José Sousa Dias, da Agência Lusa
Cidade da Praia, 16 mar (Lusa) - Paz, estabilidade e tranquilidade são as palavras mais utilizadas pelos cidadãos guineenses residentes em Cabo Verde quando a Agência Lusa os questiona sobre o que mais desejam para o pós eleições presidenciais de domingo na Guiné-Bissau.
Tendo subjacente o "sonho diário" de um dia haver condições para voltar ao país de origem, a constante conflitualidade político-militar impede-os, porém, de regressar, ao mesmo tempo que alimentam a esperança de que, um dia, "haverá um Governo que trabalhe para o país".
Fartos de ouvir só notícias más sobre a Guiné-Bissau, alguns jovens ouvidos pela Lusa chegam mesmo a irritar-se quando se fala de conflitos, guerras, militares e políticos. E Iaia Dembo, 24 anos, natural de Gabu (leste), é um deles, mais um dos 8.000 a 10.000 guineenses que se estima residirem em Cabo Verde.
"Quero que as eleições decorram com tranquilidade, sem problemas. Não quero ouvir mais más notícias sobre a Guiné-Bissau", responde, irritado, quando se lhe pergunta o que mais deseja para o seu país.
Antes, o funcionário de um supermercado, chegado à Cidade da Praia em 2009, mostra-se ainda menos tolerante quanto aos derrotados, "habituados a não aceitar os resultados", ao contrário do que acontece em Cabo Verde.
A Guiné-Bissau realiza eleições presidenciais na sequência da morte do Presidente Malam Bacai Sanhá, em janeiro.
"Um guineense em Cabo Verde deseja que a eleição corra normalmente, que haja paz e tranquilidade. É tudo o que quer. Os políticos que perdem as eleições que aceitem os resultados e os que ganham que governem. Não queremos ver mais problemas. Deixem as eleições decorrer normalmente. Ninguém quer mais guerra", frisa.
No mesmo sentido, Simão Nancassa, 39 anos, há 10 em Cabo Verde, natural de Bissau e professor de Físico-Química, é crítico do "sistema guineense" e, embora acredite tratar-se de "mais uma fase transitória", crê também na "atenção" dos eleitores.
"Falamos com os nossos conterrâneos para lhes dizer que votem nos que podem de facto levar o país para a frente. Há políticos que só pensam neles e não no futuro do país. A nossa esperança, na diáspora, é que um dia encontraremos um Governo que trabalhe para o país e que crie condições para o regresso dos emigrantes", sustenta.
"Depois, terá de haver uma política de boa governação, que passa pela entrada de jovens quadros na administração pública", acrescenta, apoiado por outro professor guineense, Pedro Mendonça, 37 anos, natural de Có (região de Cacheu), também há uma década em Cabo Verde.
Professor de Educação para a Cidadania, Pedro Mendonça lamenta o número exagerado de candidatos, nove, sublinha que a Guiné-Bissau tem "todas as condições para dar a volta" e revela o seu sonho, o mesmo de qualquer emigrante.
"Eu sonho todos os dias que há condições para voltar à Guiné-Bissau. Quando houver paz e estabilidade, serei um dos primeiros", diz, ideia que não está nos planos mais próximos de António Tavares, jornalista, guineense natural da Cidade da Praia, onde nasceu "por acaso" há 53 anos quando a mãe passou férias em Cabo Verde.
Viveu exatamente a primeira metade da sua vida em Bissau e está na Cidade da Praia há 27 anos. Admite que a Guiné-Bissau ainda necessita de percorrer um longo caminho até que decida regressar ao país.
António Tavares responsabiliza militares e políticos pelos sucessivos "problemas", exige aos primeiros que se mantenham nas casernas e aos segundos que governem bem o país, pois a Guiné-Bissau "tem de ter condições para acolher todos os seus filhos" e "tem de acabar com o martírio" de um povo.
"O país precisa de paz e estabilidade para encontrar o seu caminho. Em termos de recursos humanos e naturais, a Guiné-Bissau é um país rico e pode desenvolver-se em pouco tempo. O problema é chegar-se realmente à paz e a um consenso e diálogo constantes entre os vários atores políticos guineenses", conclui.
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