Daniel Solyszko, Campinas – Opera Mundi
Com as eleições primárias do Partido Republicano entrando em ponto de ebulição neste mês de janeiro, o mais recente longa-metragem dirigido por George Clooney, ainda em cartaz nas salas de cinema brasileiras, serve como um excelente parâmetro para conhecer uma fração do jogo de intrigas e dos conflitos de interesse que giram em torno do processo eleitoral norte-americano.
Lançado nos Estados Unidos em outubro de 2011, quando a disputa republicana começava a tomar contornos mais claros, “Tudo Pelo Poder” (The Ides of March) toma alguns cuidados para não parecer uma crítica ao partido conservador, girando em torno de uma fictícia primária do Partido Democrata.
Essa diferença não impede traçar paralelos dos fenômenos corriqueiros nessa fase interna da corrida presidencial: os passados dos postulantes ao cargo do "homem mais poderoso do mundo" que são vasculhados; escândalos sexuais (bem mais que os administrativos) levados à tona; inimizades exacerbadas; e alianças pragmáticas que, pela necessidade da vitória, precisam ser forjadas. Tudo entre correligionários que, em tese, partilham dos mesmos ideais.
O filme é narrado do ponto de vista do assessor de imprensa Stephen Meyers (Ryan Gosling), que trabalha para o pré-candidato Mike Morris (interpretado por Clooney). Meyers é chamado às escondidas por Tom Duffy (Paul Giamatti), coordenador da campanha de um candidato rival, para fazer parte da sua equipe. O encontro não resulta em nada, mas a notícia vaza e logo Stephen vê seu cargo ameaçado.
Paralelamente, Meyers começa a manter um caso com uma estagiária da campanha, Molly Stearns (Evan Rachel Wood), até descobrir que ela está grávida de Morris.
O personagem de Gosling começa como um profissional em ascensão, ainda muito idealista, que subitamente se encontra em uma situação que foge ao seu controle. Para reverter o quadro e recuperar seu prestígio, Meyers vê como única solução deixar para trás seus valores éticos durante o processo.
Como muitas vezes nas campanhas reais, o pré-candidato que consegue chegar ao final da disputa acaba sendo obrigado a aceitar o apoio (e fazer concessões) aos antigos rivais que ficaram para trás na disputa. As críticas internas passam a ser feitas discretamente e as intrigas, em grande parte, ficam limitadas aos bastidores. Clooney parece querer mostrar que são os coordenadores de campanha e os assessores políticos os motores que verdadeiramente movimentam essa disputa, mais do que os próprios candidatos.
Desenterrar episódios de escândalos sexuais de um correligionário rival, como o que ocorre no filme, por exemplo, é comum na disputa do mundo real. O filme não precisou prever que isso também ocorreria entre os republicanos, autoproclamados defensores da moral e dos valores patriotas e cristãos. Bastou o empresário Herman Cain aparecer na frente nas pesquisas durante o final de ano que uma série de denúncias de assédio sexual acabaram por minar sua campanha. Antes de abandonar a disputa em dezembro, fez questão de culpar o governador do Texas Rick Perry (seu “colega” de partido) pelo vazamento das histórias.
Essa diferença não impede traçar paralelos dos fenômenos corriqueiros nessa fase interna da corrida presidencial: os passados dos postulantes ao cargo do "homem mais poderoso do mundo" que são vasculhados; escândalos sexuais (bem mais que os administrativos) levados à tona; inimizades exacerbadas; e alianças pragmáticas que, pela necessidade da vitória, precisam ser forjadas. Tudo entre correligionários que, em tese, partilham dos mesmos ideais.
O filme é narrado do ponto de vista do assessor de imprensa Stephen Meyers (Ryan Gosling), que trabalha para o pré-candidato Mike Morris (interpretado por Clooney). Meyers é chamado às escondidas por Tom Duffy (Paul Giamatti), coordenador da campanha de um candidato rival, para fazer parte da sua equipe. O encontro não resulta em nada, mas a notícia vaza e logo Stephen vê seu cargo ameaçado.
