quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O DÉFICE PROTEGE OS AUDAZES




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

"Portugal precisa de reduzir os seus salários relativamente aos países 'core' da zona euro", considerou hoje o economista Paul Krugman.

O Nobel da Economia, tanto quanto julgo saber, não disse que a vaselina é um produto de alto consumo em Portugal, mau grado os portugueses já estarem habituados a apanharem no dito cujo e a serem mal pagos.
"Não é simpático, mas é algo que terá de acontecer" afirmou o Nobel da Economia, que está em Lisboa para receber o doutoramento 'honoris causa' pela Universidade de Lisboa, Universidade Técnica de Lisboa e Universidade Nova de Lisboa

Em resposta às questões colocadas pelos jornalistas, Paul Krugman lembrou que Portugal tem um défice comercial muito elevado e que terá de ganhar competitividade.

Esta redução terá de ser feita em relação à Alemanha, que diz ser a referência dentro da zona euro também em termos de salários, recusando a hipótese desta redução e salários ser feita numa dimensão mais elevada, exemplificando com a China. "Portugal não tem de reduzir os seus salários ao nível dos chineses", disse.

Embora talvez alguns políticos também sejam consumidores de vaselina, não lhes custa promulgar medidas que só vão doer aos outros. Mas a Europa pode ficar descansada. O presidente da República garante que PS, PSD e CDS-PP têm um "compromisso inequívoco" com a estratégia de consolidação orçamental e com as metas de redução do défice.

Aníbal Cavaco Silva assegura (e quando alguém que nunca se engana e raramente tem dúvidas assegura...) que os três maiores partidos portugueses assumem o compromisso de apoio às metas já estabelecidas "por forma a garantir a trajectória de sustentabilidade da dívida pública".

Ora, sendo assim, os mais de um milhão de desempregados, os 20% de pobres e os outros 20% que lambem os pratos vazios já podem ficar descansados. Vão continuar desempregados, pobres e lamber pratos vazios mas o défice será honrado.

Alguns até poderão colocar nos vãos das escadas onde dormem, ou até mesmo na lápide do cemitério, a frase: “O défice protege os audazes”. E, convenhamos, ser audaz com o dinheiro dos outros, à custa da miséria dos outros, até não é uma questão difícil.

O que conta em Portugal é a vontade de quem manda e a submissão de quem é mandado. E se já há gerações que nascem sem coluna vertebral, o melhor é deixar o tempo passar e tudo ficará na santa paz do défice e na santa ceia da classe dominante, onde têm lugar reservado Cavaco Silva, Passos Coelho, Miguel Relvas e Paulo Portas.

Não adianta por isso dizer que a actual crise financeira, moral, política etc. é culpa dos políticos, essa casta superior que rege a vida dos plebeus.

Não adianta afirmar que o Estado social-democrata ou democrata-cristão, asfixia o povo com impostos, enquanto os gestores das empresas públicas auferem principescas remunerações.

Os portugueses devem apenas limitar-se a perguntar o que é que podem fazer pelo Estado (queriam que fosse o Estado a perguntar o que pode fazer por eles?).

E quando ele diz: baixem as calcinhas, cumpram com um sorriso e peguem na vaselina... Sejam audazes!

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: E SE A DOROTHEA ELOGIA PORTUGAL…

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