Martinho Júnior, Luanda
IV
Os dez anos da prisão de Guantánamo coincidiram com a lembrança dos dois anos após o terrível terramoto do Haiti e numa altura em que o Haiti com o apoio da comunidade internacional está longe de resolver os problemas decorrentes dessa catástrofe.
Mais de 500.000 haitianos continuam a viver em tendas e os propósitos de reconstrução nacional, em função do baixo ritmo da reconstrução, tenderão a prolongar-se pela próxima década.
Os Estados Unidos possuem orçamentos incomensuráveis para o Pentágono e para o tentacular sistema de inteligência, que dão corpo a intervenções e ingerências de toda a ordem um pouco por todo o mundo, espalhando o espectro do seu domínio por via de conflitos, tensões e guerras, mas para além da espectacular operação de socorro ao Haiti logo a seguir ao terramoto, é incapaz de prestar ajuda ao nível das necessidades, no que é acompanhado pelos seus parceiros europeus!
O bloqueio a Cuba é possível, apesar de merecer a condenação de todo o resto das nações da terra, Guantánamo enquanto base e prisão é possível, apesar das condenações internacionais em curso, o domínio sobre Navassa é possível, mesmo afrontando a Constituição Haitiana… é impossível a ajuda à reconstrução do Haiti, ao nível das necessidades que a própria ONU realça a cada ano que passa!...
O último relatório da ONU sobre o Haiti, referente a 2011, sintetiza o pouco que foi feito (http://www.onu.org.br/haiti-onu-apoia-progressos-dois-anos-apos-o-terremoto/ - http://onu-haiti.org/Report2011/UNHaiti_AR2011.pdf):
“Centenas de quilômetros de rodovias foram construídas;
Dez emergências obstetrícias e clínicas neonatais foram inauguradas;
100 mil abrigos temporários para reduzir em 65% o número de deslocados nos campos, hoje com 500 mil pessoas, foram erguidos;
Ração para 4,4 milhões de pessoas nos meses que sucederam o terremoto;
900 mil pessoas vulneráveis foram vacinadas e dezenas de milhares de vítimas receberam kits médicos até maio de 2010;
Contínua assistência em larga escala a crianças, órfãos, grávidas, lactantes, idosos e pessoas que vivem com HIV/AIDS;
A ONU copatrocinou, com o governo haitiano, uma conferência de doadores em março de 2010, na qual países e organizações prometeram dez bilhões de dólares em ajuda de curto e longo prazo, incluindo 4,6 bilhões nos primeiros 18 meses. Hoje, quase 90% da verba para 2010 e 2011 foi desembolsada ou comprometida;
Em cooperação com as autoridades do país, setor privado, ONGs locais e parceiros internacionais, a ONU alcançou progressos tangíveis na educação, saúde, criação de empregos e infraestrutura, entre outros setores;
Perto de cinco milhões de metros cúbicos de escombros (50% do total) foram removidos;
Alguns prédios-chave do governo foram reerguidos ou temporariamente edificados;
Mais de 600 escolas foram reconstruídas ou reformadas, e 150 limpas de entulho;
Mais crianças vão hoje para a escola do que antes do terremoto, incluindo 80% das que vivem em campos de deslocados;
Mais de um milhão de crianças recebem refeições diárias nas escolas e mais de 470 mil estudantes receberam material escolar;
Um sistema de alerta e resposta nacional foi instalado para combater a epidemia de cólera, com centenas de centros de tratamento, além da distribuição de água potável, tabletes de purificação e sistemas de filtragem, além da promoção de programas de saúde;
Na recuperação econômica, mais de 400 mil pessoas, das quais 40% mulheres, foram empregadas em programas de limpeza, gerenciamento de bacias hidrográficas e infraestrutura básica. Em 2011, o PIB haitiano cresceu 6,1%;
A ONU apoiou as eleições parlamentares e presidencial, que permitiram a transmissão de poder entre dois presidentes democraticamente eleitos pela primeira vez na história do país;
Mais de dez mil militares e policiais da MINUSTAH ajudaram a garantir segurança em todo o território, formar e treinar a Polícia Nacional do Haiti e a capturar centenas de prisioneiros que fugiram com o terremoto;
A ONU ainda ajudou na reconstrução de presídios, treinamento de agentes, promoção de direitos humanos, redução do número de detentos adolescentes e na reforma do Judiciário para garantia do Estado de Direito”.
