Angola Press
Cidade da Praia - Meia dúzia de académicos cabo-verdianos e portugueses debatem hoje (terça-feira), na Cidade da Praia, a questão dos deportados políticos e das colónias penais em Cabo-Verde, reportou a Lusa.
Organizado pelo Centro Cultural Português (CCP) da Cidade da Praia, o debate, que também se repetirá quinta-feira no pólo do Mindelo, visa promover os estudos de historiografia portuguesa e cabo-verdiana, incrementando, assim, o diálogo entre instituições e investigadores dos dois países, disse à Agência Lusa o director do CCP.
João Neves lembrou que, este ano, se assinalam 50 anos sobre o envio do primeiro grupo de prisioneiros ligados ao nacionalismo africano, neste caso políticos angolanos, para o Campo de Concentração do Tarrafal de Santiago, reaberto em 1961, após "albergar", durante 18 anos, entre 1936 e 1954, anti - fascistas portugueses.
De 23 de Abril de 1936 a 26 de Janeiro de 1954, sob o nome de "Colónia Penal do Tarrafal", o campo recebeu 340 prisioneiros antifascistas, arbitrariamente e sem qualquer direito de defesa, tendo falecido 32, entre eles Bento Gonçalves, primeiro secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), que morreu em 1942.
Se o campo de Santiago é já considerado localmente Património Nacional, havendo um estudo em curso para o elevar a Património Mundial da Humanidade, o "outro" Tarrafal, em São Nicolau, funcionou entre 1931 e 1936, desconhecendo-se quantos antifascistas por lá passaram.
Encerrada para ser "substituída" pela colónia penal de Santiago, a prisão de São Nicolau, que funcionou no antigo seminário local, é hoje apenas um conjunto de ruínas, com o vereador local para o património, José Cabral, a "lutar" para a elevar a monumento nacional.
O colóquio, disse João Neves à Lusa, surge a par de outras iniciativas, no âmbito dos estudos sobre a fundação e funcionamento das duas "colónias penais" e da definição do estatuto patrimonial a conferir a ambas, abrindo as portas a uma reflexão sobre a história recente que o Centro quer suscitar, em parceria com agentes locais.
"Há muito que constitui uma aposta do Centro fortalecer o papel da Língua Portuguesa na produção de conhecimento e da ciência e contribuir para a consolidação de um diálogo contemporâneo entre os seus povos", disse João Neves.
O director do CCP lembrou a criação, pelo Centro, em 1995, da "Colecção de Documentos para a História de Cabo Verde", já com cinco obras editadas, e a realização de seminários sobre esta temática.
O colóquio "Deportados Políticos e Colónias Penais em Cabo-Verde" é também promovido em parceria com os dois municípios (Tarrafal de Santiago e de São Nicolau), a Universidade de Cabo-Verde (UNI-CV) e o Instituto de Investigação e Património Culturais (IIPC) de Cabo-Verde.
As comunicações estão a cargo de vários académicos com obras já publicadas sobre a questão, como Ana Cordeiro, responsável do Pólo do Mindelo do CCP, José J. Cabral, investigador e vereador da Câmara do Tarrafal de São Nicolau, e José Soares, investigador e Vereador da Câmara do Tarrafal de Santiago.
José Vicente Lopes, jornalista e investigador, Nélida Brito, docente da UNI-CV, e Vítor Barros, investigador do CEIS 20 da Universidade de Coimbra, completam o painel.
Além dos dois "campos de concentração" cabo-verdianos, o Estado Novo português criou outros na ilha das Galinhas (Guiné-Bissau), em São Nicolau, Missombo, Bié (Angola), Machava (Moçambique), Viqueque e Ataúro (Timor-Leste).
* Na foto: Os nazi-fascistas Hitler, Franco e Mussulini na parte superior, mais em baixo Salazar e seus seguidores nazi-fascistas em saudação à ideologia que manteria Portugal sob seu dominio durante quase meio século, com muitos dos opositores ao regime assassinados, degredados, enclausurados em masmorras ou em campos de concentração onde tantos perderam a vida. (PG)
Sem comentários:
Enviar um comentário