Deutsche Welle
Premiê alemã diz que bilionária operação de liquidez do BCE foi medida temporária. Presidente Dilma afirma que Brasil continuará agindo contra prejuízos causados pela desvalorização artificial das moedas.
A maneira como a União Europeia (UE) está lidando com a crise do euro e recentes medidas de proteção da indústria nacional adotadas pelo Brasil foram os principais tema do encontro entre a presidente Dilma Rousseff e a chanceler federal alemã, Angela Merkel, a julgar pela entrevista que as duas deram à imprensa em Hannover nesta terça-feira (06/03), no primeiro dia da CeBIT, maior feira de informática do mundo.
Merkel e Rousseff haviam se reunido na noite da véspera na cidade alemã, logo após a cerimônia de abertura da CeBIT. Integrantes da comitiva brasileira comentaram que o debate entre as duas líderes durou cerca de uma hora e foi em parte intenso.
A divergência de posições ficou clara na entrevista à imprensa. "Manifestei à chanceler Merkel a preocupação do Brasil com a expansão monetária que vem ocorrendo por parte dos países desenvolvidos, e que provoca desvalorização das moedas, o que consideramos bastante adverso para o comércio internacional do Brasil", declarou Dilma, acrescentando que o governo brasileiro continuará agindo para ampliar a taxa de crescimento do país.
"A presidente manifestou sua preocupação – que eu entendo – que o aumento da quantidade de dinheiro provoque uma valorização da moeda brasileira, diminuindo as exportações e elevando as importações. Essa evolução [a valorização do real] o Brasil já está observando há mais tempo, antes de a UE elevar a liquidez. Deixei claro que se trata de uma medida temporária que visa melhorar a competitividade dos países europeus", afirmou, por sua vez, Merkel.
Combate ao protecionismo
Merkel foi diplomática ao abordar o tema protecionismo, ao qual ela havia se referido na cerimônia de abertura da CeBIT sem citar diretamente o Brasil. A chanceler federal disse ter falado com a presidente brasileira sobre o assunto, e que ambas concordam que o protecionismo "não é o nosso objetivo porque não acreditamos que isso seja bom para a economia mundial". Merkel antecipou que o tema voltará a ser discutido na próxima reunião do G20, no México.
Dilma deixou claro que o Brasil manterá sua política atual, se necessário. "Diante da desvalorização das moedas de forma artificial, o Brasil tomará todas as medidas – que não firam as disposições da Organização Mundial do Comércio – para evitar que essa desvalorização artificial desindustrialize a economia brasileira."
Na semana passada, Dilma havia criticado o empréstimo a juros baixos do Banco Central Europeu, que disponibilizou 500 bilhões de euros aos bancos da zona do euro. O temor do governo brasileiro é que esse dinheiro acabe no Brasil, causando uma valorização do real.
Dilma: Angra 3 será construída
As duas líderes ainda foram questionadas sobre a garantia que a Alemanha oferece para a empresa franco-alemã responsável pela construção de Angra 3. Merkel disse que o assunto continua sendo debatido pelo governo alemão e nenhuma posição foi tomada. A presidente brasileira assegurou que a usina será construída. "O Brasil irá fazer Angra 3 até porque já gastou muito dinheiro nisso. Não temos no Brasil uma posição de demonização da energia nuclear", declarou Dilma.
A presença da chefe de Estado brasileira na Alemanha tem sido acompanhada por pequenas manifestações de ambientalistas. Nesta terça-feira, um reduzido grupo de ativistas da ONG Attac ergueu cartazes contra a usina de Angra 3, mas passou despercebido diante da multidão de jornalistas que acompanharam a visita das duas chefes de Estado à CeBIT.
Na segunda-feira à noite, um grupo de cerca de 30 ambientalistas realizou um protesto diante do centro de eventos de Hannover, pedindo a Dilma que vetasse o novo Código Florestal brasileiro, mas também ficou bem longe dos olhares das autoridades brasileiras.
Merkel e Dilma abriram oficialmente a visitação à maior feira de informática do mundo nesta terça-feira. Juntas, elas visitaram estandes de empresas brasileiras, como a Petrobras e a Embraer, e de empresas internacionais, muitas delas com presença nos dois países, como a IBM e a SAP. A visita durou cerca de duas horas e meia e atraiu dezenas de jornalistas e curiosos.
Autor: Alexandre Schossler - Revisão: Augusto Valente
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