segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

DE VEZ EM QUANDO OS BONS QUEBRAM O SILÊNCIO




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

O bispo do Porto (Portugal) alertou hoje para uma "tremenda tragédia civilizacional" caso a instituição familiar venha a sofrer retrocessos devido à crise e apelou à planificação da sociedade e do trabalho em torno da família.

D. Manuel Clemente está, obviamente, errado. Bastava que tivesse perguntado aos donos do sistema esclavagista português, Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho, para saber que esse temor não passa de uma manobra da reacção.

"É exactamente porque reconhecemos na família o maior e mais pedagógico sustentáculo da sociedade que todos, por motivos religiosos ou humanitários, devemos dar-lhe o apoio social e a primazia legal que indubitavelmente merece", disse o bispo do Porto, Manuel Clemente, durante a missa de Ano Novo.

Os escravos gostaram de ouvir. Continuam de barriga vazia, mas a alma ficou mais cheia. O problema está em que, na sociedade portuguesa, a instituição que dá pelo nome de Família é, já é, uma miragem ou – na melhor das hipóteses – algo residual e quase em extinção total.

O também Prémio Pessoa 2009 citou a mensagem do Papa Bento XVI para o dia mundial da paz de 2012, com o título "Educar os jovens para a justiça e paz", lembrando os progressos alcançados ao longo dos séculos, com a dignificação da mulher, dos pais, dos filhos e dos parentes idosos, bem como a "santificação da própria instituição familiar".

Pena é que, como sumo pontífice do reino lusitano, Passos Coelho e comandita não olhem para o que – neste caso – de bem dizem estes representantes religiosos, um do púlpito da mui nobre, sempre leal e Invicta cidade do Porto e outro do Vaticano.

Aliás, compreende-se que Passos Coelho e a sua antropófaga equipa não passem cartão aos escravos portugueses. Como dono da verdade, ao primeiro-ministro só interessa que os portugueses vivam sem comer e morram ser fazer despesas no Serviço Nacional de Saúde.

Segundo Manuel Clemente (prelado a cujas missas não vai Passos Coelho, a não ser em tempo eleitoral) , "voltar atrás em qualquer um destes pontos seria uma tremenda tragédia civilizacional com graves riscos para a solidariedade e a paz que têm geralmente na família a sua primeira e indispensável pedagogia".

O bispo do Porto acrescentou, ainda, que é que preciso dar às famílias que se constituam "condições materiais e emocionais que as tornem mais sustentáveis e até apetecíveis, planificando a sociedade e o trabalho em função das famílias e da respectiva unidade e não de modo meramente individual e disperso".

Pois é. Bem pode Manuel Clemente continuar a sua pregação. Para os lados do governo português ninguém o ouve, desde logo porque a casta superior só valoriza os que têm toda a liberdade para estarem de acordo com ela.

Manuel Clemente recordou os tempos de crise conjuntural que se fazem sentir na actualidade e apelou a que não se deixe que "os mesmos factores individualistas ou economicistas que negativamente provocaram [a crise] prevaleçam agora, ainda que de outra maneira, sobre os factores familiares e personalistas que foram por demais esquecidos".

O superar da crise só será atingido, segundo o bispo, se houver um empenho "ao máximo" nos elementos realçados pelo Papa Bento XVI na sua mensagem, ou seja, na criação de "condições de trabalho, de convivência familiar, de transmissão de convicções".

Embora sabendo que isso não enche barriga, gosto de saber que nem todos os bons estão em silêncio. Como dizia Martin Luther King, “o que mais me preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem carácter, nem dos sem moral” (o governo está cheio deles), mas sim “o silêncio dos bons".

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: Nobel para o presidente José Eduardo dos Santos e Pulitzer para o Jornal de Angola!

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