A Verdade, editorial
África mudou. Parece-nos que este já não é o tempo de pessoas ou partidos lutarem contra a vontade popular. Os exemplos da Tunísia, do Egipto, da Líbia e mais recentemente do Senegal – de forma pacífica – mostram que as pessoas querem tomar as rédeas do seu destino.
Acima de tudo, o que estas não querem é perpetuar no poder a arrogância dos dirigentes políticos que julgam que um país é propriedade de um grupo de sacrificados combatentes pela liberdade de uma nação.
O nosso tempo já não se compadece com essa cegueira partidária. O compromisso das pessoas, mais do que com a gratidão que se deve ao libertador, é com o futuro. Ou seja, as pessoas que decidem quem ganha eleições nos dias de hoje há muito que perderam a euforia diante das novelas do primeiro tiro e derivados.
Actualmente, as pessoas querem mais do que histórias viradas para o passado. O conto da epopeia libertária já não arregala os olhos de ninguém em qualquer canto de África.
A mancha da corrupção que abraça, de forma eloquente, muitos dirigentes políticos, em muitos países africanos, colocou grande parte dos honrosos filhos da mãe África no lugar de cancros por extirpar. Aliás, só assim é que é possível falar de liberdade.
O que é estranho. Falar de liberdade hoje quando a terra está livre há mais de 40 anos. Faz todo o sentido falar de liberdade porque ela nunca existiu. Ou seja, nunca tivemos a liberdade de dizer que não queremos ser governados por Mugabe. É dessa liberdade que o povo precisa.
Os senegaleses, egípcios, tunisinos e líbios alcançaram esta liberdade. A liberdade de escolher quem Governa. A liberdade de cometer erros nessa escolha e até de eleger um tirano. Ou seja, o equívoco é uma manifestação de liberdade.
Não se trata, portanto, de abandonar a pobreza ou de desfrutar do eterno banquete dos libertadores, mas de garantir a possibilidade de trocar um libertador por um sapateiro se as decisões do primeiro ferirem grosseiramente os anseios populares.
Essas mudanças no poder, em alguns países, marcam o fim de uma era na política africana, mas, ao mesmo tempo, deixam o caminho aberto a uma geração que deve agora assumir-se, não como “herdeira” de Mugabe, Khadafi e Eduardo dos Santos, mas como caminhantes na mesma estrada que a libertação da terra conferiu aos africanos.
Portanto, é responsabilidade dos jovens extirpar os Zedús e não deixar que os ventos da mudança terminem, abruptamente, num beco sem saída.
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