terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Portugal - RDP: Ex-director da Antena 1 empurra responsabilidade...




... sobre informação aos cronistas para o seu adjunto

Maria Lopes - Público

O ex-director-adjunto de Informação da RDP, Ricardo Alexandre, estaria avisado de que o programa Este Tempo não deveria entrar na próxima grelha da Antena 1 e há muito sabia das dúvidas que o formato levantava nas chefias.

Isso mesmo disseram esta manhã aos deputados da comissão parlamentar de Ética o ex-director de Informação, João Barreiros, e o director de Programas, Rui Pêgo, empurrando para Ricardo Alexandre parte da responsabilidade pela polémica que se criou com o fim do programa de crónicas.

O então director-adjunto sabia, disseram, que o programa estava a ser avaliado há muito tempo. Rui Pêgo mostrou mesmo um e-mail de 22 de Fevereiro do ano passado enviado por si a Ricardo Alexandre em que defendia que se devia "suspender" o programa. "E se for caso disso, mas tenho dúvidas, rever o lote de colaboradores", acrescentava o director de Programas.

Do lado de Rui Pêgo "não havia expectativa nenhuma" sobre a continuidade do programa. Por isso, recusa que tenha havido qualquer censura. "Havia uma avaliação de conteúdo. Do meu ponto de vista este conteúdo deveria já ter saído há mais tempo da antena", afirmou aos deputados.

Apesar de o programa ter subjacente "uma boa ideia", esta não estaria a ser aplicada pelos colunistas. Estes foram escolhidos por se dedicarem cada um a uma temática, como as viagens, o cinema, a tecnologia ou o lazer, mas como "cada um era livre de falar sobre o que entendesse", a verdade é que esses assuntos muitas vezes acabavam esquecidos e os cronistas enveredavam por outras questões, desvirtuando o programa.

Questionado sobre o facto de os colunistas terem sido avisados em cima da hora e de o próprio ex-director-adjunto se ter dito apanhado de surpresa pela decisão, João Barreiros afirmou, sem mencionar Ricardo Alexandre, que foi "sistematicamente dito [ao então director-adjunto] 'isto não está bem", mas que "absolutamente nada" mudou no programa. "Deu-se toda a margem de manobra para mexer no programa, mas nada foi feito." Mais: "Fora do grupo de trabalho há jornalistas a quem foi dito que o programa não seria renovado."

"Quando disse ao director-adjunto, ele mostrou-se incomodado, e disse que não concordava com a decisão, mas que o transmitiria aos colaboradores", contou João Barreiros, reconhecendo que dissera também a Ricardo Alexandre que o director-geral, Luís Marinho, "não gostava do programa". "Jamais lhe disse que programa acabava por causa da crónica do Pedro Rosa Mendes, porque eu não aceitaria isso."

Barreiros e Pêgo recusaram a existência de qualquer censura no processo que levou ao fim do programa, repetindo, sempre que um deputado os interpelava, com as duas décadas de cargos de chefia de redacções sem que alguma vez uma acusação deste tipo tivesse surgido.

O caso abriu uma cisão na própria direcção, com o director-adjunto a justificar a decisão perante Rosa Mendes com uma alegada censura por parte de Marinho, enquanto o director assumia que o programa acabava por decisão sua. "Se fosse de facto um caso de censura, se fosse eu [no lugar de Ricardo Alexandre] demitia-me. Mas o director-adjunto demitiu-se só quando toda a direcção de Informação se demitiu; e também não se demitiram nem os sub-directores nem os responsáveis editoriais da manhã", realçou João Barreiros.

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