Mário Augusto Jakobskind – Direto da Redação
Enquanto na Bahia e no Rio de Janeiro, policiais militares e bombeiros lutam por salários minimamente dignos para as necessidades de suas famílias, provocando uma cobertura da mídia de mercado tendenciosa e objetivando visivelmente a queimação do movimento, pelo mundo afora soam os tambores da guerra.
Caberiam vários questionamentos sobre os acontecimentos, como, por exemplo, o papel da Justiça autorizando as gravações telefônicas que são divulgadas pelos telejornais. É algo compatível com a democracia? Os advogados das lideranças grampeadas entraram com um pedido de resposta e requisitaram as gravações porque garantem terem sido as mesmas editadas. Alguém foi informado a respeito?
E é justo mandar preso para Bangu 1 (presídio de segurança máxima) líderes do movimento grevista? E o Governador Sergio Cabral mandou prender 123 salva-vidas que aderiram ao movimento. É assim que os políticos gênero Cabral tratam movimentos que se mobilizam por salários decentes tendo a mídia de mercado ao seu lado. Tempos atrás reprimiu com violência professores e considerou médicos do Estado “vagabundos”.
Em São José dos Campos a mesma mídia também se comporta de forma tendenciosa e silencia sobre os desdobramentos posteriores à expulsão de famílias pobres que viviam há anos nas terras reivindicadas pelo especulador Naji Nahas, que teve o respaldo da Justiça e do governo do Estado de São Paulo.
Além de não sair uma linha sobre o protesto do jornalista Pedro Rios, que ficou em greve de fome na porta da TV Globo, paira total silêncio sobre o que está acontecendo com as famílias reprimidas e desalojadas pela Polícia Militar de São Paulo, cujo comandante em chefe é o governador Geraldo Alckmin, do PSDB, que já quis ser até Presidente da República, mas foi repudiado pelo povo.
A greve da PM, Polícia Civil e dos bombeiros, já encerrada, foi justa e o que se espera é que de agora em diante os efetivos das respectivas corporações mudem de postura, ou seja, não obedeçam a ordens ao serem convocados por Governadores ou Secretários de Segurança para reprimir os movimentos populares. Os grevistas de hoje não devem esquecer que os protestos são tão justos quanto as suas próprias reivindicações. Então, qual o motivo para reprimir o povo a não ser ordens superiores absurdas?
No mundo, os tambores da guerra já se fazem sentir. Israel agora espera o sinal verde dos Estados Unidos para bombardear o Irã, se é que já não foi dado. Os principais canais de televisão estadunidenses já se preparam para a cobertura da guerra, segundo informações procedentes do Oriente Médio, reforçando por lá seus modernos aparelhos tecnológicos de transmissão.
No momento há uma espécie de medição de forças. Resta saber quem está blefando neste rufar dos tambores. Os Estados Unidos (via Israel) vão querer pagar para ver o que acontecerá pós- confronto? O Irã tem mesmo poder de fogo para retaliar quem o agredir? Terá força para fechar o Estreito de Ormuz, impedindo assim o fluxo de petróleo para o Ocidente?
Será que quem vai bombardear um alvo estrangeiro anuncia pelos quatro cantos que vai fazer isso? Ou será apenas mais uma estratégia visando dobrar o Irã?
Outro país que se encontra sob fogo cruzado do Ocidente é a Síria. China e Rússia decidiram vetar no Conselho de Segurança das Nações Unidas resolução pelo afastamento de Hafez Assad. Os dois países parece que aprenderam a lição líbia. Na ocasião, China e Rússia preferiram abster-se o que permitiu o sinal verde para a zona de exclusão aérea e os bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Mas os jornalões não pensam assim, como deram a entender em seus editoriais contra o governo sírio. A secretária de Estado Hillary Clinton também ficou furiosa e repetiu a terminologia da época da Guerra Fria para criticar a Rússia e a China. O mais curioso da história é que Clinton repete os argumentos segundo os quais a Síria precisa de democracia.
A cobertura dos acontecimentos no país árabe vem sendo questionada. A União de Jornalistas Sírios (UPS), por exemplo, denunciou as falsificações e manipulações de fatos que os veículos Al-Jazeera e al-Arabiya estão fazendo na cobertura dos acontecimentos no país, demonstrando seu envolvimento na campanha política contra a Síria. A UPS exortou ainda os meios de imprensa árabes e internacionais a verificarem as informações antes de transmiti-las e advertiu que a Al-Jazeera e a al-Arabiya "abandonaram toda moral e princípios jornalísticos".
O governo sírio anunciou a prisão de um oficial militar da Arábia Saudita em um dos protestos da oposição contra Assad. Se as agências internacionais de notícias divulgaram essa informação, os jornalões e telejornalões ignoraram.
A Arábia Saudita também parece estar preocupada com o estabelecimento da democracia na Síria. Mas só que a monarquia saudita não quer o mesmo para as terras que considera de sua propriedade, ou seja, a própria Arábia Saudita, onde mulher é proibida de dirigir carros.
O Oriente Médio, portanto, continua um barril de pólvora e uma guerra contra o Irã provavelmente terá reflexos imediatos em todo mundo, sobretudo na região. No Líbano, segundo o professor Luis Alberto Moniz Bandeira, o Hezbollah tem apontado para Israel cerca de 10 mil foguetes escondidos em residências e podem ser acionados a qualquer momento. O premier Benyamin Netanyahu vai querer pagar para ver?
Greve da PM, rufar dos tambores de guerra no Oriente Médio e os lamentáveis acontecimentos na Síria podem em princípio ser temas distantes um do outro, mas o que os une é o tipo de cobertura que vem sendo feito pela mídia de mercado, totalmente parcial e manipulador.
Possivelmente quem tem opinião formada pelos referidos veículos impressos ou eletrônicos, considerará estas reflexões fora de propósito. É natural que pense assim porque não teve acesso a outro tipo de informação se não o manipulado.
Em tempo: do Afeganistão vem a informação segundo a qual bombardeio da Organização do Atlântico Norte na província oriental de Kapisa provocou a morte de seis crianças. Será que as TVs Globo, Band, Record etc noticiaram o fato?
* É correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
1 comentário:
"Além de não sair uma linha sobre o protesto do jornalista Pedro Rios, que ficou em greve de fome na porta da TV Globo, paira total silêncio sobre o que está acontecendo com as famílias reprimidas e desalojadas pela Polícia Militar de São Paulo, cujo comandante em chefe é o governador Geraldo Alckmin, do PSDB, que já quis ser até Presidente da República, mas foi repudiado pelo povo."
Putz, esse cara escreve uma comédia após outra. O protesto do Pedro Rios foi um FIASCO. Ele disse que pessoas foram assassinadas lá. Bastou a AGENCIA BRASIL - a VOZ DO PT - dizer que ninguém morreu, para ele parar com a brincadeira.
Silêncio sobre as famílias reprimidas? Ué, pede para a AGENCIA BRASIL ir lá investigar. Você só acredita nela.
Quanto ao Alckmin ter sido "repudiado pelo povo", o companheiro Lula foi REPUDIADO TRÊS VEZES: em 1989, em 1994 e 1998. Disso o senhor não fala, né?
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