Diário de Notícias - Lusa
Carta entregue na embaixada do Paquistão
Mulheres portuguesas mas também do espaço lusófono e da Europa reiteram hoje junto da embaixada do Paquistão, em Lisboa, o apelo para a libertação de Asia Bibi, uma cristã paquistanesa condenada à morte por blasfémia em 2009.
O movimento que integra, até ao momento, cerca de 200 mulheres de diferentes quadrantes - como é o caso da presidente do Instituto de Apoio à Criança (IAC), Manuela Eanes, da presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, da ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, ou de Graça Machel, atual mulher de Nelson Mandela, e Kirsty Gusmão, mulher do primeiro-ministro timorense Xanana Gusmão - entrega hoje uma carta, por ordem alfabética, à embaixadora paquistanesa em Portugal, Humaria Hasan.
O destinatário da missiva será o Presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari.
Pilar del Río, Leonor Beleza, Manuela Ferreira Leite, Ana Gomes e Rosa Mota são outros dos nomes que aderiram à iniciativa que pretende ser mais do que um movimento nacional ou até mesmo lusófono ou europeu, segundo explicou, em declarações à Lusa, Manuela Eanes.
"Tínhamos que fazer alguma coisa por esta mulher", afirmou a presidente do IAC, defendendo que o facto desta mãe de cinco filhos viver no Paquistão não pode ser um obstáculo à indignação.
"É verdade que às vezes as pessoas esquecem-se do vizinho que está ao lado, mas quando há uma situação de ofensa grave aos direitos humanos, seja ao vizinho do lado, esteja no Paquistão ou na China, temos de fazer alguma coisa", defendeu Manuela Eanes.
"Não podemos ficar no casulo da nossa família, no casulo do nosso trabalho, no casulo dos nossos amigos", reforçou a ex-primeira-dama, salientando que num primeiro contacto com a embaixadora paquistanesa, a representante de Islamabad manifestou um grande apreço e abertura pela iniciativa.
A par de Manuela Eanes, o grupo que irá hoje à embaixada será ainda integrado por Zita Zeabra, Maria de Belém Roseira, Margarida Durão Barroso, Helena Roseta, Helena Sacadura Cabral e Rosária Vakil.
Na missiva, o movimento de mulheres -- que espera no futuro a adesão do universo masculino -, pede a amnistia de Asia Bibi, argumentando que o Paquistão assinou a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), bem como subscreveu outros acordos internacionais, nomeadamente o pacto internacional sobre os direitos civis e políticos (2010) e a convenção da ONU para a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres (1996).
Ainda em declarações à Lusa, Manuela Eanes frisou que recentemente no Parlamento Europeu foi aprovada uma resolução sobre a situação das mulheres no Afeganistão e no Paquistão.
A paquistanesa cristã Asia Bibi, de 37 anos, foi condenada à morte por blasfémia em 2009, depois de ter bebido água de um poço reservado a muçulmanas, um gesto proibido num país fortemente manipulado por grupos fundamentalistas.
Atualmente, o estado de saúde de Asia Bibi é muito delicado e a única visita que recebe é do marido.
Dois altos dirigentes do Paquistão, que mostraram simpatia pela causa desta mulher paquistanesa, já foram assassinados.
Toda a história desta paquistanesa está contada no livro "Blasfémia", da jornalista francesa Anne-Isabelle Tollet, lançado em setembro de 2011 em Portugal.
No futuro, o movimento de mulheres pretende alargar horizontes, com a criação de um 'site', e apostar em novas diligências, como apresentar a situação de Asia Bibi ao Núncio Apostólico "para pedir uma posição mais forte por parte do Vaticano", e ao representante das Nações Unidas em Portugal, entre outros contactos, segundo Manuela Eanes.
A presidente do IAC indicou ainda que o movimento quer promover em Lisboa um encontro com embaixatrizes e embaixadoras de diferentes países para que estas representantes possam divulgar a nível internacional a história de Asia Bibi.
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