Dili, restos das barcaças da invasão japonesa |
FPA - Lusa
Lisboa, 20 fev (Lusa) - A invasão japonesa de Timor-Leste aconteceu há 70 anos, deixando em três anos um rasto de destruição e 50 a 70 mil mortos na única parte do território português que, apesar da neutralidade de Salazar, viveu a II Guerra Mundial.
Investigadores portugueses contactados pela Lusa consideraram "trágica" e "catastrófica" a invasão, já que a resistência transformou Timor-Leste num teatro de guerrilha, estimando-se que 50 mil pessoas tenham morrido diretamente devido à guerra e outras devido à fome, às doenças e aos trabalhos forçados pelos japoneses. No total, estima-se que mais de 10 por cento da população timorense tenha desaparecido naquele período.
Há também registo da morte de 75 pessoas de origem europeia, 10 em combate, 37 assassinadas e oito em detenção, contou investigador António Monteiro Cardoso.
Além disso, acrescentou, "a destruição foi imensa", devido aos bombardeamentos efetuados, tanto pelos japoneses, como pelos aliados que tentavam expulsá-los. "Díli sofreu 94 ataques aéreos", disse o investigador, autor do livro "Timor na 2.ª Guerra Mundial - O Diário do Tenente Pires", acrescentando que poucas foram as casas que ficaram de pé e a maioria das povoações timorenses desapareceu neste período.
A invasão, que ocorreu a 20 de fevereiro de 1941, um dia depois de um bombardeamento a Darwin, "foi facilitada" porque não havia tropas portuguesas no território, contou o investigador. As tropas vinham de Moçambique e estavam já próximo de Timor-Leste quando os japoneses desembarcaram em Díli.
Apesar de a data não ter sido assinalada oficialmente hoje em Timor-Leste, na segunda-feira o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, referiu-se a estes acontecimentos históricos, durante uma visita que efetua à Austrália.
"Foi um momento definidor na relação entre timorenses e australianos", disse num memorial da guerra, em Sydney, considerando-o também "uma época em que a nacionalidade foi transcendida e, como seres humanos, os nossos povos não só sofreram uma dor profunda mas também fizeram atos de grande altruísmo, o que resultou numa ligação de amizade e de honra numa herança duradoira".
No mesmo dia 20 de fevereiro de 1941, militares japoneses desembarcaram também em Kupang, no lado holandês da ilha, mas as autoridades do lado ocidental renderam-se ao fim de cinco dias. No lado oriental, tropas australianas preparadas para a guerra de guerrilha infiltraram-se nas montanhas e lançaram emboscadas logo que os japoneses começaram a sair de Díli.
Cedo estes militares contaram com o apoio dos timorenses, chocados com a violência da ocupação dos japoneses, que fizeram pilhagens e violaram mulheres. Também muitos dos portugueses que haviam sido deportados para Timor, sobretudo por questões políticas, se juntaram à guerrilha.
Segundo o investigador Moisés Fernandes, os portugueses não eram mais de 350 a 400 e havia uma divisão entre a elite da administração, que era pró-japonesa, e os restantes, pró-aliados.
Esta ideia é refutada por António Monteiro Cardoso, que defende que os principais administradores do território tomaram partido pelos aliados, contra a vontade do governo do chefe do governo português, António Oliveira Salazar, que exigia a manutenção da neutralidade e manteve relações diplomáticas com o Japão ao longo de toda a guerra.
Para António Monteiro Cardoso, Portugal "esqueceu" a invasão japonesa de Timor durante anos porque "a Salazar não interessava dizer que havia uma zona tocada pela guerra" e também porque a ausência de tropas em 1941 - destinada a garantir a neutralidade portuguesa - poderá ter facilitado a entrada das tropas nipónicas.
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