domingo, 12 de fevereiro de 2012

Moçambique: Faturas de eletricidade "assustam" população do distrito de Mueda



Emanuel Pereira, da Agência Lusa, com foto

Mueda, Cabo Delgado, 12 fev (Lusa) - O distrito de Mueda, província de Cabo Delgado, recebeu ligação à rede elétrica moçambicana há quase um ano, mas a população diz, agora, que não consegue suportar os custos das faturas de energia, exigindo sistemas de cobrança pré-pagos.

Enquanto mostra uma fatura superior a 12 mil meticais, cerca de 335 euros, Samuel Martins, proprietário de um negócio informal na sede distrital de Mueda, mostra-se preocupado com o valor das contas de eletricidade que tem recebido.

"Todos agradecemos quando vimos que tínhamos energia aqui na vila, mas as pessoas estão a ter dificuldades para ligar, porque custa muito dinheiro. Pagávamos 500 meticais (16 euros), agora as faturas chegam até aos 10 mil (280 euros)", garante à Lusa Samuel Martins.

Em março do ano passado, o histórico distrito de Mueda, localizado no extremo norte moçambicano, onde em 1964 foi dado o primeiro tiro contra o colonialismo português, recebeu ligação à energia produzida na Hidroeléctrica de Cahora Bassa.

"Falta um esclarecimento exato quanto à contratação da corrente elétrica. O preço de puxar a eletricidade para as casas não está bem esclarecido. Uns pagam 800 meticais (22 euros) outros pagam 4.000 (112 euros)", explica à Lusa Luís Ussene, funcionário de um posto de combustível.

A chegada da eletricidade ao distrito permitiu diminuir problemas de acesso a água, que pautam o quotidiano da maioria da população local, no entanto, a região continua praticamente às escuras.

"Como a zona tem problemas de água, com a chegada da energia conseguimos puxar a água das barragens para o planalto, esse é um dos pontos mais importantes", conta Mobiro Namipa, presidente do município de Mueda.

"Em algumas casas não ligamos a energia à noite, a vila não fica iluminada, porque as pessoas têm medo de pagar valores altos", diz Samuel Martins, afirmando que este facto vai ter repercussões no desenvolvimento local.

Para Mobiro Namipa, a solução para pôr fim às "surpresas" que os munícipes encontram nas contas de energia mensais é a introdução de um sistema de pré-pagamento, chamado 'credelec' em Moçambique.

"Estamos a pedir, para não termos problemas de cobranças, que exista o 'credelec'. As pessoas devem comprar a energia e utilizá-la da maneira que quiserem para não haver problemas de as pessoas que a utilizam serem cobradas a mais ou menos".

"Gostaríamos de ter 'credelec' para as pessoas controlarem sozinhas a sua energia (consumos), porque ninguém consegue pagar sozinho 10 mil meticais. É muito dinheiro. Quem recebe 10 mil é um doutor. Mais vale usar velas", ironiza Samuel Martins.

No distrito de Mueda, que faz fronteira com a Tanzânia, vivem mais de 100 mil pessoas, de acordo com os censos de 2007.

Esta é uma das regiões mais remotas e pobres de Moçambique, onde se estima que a maioria da população sobreviva com menos de um dólar (0,75 euros) por dia.

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