Jaime Nogueira Pinto – Sol, opinião
A Guiné-Bissau é um dos países com pior imagem no exterior. Aparece, nas raras referências que lhe são consagradas, como um Estado com uma vida política instável, sujeito às agitações pretorianas, ao crime organizado, à ameaça de golpe militar permanente.
Para esta imagem contribuíram vidas de violência passadas, ilustradas pelas mortes de Ansumane Mané e dos Chefes do Estado-Maior Veríssimo Seabra e Tagme NaWaié, de vários políticos importantes e do próprio Presidente Nino Vieira. E também, claro, o envolvimento dos responsáveis políticos e militares no crime organizado, no tráfico de droga vinda das Américas e encaminhada para a Europa. Já pelo menos em dois thrillers, um de Frederick Forsyth (Cobra) e outro de Gérard Villiers (Féroce Guinée) esta imagem é glosada ficcionalmente.
Tudo isto aconteceu. Mas a verdade é que – isto já não é dito – que nos últimos anos, graças ao governo de Carlos Gomes Jr., as coisas começaram a mudar. Apesar dos riscos, das ameaças e dos golpes – o primeiro-ministro já enfrentou vários –, o Governo de Bissau alterou, profundamente, a situação do país. E para melhor.
PRIMEIRO foi o saneamento económico e financeiro. Sendo um dos principais empresários guineenses, o primeiro-ministro trouxe para a governação uma preocupação de boas contas e de responsabilidade do Estado como pessoa de bem: os salários dos funcionários públicos passaram a ser pagos a tempo e horas, os fornecedores também e as organizações internacionais encontraram interlocutores responsáveis.
Depois, Carlos Gosmes Jr. enfrentou o grave problema da reforma das Forças Armadas. No fundo, trata-se de garantir uma saída decente e uma vida possível para o pessoal militar, do qual 75% tem hoje mais de 50 anos. Para resolver este difícil problema, a Guiné encontrou o apoio de Angola – que, quer financeiramente, quer com a assistência da missão militar propriamente dita, tem contribuído decisivamente para manter a estabilidade do país.
Nas últimas intentonas – a de 1 de Abril de 2010 e a de 26 de Dezembro de 2011 – foi decisivo o sangue frio e a coragem do primeiro-ministro. Que da primeira vez teve o povo na rua a defendê-lo contra os golpistas. Na segunda, teve o apoio do Exército contra os sublevados.
COM a morte do Presidente Malam Bacai Sanhá, abriu-se um novo ciclo: na necessidade de eleger rapidamente um Presidente, evitando um período longo de vacatura, Carlos Gomes Jr. foi designado pelo PAIGC, o partido maioritário, para candidato às eleições de 18 de Março. Com esta candidatura pretende garantir na chefia do Estado o plano de reforma política, económica e militar que tem vindo a realizar. Isso será tanto mais exequível se o PAIGC vencer, depois, as legislativas e encontrar um primeiro-ministro à altura.
Neste momento, além de Carlos Gomes Jr., há mais catorze candidatos. Entre os conhecidos figuram o ex-Presidente interino Henrique Rosa, personalidade a todos os títulos respeitável e respeitada, e o retórico populista Kumba Yalá, que já foi Presidente e que procurará outra vez jogar no descontentamento dos Balantas.
Mas espera-se que Carlos Gomes venha a ganhar, e logo à primeira volta. A CPLP (que ainda recentemente na União Africana, em Adis-Abeba, foi decisiva com os seus votos na eleição do Secretário-Geral da Organização, para suspender a reeleição de Jean Ping face à sul-africana Zuma) não pode permitir-se ter entre os seus membros um Estado-Falhado. Que foi o que a Guiné-Bissau correu o risco de ser.
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