Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
Os donos de Angola (a família Eduardo dos Santos e mais meia dúzia de amigos) estão, no âmbito do em 19 de Julho de 2010, em Luanda, Cavaco Silva chamou de parceria estratégica entre Luanda e Lisboa, a comprar Portugal.
Fazem bem. Se o país (Portugal) está à venda e há compradores... é a regra do mercado a funcionar.
Não creio, até pela amizade entre o governo português e o angolano, entre o PS, o PSD e até o CDS e o MPLA, entre quem precisa e quem tem para dar, que alguma vez Passos Coelho e Cavaco Silva utilizem uma espécie de “golden shares” para evitar a venda, em parte ou por atacado, do país aos poucos que em Angola têm muitos milhões.
Tirando o facto de a maioria dos angolanos passar fome e de cada vez mais portugueses seguirem o mesmo caminho, tudo o resto é normal, como se vê pelos panegíricos bilaterais que caracterizam as visitas de Cavaco Silva, Passos Coelho, Miguel Relvas e Paulo Portas à face A de Angola.
Quintas, vivendas, bancos, empresas etc. fazem parte do cada vez maior leque de interesses dos donos de Angola que, com o dinheiro roubado ao Povo (70% vive na miséria), olham para Portugal não como a árvore das patacas mas, isso sim, como o lugar ideal para esconder o dinheiro dessa árvore.
Ainda bem. Recorde-se aliás que, ao contrário do que quase todos os portugueses e angolanos pensavam, José Eduardo dos Santos é cidadão português. Não que isso o orgulhe, mas sempre facilita.
(Quem disse que o dono de Angola é português foi o então primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, quando afirmou que a venda de parte da Galp a José Eduardo dos Santos se deveu ao facto de não querer que a empresa fosse para mãos de estrangeiros...)
Tirando o facto de a maioria dos angolanos passar fome e de cada vez mais portugueses seguirem o mesmo caminho, é normal que os donos do poder (sobretudo económico) estendam as suas garras a outros países.
E ainda bem que consideram Portugal uma boa escolha. O reino luso a norte de Marrocos só tem a ganhar com estes investimentos. Depois de 500 anos de colonização já era tempo de ser o colonizador a ser colonizado.
Tirando o facto de a maioria dos angolanos passar fome e de cada vez mais portugueses seguirem o mesmo caminho, importa acrescentar que a economia portuguesa está a ficar nas mãos da economia de alguns angolanos e, pelo andar do que é conhecido, um dia destes ainda vamos ter outras grandes surpresas.
Tirando o facto de a maioria dos angolanos passar fome e de cada vez mais portugueses seguirem o mesmo caminho, Portugal vai assistir ao nascimento de novas estruturas empresariais, em quase todos os sectores – incluindo os da comunicação social – de modo a que seja mais fácil aos donos do poder em Angola dizer aos escravos portugueses como devem fazer as coisas para agradar ao colono angolano.
Tirando o facto de a maioria dos angolanos passar fome e de cada vez mais portugueses seguirem o mesmo caminho, fico à espera de ver mais alguns (sim, que já há muitos) sipaios portugueses fazerem a vénia ao chefe do posto angolano porque se o não fizerem sujeitam-se a “fuba podre, peixe podre, 30 angolares e porrada se refilarem”.
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: GÉMEOS SEPARADOS (QUASE) À NASCENÇA
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