Club K
Luanda - Cheguei agora a casa depois de uma jornada muito difícil de combate contra a barbárie nacional. Aparentemente, perdemos em toda a extensão. As nossas armas eram apenas a fragilidade dos nossos corpos e a vontade firme de ser cidadãos, com direitos.
Concentraram-se no Tanque de Água, no Cazenga, para daí partir para uma marcha em direcção à Praça da Independência, passando pelos Congolenses. A manifestação foi convocada e comunicada ao Governo Provincial de Luanda. O BD desde cedo manifestou o seu apoio à manifestação. Sabe-se que na véspera da manifestação um grupo de vândalos ao serviço do regime, raptou Mário Domingos, um dos organizadores e outro assaltou a casa de Casimiro Carbono, tendo ferido três pessoas, em consequência de agressões brutais e destruído todo o material e equipamento de trabalho do grupo organizador da manifestação.
Apesar disso, a determinação dos fracos fez com que a manifestação fosse reafirmada e a concentração, hoje, tenham acontecido, as 9 horas. O bando do mal já lá estava. A Polícia Nacional estava espalha pelo percurso anunciado, colocada como se estivesse emboscada. O lumpenato nacional contava pois com o apoio e a cumplicidade da Polícia Nacional que era suposto estar ali para manter a ordem pública, garantir a segurança dos manifestantes e fazer com que a Constituição da República fosse respeitada e não fosse pisoteada por um bando de mal-feitores. O que aconteceu não foi nada disto, como teria sido, num país civilizado. Os homens do mal começaram a agredir os manifestantes, de forma inusitadamente violenta, sem mais, nem menos. Traziam barras de ferro e armas de guerra.
Desferiram golpes em todas as direcções e fizeram fogo, de bala real, primeiro para o ar e, depois, em direcção aos manifestantes em fuga. Em alguns dos manifestantes foram particularmente visados e foram perseguidos. Golpe em golpe, feriram o Luaty (levou 6 pontos, na cabeça) o Francisco (cinco pontos, na cabeça, feridas nos braços)o David (ferida na cabeça, orelha parcialmente decepada, hematomas e escoriações diversas) para não falar das pequenas feridas, hematomas e escoriações de tantos outros. O Mário Domingos e Luamba foram presos, e depois soltos porque a nova orientação agora não é a fazer presos mas a de bater só, dizia um dos algozes ao seu colega, quando este ia a passar as algemas ao David.
Ainda não eram 10 horas e a situação já era de fuga generalizada dos manifestantes que se refugiaram em casas dos arredores, contando com a solidariedade dos moradores daqueles bairros. Os feridos foram progressivamente levados, pelos seus companheiros, para unidades hospitalares da cidade, onde foram tratados. Mas, os grupos de morte continuavam a perseguição aos manifestantes. Não houve condições de retomar a passeata.
Decidiu-se nova concentração já na Praça da Independência. Esta estava cercada por todos os lados pela Polícia Nacional que dispunha de unidades da PIR (Polícia de Intervenção Rápida), brigada canina, polícia montada e polícia canina. Havia também sinfos e muitos informadores espalhados pelas artérias da cidade, ao longo do percurso da manifestação e nas redondezas da Praça da Independência.
Uma parte dos manifestantes concentrou-se na rua da Liga Africana e outra, nas traseiras do Jumbo. Havia também bastantes dispersos por diversas artérias ou a serem perseguidos pelos grupos de repressão.
O grupo da rua da Liga Africana dirigiu-se para a rua do Hospital Militar e, em frente a este, estacionou, a tentar recolher informação sobre o ambiente na Praça da Independência, onde estranhamente decorria uma actividade dos escuteiros. Foi nesse momento, cerca das 14h30 que surgiu um grupo de milícias do mal e começaram a agredir o grupo, com particular apetência para o secretário-geral do Bloco Democrático (BD), Francisco Filomeno Vieira Lopes que foi então barbaramente agredido, por 4 meliantes da ditadura que o perseguiram mesmo dentro de uma cantina, onde este se refugiou, provocando-lhe uma ferida profunda na cabeça (três pontos) e um braço partido em dois pontos; um no rádio e outro no cúbito e um dedo também partido. A gravidade das fracturas é tal que vai ter que ser operado para fazer a redução das mesmas. Hoje apenas lhe colocaram umas talas. Isso vai acontecer quinta-feira próxima, depois de fazer um conjunto de exames para preparação da operação. Queriam que ele ficasse hospitalizado mas a família recusou. A sua moral é muito elevada, está bem disposto e determinado no combate, apesar das dores.
Esta acção é imputável directamente a JES que é quem alimenta a violência destes grupos que estão ao seu serviço. O país vive agora debaixo de uma ditadura que se apoia no lumpenato nacional.
O BD vai avaliar a situação, em Luanda e em Benguela, onde há três presos, e depois vai dar uma resposta política a estes actos de barbárie, reafirmando a sua determinação de continuar a resistir activamente, por meios pacíficos. O direito de manifestar está consagrado na Constituição e não vamos desistir dele.
A Luta é o caminho da Liberdade, Modernidade e Cidadania.
Sem comentários:
Enviar um comentário