para que Cavaco Silva se demita estão muito próximo das 39.000 neste momento.
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