Manuel Castelo Branco – Jornal de Negócios, opinião – 26.01.12
Face ao risco dos outros emitentes europeus, os investidores refugiam-se nos títulos e depósitos alemães. Ou seja, a economia e os bancos alemães obtêm fundos a taxas impensáveis num cenário de normalidade financeira europeia!
"Não conseguiremos fazer nada de bom consigo, Einstein" rematou-lhe o professor de Grego do liceu de Munique. Aos 15 anos Albert Einstein é banido, deixa a Alemanha, torna-se apátrida e parte para Itália ao encontro da família. Aos 26, já com a nacionalidade Suíça e funcionário do departamento de patentes de Berna, publica os famosos 5 artigos que, após a bênção de Max Planck, revolucionaram a Física e o pensamento universal.
A semana até nem tinha começado mal, quando Christine Lagarde foi a Berlim, não para jantar e abençoar discretamente as escolhas estratégicas pensadas pela Chanceler e pelo seu colégio de sábios, mas para dizer, pública e claramente, que a continuação da política económica e financeira imposta pela Chanceler provocaria uma crise mundial pior do que a da Grande Depressão e que atingiria todos os países, inclusive aqueles que se julgam imunes. E que era essencial alargar as atribuições e competência do Banco Central Europeu, obrigá-lo a suportar uma parte da redução da dívida grega, reforçar o Fundo de Estabilização e promover urgentemente medidas de incentivo à recuperação económica.
A Chanceler Merkel pareceu "touché" e anunciou ao Mundo que os Alemães estavam a estudar um conjunto de medidas para impulsionar e vitalizar a economia europeia e compensar o fardo depressivo da consolidação fiscal. Na Europa, distraídos ou em pânico, deixamos a nossa auto estima chegar tão baixo que já delegamos nos alemães o encargo de pensar e decidir por nós sem que isso, por agora, suscite qualquer sobressalto nacionalista.
Depois foi a Davos convidar os empresários a investir na Europa. Mas, infelizmente, com o mesmo discurso que preparou para cimeira do dia 9 de Dezembro: ou seja, repetindo que a reestruturação das finanças europeias pode demorar muito tempo, que as medidas para combater os problemas da liquidez da economia europeia só poderão ser concretizadas depois de alcançada a consolidação orçamental, que não havia necessidade de reforçar o Fundo de estabilização e que era um erro considerar que a Zona Euro era "a grande dor de cabeça da economia mundial ".
Wolfgang Munchau, o articulista do "Financial Times" que também é muito lido em Portugal, escrevia exactamente o contrário no passado dia 23: " a crise da Europa é o principal risco da economia global, neste momento."
Nos EUA, o Presidente Obama proferiu na noite da passada terça-feira, perante o Congresso, o seu discurso sobre o Estado da União que o Wall Street Journal classificou, na primeira página, de "populist Pitch". Das 13 propostas que vai apresentar ao Congresso, 6 destinam-se a proteger os EUA da concorrência estrangeira e a incentivar as empresas americanas a regressar aos EUA com investimentos e mão-de-obra. Obama, o "amigo" da Europa promete "isolacionismo" aos americanos.
Pior, se as próximas presidenciais americanas forem ganhas por qualquer um dos candidatos republicanos, neste momento a disputar o voto hispânico na Florida, o discurso isolacionista será muito mais radical. Quer o ultraconservador Gingrich, que surpreendeu na Carolina do Sul, quer o moderado Romney, que anda a explicar aos americanos porque é que paga impostos a taxas tão reduzidas, já avisaram que com eles na Presidência a Europa terá que resolver os seus problemas sozinha.
O que nos tem valido são os senhores Draghi e Bernanke.
Draghi, que não é alemão nem francês, porque embora tenha o discurso que os alemães gostam de ouvir, na prática permite que o BCE injecte indirectamente liquidez na economia europeia. A recente baixa das taxas de juro na emissão de dívida da Espanha e da Itália não aconteceu, certamente, pelo ânimo que a Chanceler Merkel incute nos mercados. Financeiros.
Bernanke porque levou o Fed ao anúncio histórico de uma política monetária visando a manutenção de baixas taxas de juro nos próximos 3 anos, mantendo o objectivo de controlar a inflação em 2%. Exactamente o contrário da malfadada herança do senhor Trichet!
Li, na edição online do Jornal de Negócios de quarta-feira, que, segundo o Instituto de Pesquisa Económica de Colónia, a Alemanha terá poupado nos últimos três anos 45 mil milhões de euros em juros. De acordo com a mesma notícia, Jorg Muller, porta-voz do Instituto que gere a dívida pública alemã, teria afirmado que em 25 de Janeiro a Alemanha emitiu dívida a 30 anos a uma taxa média de 2,6%, os mais baixos de sempre num leilão deste segmento.
