Mafalda Ganhão - Expresso
Em comentário ao Expresso sobre a carta aberta dos oficiais ao ministro da Defesa, D. Januário Torgal considera que o documento traduz "um sentimento generalizado" e que os militares têm de ser ouvidos.
Um "apelo" que traduz "um sentimento generalizado" entre o setor militar. Para D. Januário Torgal, bispo das Forças Armadas "está enganado" quem olhar para a carta aberta dirigida ao ministro da Defesa como algo representativo de "um pequeno clube regional".
"Não conhecia a carta", disse ao Expresso D. Januário, "mas depois de ouvir as notícias e de a ter lido o que acho importante não é tanto a falta de elegância, mas saber se o que lá vem dito é verdade".
O bispo das Forças Armadas enfatiza nunca ter sentido "que os militares queiram ter mais privilégios" ou estar acima dos sacrifícios que são pedidos aos portugueses, mas percebe que "também não podem ser menorizados".
"Não se podem em certas alturas fazer discursos de grande retórica, considerar os militares glórias da nossa pátria e depois, no dia a dia, mudar a música e esquecer a solidariedade" apregoada, considera D. Januário, para quem é chegado o momento de "passar das palavras às atitudes".
Uma "ferramenta útil"
Na opinião do bispo, a carta deveria ser entendida como uma "ferramenta útil" para todos se sentarem "à volta de uma mesa e dialogarem", com os governantes a ouvirem as chefias militares, mas "com certeza, sem excluir outros patamares" das Forças Armadas: "Nada se faz se a população militar não fizer parte das decisões".
"Parece-me que os militares têm tido paciência de mais", rematou D. Januário Torgal, "mas sou um otimista e acredito no diálogo".
"Quem semeia injustiças não terá paz"
Em declarações à "TSF", D. Januário tinha ontem comentado também a situação de pobreza em Portugal, criticando o Governo de Passos Coelho, ao lamentar a forma como a questão social está a ser tratada no país.
"É vista como uma malga de sopa, uma solidariedade ultrajante", afirmou o bispo, considerando que "tem havido atitudes extremamente insólitas com dinheiro", que existe "para certos senhores e cargos", mas não "para os pobres".
"Começo a sentir um certo odor a incêndio, que antecede quedas de regime", disse ainda D. Januário Torgal, para quem o risco de tumultos não pode ser ignorado: "quem semeia injustiças não terá paz".
"Sinto-me desassossegado porque vejo a instabilidade da miséria", insistiu o bispo das Forças Armadas. "Será pieguice dizer isso?", questionou. "Sinto-me desassossegado" por estar a assistir apenas "ao rigor do corte e ao rigor da insensibilidade".
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