A ajuda latino americana, tendo Cuba, Venezuela e Brasil à cabeça, cria expectativas de expansão, face ao sem número de dificuldades que subsistem.
A Presidente Dilma deslocar-se-á em breve em visita oficial ao Haiti, escalando previamente Cuba (http://www1.folhape.com.br/blogdafolha/?p=5381):
“A presidenta Dilma Rousseff se prepara para visitar o Haiti no próximo dia 1º.
Em conversa com o presidente haitiano, Michel Martelly, Dilma comentou sobre seu desejo de ir a Porto Príncipe, capital do país.
Na visita, a presidenta pretende intensificar a cooperação brasileira, ampliando as parcerias nas áreas de saúde em conjunto com Cuba, agricultura, capacitação profissional e o apoio à construção da usina hidrelétrica sobre o Rio Artibonite, no Sul do país.
Assessores de Dilma, que preparam a viagem, disseram que a visita será emblemática, pois ocorre no momento em que o Haiti – o país mais pobre das Américas – enfrenta ainda dificuldades de reconstrução causadas pelo terremoto de 12 de janeiro de 2010, quando morreram mais de 220 mil pessoas, e o agravamento da epidemia de cólera.
Empossado no ano passado, o presidente Martelly também vive uma fase delicada.
Sem apoio político no Parlamento, ele tenta consolidar-se politicamente por meio de anúncio de ações isoladas.
Porém, o histórico político do Haiti de instabilidade e tensões cria um ambiente de apreensão no país, segundo observadores brasileiros.
Independentemente do momento político haitiano, Dilma quer mostrar que o Brasil pretende manter-se como protagonista no que se refere à ajuda ao país.
Para a presidenta, o apoio internacional não deve ser limitado às ações militares, mas ampliado para a área social.
Os projetos de combate à fome e erradicação da pobreza executados no Brasil, por exemplo, podem ser adaptados ao Haiti, segundo especialistas”.
Por seu turno, o Presidente Michell Martelly, numa entrevista à TeleSur mostrou todo o interesse que o Haiti ingresse como membro efectivo da ALBA (actualmente é observador), como forma de reforçar as acções de reconstrução (Cubadebate – http://www.cubadebate.cu/noticias/2012/01/11/haiti-evalua-entrar-miembro-pleno-alba/comment-page-1/#comment-365768).
Com o império motivado na sua saga egoísta e perversa de domínio, inclusive nos “rincões mais obscuros do mundo” (lembrando a ideia de George W. Bush), para os Estados Unidos os únicos actos “humanitários” possíveis são os que, com seus aliados europeus e árabes, levaram a cabo na Líbia e os que tão meticulosamente desenvolvem sobretudo na Síria e no Irão!
As contínuas conspirações contra a humanidade vão continuar e de alguma forma vão-se fazer sentir nas Caraíbas como no resto do mundo em nome dos interesses e do poder de 1% da população mundial, não sendo necessário esperar que o Haiti ingresse ou não na ALBA, por que o império, surgido da lógica capitalista com origem na Revolução Industrial, não tem mais outra forma de agir em pleno século XXI senão colocar-se, com seus aliados, cada vez mais contra o resto da humanidade!
Que o Haiti decida com pragmatismo mas coragem sobre o que deve fazer na luta pela reconstrução e contra o subdesenvolvimento, com a ajuda de todos aqueles que agem em nome da humaniade!
Nota:
Este artigo homenageia os Antigos Combatentes dos movimentos de libertação de Angola e do Continente Africano, que perfilham todos os matizes filosóficos, ideológicos e políticos, por que a luta contra o subdesenvolvimento de todas as nações que emergiram da rota dos escravos, é uma luta comum, uma luta que só pode unir os dois continentes das margens do Atlântico.
Evoca ainda os 5 prisioneiros cubanos do império, 3 deles combatentes da causa do movimento de libertação em África contra o colonialismo e o “apartheid”.
O dia 15 de Janeiro é em Angola o Dia dos Antigos Combatentes.
*Ler partes anteriores deste título em MARTINHO JÚNIOR
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