domingo, 11 de março de 2012

Fotojornalista João Silva agraciado com a Ordem da Liberdade




O repórter fotográfico português residente na África do Sul João Silva, que perdeu duas pernas no Afeganistão em Outubro de 2010, vai ser distinguido com a Ordem da Liberdade.

João Silva, um dos mais consagrados fotojornalistas de conflitos do mundo, nasceu em Lisboa e reside desde muito novo na África do Sul, onde o seu trabalho começou a ganhar destaque no início da década de 90.

Foi nessa altura, em pleno processo de transição política da África do Sul, que as "townships" em redor da grande metrópole de Joanesburgo foram palco de uma guerra aberta, com recursos a todo o tipo de armas, entre apoiantes do Congresso Nacional Africano (ANC) e o Partido Inkatha da Liberdade (IFP).

Quando as fotografias de João Silva dos trágicos massacres e trocas de tiros entre os dois movimentos, com as forças de segurança em risco de perderem o controlo da situação, começaram a ser publicadas na Imprensa sul-africana, a carreira deste jornalista conheceu uma ascensão meteórica.

De um modesto jornal na altura publicado no sul de Joanesburgo, o "Alberton Record", transferiu-se rapidamente para o "The Star" e daquele diário de grande circulação para agências internacionais como a Reuters e a Associated Press, e, mais tarde, para o "The New York Times".

Foi ao serviço do "The New York Times" - jornal que o contratou como correspondente permanente para África - que João Silva perdeu as pernas, ao pisar uma mina durante uma das muitas missões de serviço no Afeganistão, numa área, próxima de Arghandab, que os militares americanos, com os quais estava integrado, já tinham desminado e consideravam segura.

Entre 23 de Outubro de 2010, quando foi ferido e de imediato transportado pelo exército americano para um hospital na Alemanha e depois para o centro médico Walter Reed, em Washington, em dezembro de 2010, Silva foi sujeito a mais de 3 dezenas de operações destinadas a reparar os danos provocados pela explosão da mina e a horas sem conta de fisioterapia e adaptação às próteses que lhe permitem hoje andar de novo.

O fotógrafo, que se afirma "cem por cento português mas com a África do Sul sempre no coração", voltou a casa, em Joanesburgo, e ao convívio permanente com a mulher, os dois filhos e os pais em dezembro de 2011, depois de quase dois anos de tratamentos e de momentos emocionantes, como os que teve com a primeira dama norte-americana Michelle Obama, que o visitou no hospital militar, e com o Presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, no gabinete oval da Casa Branca.

Em Joanesburgo, em fevereiro, João Silva voltou a ser submetido a uma cirurgia de emergência para debelar uma infeção abdominal que provocara um abcesso, resultante ainda dos ferimentos sofridos no Afeganistão.

Em abril o fotógrafo de guerra, que se afirma preparado para regressar ao trabalho, embora condicionado em termos de mobilidade, voltará a Washington para ser submetido a novos tratamentos e sessões de fisioterapia.

A Ordem da Liberdade será conferida a João Silva pelo embaixador João Ramos Pinto, na quinta-feira, dia 15, na Embaixada de Portugal em Pretória, durante uma receção que tinha como objetivo original a despedida do representante diplomático de Portugal da África do Sul.

Segundo a página oficial das ordens honoríficas portuguesas, "a Ordem da Liberdade destina-se a distinguir serviços relevantes prestados em defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e à causa da liberdade".

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