sexta-feira, 23 de março de 2012

A BRUTALIDADE DA PSP E O SILÊNCIO DOS CONIVENTES



Carlos Fonseca - Aventar

Ao longo do meu percurso de vida desde a adolescência, sempre tive com a PSP uma relação de indiferença, distanciamento e de contido asco. Começou no final de tarde do dia 1 de Maio de 1962, mais precisamente. Eu e um colega de trabalho, ambos ‘teenagers’, descemos a Rua da Prata, em Lisboa, em direcção ao transporte e, de súbito, deparámo-nos com uma manifestação contra o regime salazarista, no Terreiro do Paço; a organização e a realização eram por nós ignoradas.

Sem que tivéssemos ensaiado quaisquer gestos ou brados, fomos inesperada e cobardemente agredidos por dois agentes da PSP. Pusemo-nos em fuga, um para cada lado. Todavia, o meu amigo E., soube depois, ao ser marcado por um jacto de tinta azul, lançado por uma viatura especial da PSP, acabou por ser detido e enviado para a Prisão de Caxias, cerca de 1 mês.

Com efeito, nesse dia, 1 de Maio de 1962, contraí uma espécie de virose vitalícia contra a PSP e quem a dirige. Desprezo-a sempre e, na minha vida pessoal, felizmente nunca necessitei dos seus préstimos, nem jamais tive problemas com semelhante gente, a não ser duas ou três multas por estacionamento irregular; as quais paguei, naturalmente.

Ao aperceber-me da feroz investida de ontem da PSP, na Rua Garrett, ao jeito de cavalaria selvagem, confirmei, uma vez mais, ter colocado a referida instituição na prateleira certa. A carga policial sobre jornalistas em serviço e indefesos foi a expressão mais abjecta de um atentado da própria autoridade contra a democracia.

Dos comentadores políticos, em especial muitos dos mobilizados pelo ministro Relvas, já vi e ouvi as mais estrambóticas explicações. Outros, governantes, parlamentares afectos aos partidos do governo e severos críticos da greve, foram sufocados pelo mais silencioso silêncio – ‘O Silêncio dos Coniventes’, chamemos-lhe assim.

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