Paralelamente, Meyers começa a manter um caso com uma estagiária da campanha, Molly Stearns (Evan Rachel Wood), até descobrir que ela está grávida de Morris.
O personagem de Gosling começa como um profissional em ascensão, ainda muito idealista, que subitamente se encontra em uma situação que foge ao seu controle. Para reverter o quadro e recuperar seu prestígio, Meyers vê como única solução deixar para trás seus valores éticos durante o processo.
Como muitas vezes nas campanhas reais, o pré-candidato que consegue chegar ao final da disputa acaba sendo obrigado a aceitar o apoio (e fazer concessões) aos antigos rivais que ficaram para trás na disputa. As críticas internas passam a ser feitas discretamente e as intrigas, em grande parte, ficam limitadas aos bastidores. Clooney parece querer mostrar que são os coordenadores de campanha e os assessores políticos os motores que verdadeiramente movimentam essa disputa, mais do que os próprios candidatos.
Desenterrar episódios de escândalos sexuais de um correligionário rival, como o que ocorre no filme, por exemplo, é comum na disputa do mundo real. O filme não precisou prever que isso também ocorreria entre os republicanos, autoproclamados defensores da moral e dos valores patriotas e cristãos. Bastou o empresário Herman Cain aparecer na frente nas pesquisas durante o final de ano que uma série de denúncias de assédio sexual acabaram por minar sua campanha. Antes de abandonar a disputa em dezembro, fez questão de culpar o governador do Texas Rick Perry (seu “colega” de partido) pelo vazamento das histórias.
“Tudo Pelo Poder” acaba sendo uma crítica aos democratas feita por seus próprios partidários. Ao final do filme fica, no entanto, a impressão de que todas as tramóias e traições internas podem ser plenamente justificáveis desde que sirvam para um “bem maior” (no caso, a eleição de Morris, a qual Meyers considera desde o inicio como a salvação do país). Bem curioso, se for levado em consideração os rumores que circulam de que o próprio Clooney cogita iniciar uma carreira política ambiciosa no futuro.
Nesse ponto, o tom do filme diverge do cinema político norte-americano dos anos 1970, com o qual foi bastante comparado pela crítica. Filmes como “A Conversação”, de Francis Ford Coppola, e as obras do cineasta Alan J. Pakula, de “Todos os Homens do Presidente” e “A Trama”, eram envoltos no mesmo clima de paranoia e perseguição encontrado no filme de Clooney. Com a diferença de que eram pessimistas do começo ao fim, sem o final “redentor” de “Tudo Pelo Poder”.
Nesse ponto, o tom do filme diverge do cinema político norte-americano dos anos 1970, com o qual foi bastante comparado pela crítica. Filmes como “A Conversação”, de Francis Ford Coppola, e as obras do cineasta Alan J. Pakula, de “Todos os Homens do Presidente” e “A Trama”, eram envoltos no mesmo clima de paranoia e perseguição encontrado no filme de Clooney. Com a diferença de que eram pessimistas do começo ao fim, sem o final “redentor” de “Tudo Pelo Poder”.
Longe de ser um mainstream superficial como é de se esperar se considerarmos parte da carreira de Clooney como ator, também não chega a ser uma obra revolucionária, tanto esteticamente quanto como crítica à estrutura do poder.
A conclusão que fecha o filme é demasiadamente redonda, sem espaço para ambigüidades, o que presumivelmente é do agrado do espectador médio, mas acaba por diluir o impacto geral da obra. Ainda assim, é uma boa exploração de um tema em evidência e um resgate eficiente da tradição do cinema político nos EUA, que anda um tanto sumida nos últimos anos.
A conclusão que fecha o filme é demasiadamente redonda, sem espaço para ambigüidades, o que presumivelmente é do agrado do espectador médio, mas acaba por diluir o impacto geral da obra. Ainda assim, é uma boa exploração de um tema em evidência e um resgate eficiente da tradição do cinema político nos EUA, que anda um tanto sumida nos últimos anos.
*Com vídeos no ORIGINAL
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