Face ao risco dos outros emitentes europeus, os investidores refugiam-se nos títulos e depósitos alemães. Ou seja, a economia e os bancos alemães obtêm fundos a taxas impensáveis num cenário de normalidade financeira europeia!
Será que, tal como o Professor de Grego de Einstein, nos enganaremos rotundamente ao concluir que é impossível esperar algo de bom desta política pensada pela Chanceler Merkel?
A semana até nem tinha começado mal, quando Christine Lagarde foi a Berlim, não para jantar e abençoar discretamente as escolhas estratégicas pensadas pela Chanceler e pelo seu colégio de sábios, mas para dizer, pública e claramente, que a continuação da política económica e financeira imposta pela Chanceler provocaria uma crise mundial pior do que a da Grande Depressão e que atingiria todos os países, inclusive aqueles que se julgam imunes. E que era essencial alargar as atribuições e competência do Banco Central Europeu, obrigá-lo a suportar uma parte da redução da dívida grega, reforçar o Fundo de Estabilização e promover urgentemente medidas de incentivo à recuperação económica.
A Chanceler Merkel pareceu "touché" e anunciou ao Mundo que os Alemães estavam a estudar um conjunto de medidas para impulsionar e vitalizar a economia europeia e compensar o fardo depressivo da consolidação fiscal. Na Europa, distraídos ou em pânico, deixamos a nossa auto estima chegar tão baixo que já delegamos nos alemães o encargo de pensar e decidir por nós sem que isso, por agora, suscite qualquer sobressalto nacionalista.
Depois foi a Davos convidar os empresários a investir na Europa. Mas, infelizmente, com o mesmo discurso que preparou para cimeira do dia 9 de Dezembro: ou seja, repetindo que a reestruturação das finanças europeias pode demorar muito tempo, que as medidas para combater os problemas da liquidez da economia europeia só poderão ser concretizadas depois de alcançada a consolidação orçamental, que não havia necessidade de reforçar o Fundo de estabilização e que era um erro considerar que a Zona Euro era "a grande dor de cabeça da economia mundial ".
Wolfgang Munchau, o articulista do "Financial Times" que também é muito lido em Portugal, escrevia exactamente o contrário no passado dia 23: " a crise da Europa é o principal risco da economia global, neste momento."
Nos EUA, o Presidente Obama proferiu na noite da passada terça-feira, perante o Congresso, o seu discurso sobre o Estado da União que o Wall Street Journal classificou, na primeira página, de "populist Pitch". Das 13 propostas que vai apresentar ao Congresso, 6 destinam-se a proteger os EUA da concorrência estrangeira e a incentivar as empresas americanas a regressar aos EUA com investimentos e mão-de-obra. Obama, o "amigo" da Europa promete "isolacionismo" aos americanos.
Pior, se as próximas presidenciais americanas forem ganhas por qualquer um dos candidatos republicanos, neste momento a disputar o voto hispânico na Florida, o discurso isolacionista será muito mais radical. Quer o ultraconservador Gingrich, que surpreendeu na Carolina do Sul, quer o moderado Romney, que anda a explicar aos americanos porque é que paga impostos a taxas tão reduzidas, já avisaram que com eles na Presidência a Europa terá que resolver os seus problemas sozinha.
O que nos tem valido são os senhores Draghi e Bernanke.
Draghi, que não é alemão nem francês, porque embora tenha o discurso que os alemães gostam de ouvir, na prática permite que o BCE injecte indirectamente liquidez na economia europeia. A recente baixa das taxas de juro na emissão de dívida da Espanha e da Itália não aconteceu, certamente, pelo ânimo que a Chanceler Merkel incute nos mercados. Financeiros.
Bernanke porque levou o Fed ao anúncio histórico de uma política monetária visando a manutenção de baixas taxas de juro nos próximos 3 anos, mantendo o objectivo de controlar a inflação em 2%. Exactamente o contrário da malfadada herança do senhor Trichet!
Li, na edição online do Jornal de Negócios de quarta-feira, que, segundo o Instituto de Pesquisa Económica de Colónia, a Alemanha terá poupado nos últimos três anos 45 mil milhões de euros em juros. De acordo com a mesma notícia, Jorg Muller, porta-voz do Instituto que gere a dívida pública alemã, teria afirmado que em 25 de Janeiro a Alemanha emitiu dívida a 30 anos a uma taxa média de 2,6%, os mais baixos de sempre num leilão deste segmento.
Face ao risco dos outros emitentes europeus, os investidores refugiam-se nos títulos e depósitos alemães. Ou seja, a economia e os bancos alemães obtêm fundos a taxas impensáveis num cenário de normalidade financeira europeia!
Será que, tal como o Professor de Grego de Einstein, nos enganaremos rotundamente ao concluir que é impossível esperar algo de bom desta política pensada pela Chanceler Merkel?
* Advogado - Assina esta coluna semanalmente à sexta-feira
Sem comentários:
Enviar um comentário