Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
Angela Dorothea Merkel sabe coisas sobre o reino de Pedro Miguel Passos Relvas Coelho que os súbditos lusos desconhecem. É obra.
Diz ela que apesar da sua dureza, o programa esclavagista do governo português goza de grande apoio político e social, pelo que “há grandes hipóteses de que as medidas acordadas sejam de facto implementadas".
Angela Dorothea Merkel terá sido informada que, afinal, os escravos portugueses são daquele tipo de gentalha que diz que “quanto mais me bates, mais eu gosto de ti”. E se calhar até tem razão.
A chanceler alemã, na sua qualidade de líder do país que tem Portugal como protectorado, louvou hoje o acordo alcançado em concertação social entre o governo português, o patronato e a UGT, incluindo-o nos "progressos alcançados na Europa para uma política sustentável", extensíveis à Itália, Espanha e Irlanda.
"Em Portugal, o governo de Coelho conseguiu chegar a acordo com os parceiros sociais sobre amplas medidas para flexibilizar o mercado de trabalho e para uma política activa de mercado de trabalho", sublinhou a chanceler.
E tem razão. Quando a barriga está vazia a coluna vertebral tende a diluir-se. E isso aconteceu com aqueles parceiros sociais para quem chega um prato de lentilhas ou de farelo. Para os outros parceiros o acordo também chegou porque, desde logo, têm garantida lagosta e várias refeições por dia.
Recorde-se que Pedro Passos Coelho, embaixador da Alemanha e primeiro-ministro de Portugal, garantiu não ter "medo de greves" e prometeu "travar todas as batalhas" para alterar uma lei laboral que actualmente apenas gera "desemprego e precariedade".
Calculo que a tradução das instruções enviadas por Angela Dorothea Merkel seja a correcta, pelo que aí temos o soba do protectorado alemão a dizer, alto e bom som, que no seu reino “quer, pode, e manda”, embora com poderes delegados.
Para Passos Coelho, "o maior mito que se tem vivido na sociedade portuguesa é que não se pode mexer na legislação laboral para não afectar os direitos" dos trabalhadores. Embora nunca tenha sido trabalhador (nem isso é relevante), o embaixador não sabe do que fala mas, é claro, sabe que os escravos estão anestesiados pela barriga vazia, razão pela qual um qualquer prato de farelo é visto como uma dádiva de Deus.
"A quem serve este regime, que supostamente é extremamente avançado de direitos sociais? Que regime avançado é este que só gera desemprego, precariedade, recibos verdes ou contratos a termo? Temos medo das pressões, ou da contestação ou das greves que possam surgir? Eu não tenho!", frisou o dono do governo, recordo, no discurso da sessão evocativa em memória de Francisco Sá Carneiro, no Porto.
E foi preciso ter lata e muita falta de dignidade falar desta forma numa sessão evocativa de Sá Carneiro.
Estes devaneios de um anão que se julga gigante, relembram-me que, recentemente, D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas… portuguesas, disse que se Francisco Sá Carneiro fosse vivo caía para o lado. No entanto, como já morreu, deve estar – segundo D. Januário Torgal Ferreira - a dar voltas no túmulo já que, acrescenta, a austeridade (entre outros dislates deste governo) é uma espécie de "terrorismo".
Pois é. Tal como os sacos vazios não se aguentam de pé, também os portugueses, e pela mesma razão, estão de cócoras e de mão estendida. Passos Coelho ri-se e Merkel aplaude. Acabam, de facto, de provar que são fuba do mesmo saco.
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: Calcinhas portugueses e do MPLA julgam que cabindas e angolanos são todos matumbos...
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