segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Carta do Canadá: LÁ FORA E CÁ DENTRO



Aventar - Fernanda Leitão

Ensina-me a experiência que é prudente não acreditar em pessoas que, para enriquecerem o curriculum, proclamam repetidamente que são “africanistas”. Na prática são colonialistas de mentalidade e actos. Ficou-lhes agarrada à pele, na sua passagem pelas colónias, uma atracção encantada pelo capataz de roça. Em geral, de tudo fazem (ou julgam fazer) uma roça.

O famoso vídeo que deu a volta ao mundo, aquele minuto de conversa sussurrada entre o Ministro das Finanças de Portugal e o seu homólogo da Alemanha, cuja linguagem corporal só por si dizia tudo de servilismo e diplomacia de cócoras, vem confirmar as suspeitas que se agigantam seis meses depois da entronização do actual governo que, dizia ele, vinha para salvar os portugueses das garras da maldade da exploração e da mentira. Escusa o cómico de serviço ao regime, seja o governo qual for, bolsar que é o contrário disto, nos programas que os contribuintes andam a pagar, porque ninguém lhe dá crédito, também a ele. De resto, a confirmação da bajulice vem do chefe do governo, e seus acólitos, quando trombeteia que “nós vamos além da troika”. É o que se chama querer mostrar serviço, “custe o que custar”, e está custar fome, miséria, privação e desespero a largos milhares de portugueses, que vêem a Pátria a sucumbir às mãos de agiotas. Já pela Europa fora peritos sensatos sublinham que a receita autoritária da chanceleira Merkel não cura países aflitos, antes os mata, mas o primeiro ministro fabricado na jota mantém-se irredutível na sua fidelidade canina. Nem a opinião contrária do FMI o demove na sua obediência babada àquela Adolfa.Tudo visto e revisto, fácil é concluir que este governo trata Portugal como se fosse a roça dos alemães. Cá dentro, é capataz. Lá fora, é mainato. E sofremos nós uma descolonização apressada, mal feita, até criminosa, para o país ter a subida honra de fazer parte da União Europeia. Quero crer que muitos europeistas eram idealistas e estavam de boa fé, mas foram ingénuos e descuidados no escrutinar regras e tratados linha por linha, palavra por palavra. Nem eles conheciam bem o terreno que pisavam, nem o deram a conhecer ao povo, já que não houve esclarecimento em profundidade e referendo logo de seguida. Um povo inteiro atrás de um punhado de enganados. Foi-se despejando dinheiro por cima do país, o crédito era fácil, os portugueses, como sempre, caíram na vigarice do vigésimo premiado. Porque, afinal, se chegou a este completo desconchavo: na União Europeia quem põe e dispõe é a Alemanha. O resto é cantiga para boi dormir.

Esta situação, já praticamente irreversível por estarmos a tratar com pessoas que devem tudo à ignorância arrogante, vai acabar mal. O que está a acontecer à Grécia, traída por uma clique medíocre de políticos, acaba por acontecer a todos os países que estão na fila para o cadafalso financeiro. Acreditar que não será assim, é como acreditar que o cancro só mata os outros. Não faz sentido gritar “nós não somos a Grécia”. Até ao momento, a única grande diferença é que os gregos batem o pé e os portugueses engolem em seco. O que faz sentido é aprender a lição sofrida pela Grécia e dizer à União Europeia que basta! É juntar-se aos países que já o dizem. A união dos descontentes pode bem salvar a Europa.

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