quarta-feira, 7 de março de 2012

POLÍTICA PERVERSA




Romeu Prisco, São Paulo – Direto da Redação

São Paulo (SP) - Sempre tive dificuldade em definir, assim como em aceitar uma definição sobre "política". Arte e ciência ao mesmo tempo. Arte de fazer o bem e o mal, ciência da construção e da destruição. Fundindo-se ambas, como se fosse uma vertente de "MMA", praticada no "UFC", nela não há restrições, valendo tudo, inclusive golpe baixo, cotovelada na nuca, cusparada no rosto e arremesso de pó nos olhos do adversário.

Quem assistiu às reportagens da transmissão de cargo no Ministério da Pesca e Aqüicultura, realizada em 29.02.2012, além de notar a cena quase inédita em tais ocasiões, não deve ter deixado de emocionar-se com o início de choro da Presidente Dilma, sincero e espontâneo, ao despedir-se do Ministro Luiz Sergio, que saía do cargo, para dar lugar ao Senador Marcelo Crivella.

O chcoro de Dilma, mais que um comovido agradecimento a quem considerou ter sido fiel amigo e colaborador, teve uma dose de remorso, como se partisse de uma mãe obrigada a castigar o filho, sabidamente inocente, apenas para ser agradável ao padrasto. O novo ocupante do cargo, Senador Marcelo Crivella, não se fez de rogado. Confessou sua inexperiência para a pasta, mas, disse acreditar na providência divina para suprir suas deficiências !

Se Marcelo Crivella não sabe sequer colocar minhoca no anzol, de certa forma já exerceu atividade relacionada à "aqüicultura". No início da sua vitoriosa carreira "episcopal", decisiva para sua condução ao Senado Federal, o "Bispo" apresentava-se diariamente no complexo televisivo IURD/Record, no horário das 18:00 horas. Com um livro aberto (supostamente a Bíblia) na palma da mão esquerda, ao lado de um copo d`água, invocava a ajuda dos céus para o bem-estar dos telespectadores, que deveriam igualmente cercar-se de um copo d`água, para ingerir o conteúdo no final das preces, a fim de alcançarem purificação física e espiritual. Assim o Senador ora Ministro começou sua parceria com Deus.

Quem se dispuser a ocupar um cargo de nível médio para cima, nos setores público e privado, deve apresentar diploma, certificados de cursos de especialização, estágios, submeter-se a entrevistas, provas, testes e concursos. Na política, nada disso é necessário. Sem ser um "expert" em qualquer área de atividade, o político pode chegar facilmente aos mais altos cargos, o que, no caso, demonstra a inutilidade da maioria dos ministérios, criados apenas para aumentar o tamanho do bolo e possibilitar a sua divisão entre os inúmeros gulosos.

A perversidade política praticada pela Presidente Dilma tem nome: chama-se "sustentabilidade". Seu Governo amplia a base de apoio no Congresso, atraindo os parlamentares evangélicos, abre as portas para o PT, na costura de provável aliança com o PRB e seu candidato na disputa pela Prefeitura da cidade de São Paulo e ganha mais espaço junto ao Grupo IURD/Record. Nessa prática, direita, esquerda e centro são absolutamente iguais.

Depois da cerimônia de transmissão de cargo no Ministério da Pesca e Aqüicultura, Dilma Rousseff efetuou longa visita ao seu patrono e ex-Presidente, a quem deve ter dito: "Lula, não agüento mais essa gente ! É uma no cravo e outra na ferradura. Enquanto entra Ministro e sai Ministro, eu não tenho mais sossego!".

"Calma, Dilma", deve ter respondido Lula, acrescentando: "as coisas são assim mesmo. Comigo não foi diferente. Aproximei-me até do Collor e aceitei o apoio do partido do Maluf. Andei de braços com o Sarney e só gozei as férias na companhia dos milicos da Marinha. Nunca mais fui o mesmo, como o líder sindical de quem Mario Amato tanto se queixava, por jamais ter aceito e comparecido a uma solenidade da FIESP, então por ele presidida. Volte pra Brasília, companheira, e faça como eu: finja ignorar as disputas nos bastidores governamentais".

Por sorte, Dilma viajou para Hannover, Alemanha, onde se encontra com a chanceler daquele país, Ângela Merkel, o que poderá ajudá-la a desviar o foco dos motivos que a levaram ao choro presidencial. Sem ilusões, porque, no seu retorno ao Brasil, deverá enfrentar novamente as ambições desmedidas dos partidos que desejam reconquistar ministérios.

* Paulistano, advogado e ator, dedica-se, atualmente, à arte de escrever artigos, crônicas, contos e poemas, publicados em espaços literários e jornalísticos, impressos e virtuais. Define-se como um sonhador, que ainda acredita nos seus sonhos.

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