domingo, 26 de fevereiro de 2012

Moçambique: Governo quer que mulheres deixem de ter os filhos em casa




André Catueira, da Agência Lusa

Chimoio, Moçambique, 26 fev (Lusa) - Berta Mussa, 36 anos, vira-se com frequência na cama da maternidade do centro de saúde de Monequera, em Manica, centro de Moçambique, e, gentilmente, pede a mão da parteira, uma ajuda que tem pela primeira vez.

"Sou mãe de duas filhas, todas elas nasceram em casa. Este será o meu primeiro parto numa maternidade. Apesar de transpirar confiança, sinto-me trémula e ansiosa, espero que corra tudo bem", disse à Lusa Berta Mussa, enquanto limpa o suor na cara com uma capulana.

Esta é a primeira parturiente após a inauguração oficial, na quarta-feira, do centro de saúde de Monequera, a 78 quilómetros do hospital de referência ao nível do distrito de Gondola. Antes, o centro de saúde mais próximo da casa de Mussa ficava a 28 quilómetros de distância, daí que as outras duas filhas tenham nascido em casa.

Várias mulheres em Manica, como um pouco por todo o pais, perdem a vida e ou os seus bebés por darem à luz a caminho do hospital, na sequência das distâncias que percorrem para alcançar a unidade sanitária mais próxima.

"Iniciámos os atendimentos em setembro de 2011, mas agora estamos a inaugurar oficialmente. No primeiro mês, tivemos cinco partos e o número veio subindo e agora mensalmente atingimos até 10 partos", explicou à Lusa Rute Albano, única enfermeira afeta ao centro, que vai atender 7.347 habitantes da região.

Entretanto, a governadora de Manica, Ana Comoana, disse que as longas distâncias percorridas pelas parturientes em busca de maternidades serão reduzidas gradualmente com a expansão da rede sanitária para lugares mais recônditos da província, além de iniciativas para socializar os partos.

"Com este centro de saúde, pretendemos reduzir as distâncias que as parturientes percorriam para alcançar uma maternidade e encorajar os partos institucionais, para o bem-estar das mulheres e bebés", disse Ana Comoana, durante a inauguração do centro.

A responsável reconheceu o aumento, nos últimos anos, de partos institucionais ao nível do distrito de Gondola, graças ao alargamento da rede para 14 unidades para atender 310.424 habitantes, mas apelou à sensibilização das parturientes para uma maior adesão ao serviço.

Em 2010, o distrito de Gondola registou 8.273 partos contra 9.121 de 2011 em todas as unidades de saúde, um rácio não distante do que se regista noutros distritos da província de Manica, onde as parturientes ainda optam por partos em casa.

Uma iniciativa governamental tem instalado casas de "mãe espera" em todas as unidades, onde as mulheres grávidas se instalam nas vésperas do parto, para não percorrerem longas distâncias com dores.

Paralelamente, as autoridades de saúde estão a socializar os partos, aos quais o marido ou qualquer parente possam assistir, mobilizando assim os familiares a aderirem aos partos nas maternidades.

Apesar de acabar de ser inaugurado, já há queixas do serviço. As mulheres de Monequera pediram o reforço da enfermeira por o número de partos estar a crescer a cada dia.

"Estamos a pedir o reforço de mais enfermeiros. Essa (enfermeira) trabalha com muita vontade, mas o número de pessoas tem superado as suas capacidades", disse uma residente local.

No centro também não há água nem energia elétrica. Os partos no período noturno são feitos à luz das velas e a comunidade local leva água em baldes.

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